domingo, 11 de janeiro de 2009

A DESCOBERTA DO OUTRO

Autor: Gustavo Corção
Editora: Agir
Assunto: Contos e crônicas (Literatura brasileira)
Edição: 1ª
Ano: 2001
Páginas: 199

Sinopse: "A Descoberta do Outro", publicada em 1944, é o primeiro livro de Gustavo Corção, no qual este narra a sua conversão ao Catolicismo.
Trata-se de obra comovente pela sinceridade, com algumas das mais deliciosas páginas da língua portuguesa que lembram, por vezes, o espírito e a graça de Machado de Assis, um Machado mais lírico e mais humano, cuja visão das coisas e do mundo fosse ampliada pela vivência que o autor atingiu. É uma obra com ímpeto de vida, estrutura de carne e bondade de expressão. Nela, Gustavo Corção viveu cada palavra, cada pensamento, antes de lhe dar consistência e vida material. É o autor em busca, na consciência da transitoriedade do homem, do sentido da angústia. A sua verdade era a Verdade. Necessitava da comunicação direta e imediata que só no jornal, para ele, se processava em plenitude.
Em "A Descoberta do Outro", Corção demonstra já em toda a plenitude o seu vigor literário e doutrinário, a mestria inconfundível que o fazia mesclar o melhor português com a mais magnífica das doutrinas. É certo que, aqui e acolá, ao longo da sua narrativa, ainda se notam algumas arestas modernistas que posteriormente seriam completamente limadas, ou seja, o elogio incondicional de Jacques Maritain ou a admiração manifestada pelo intelectual católico brasileiro, de tendências progressistas, Alceu Amoroso Lima: no que tange ao primeiro, Corção viria mais tarde a distinguir o bom Maritain - o de "Antimoderne", dos tempos de militância monárquica nacionalista na Action Française, de Charles Maurras - do mau Maritain, modernista assumido a partir de 1932, influenciado por Emmanuel Mounier, e autor de "Cristianismo e Democracia" e "Humanismo Integral"; no que concerne ao segundo, romperia com ele na altura do Concílio Vaticano II, abandonando o Centro Dom Vital para fundar o seu querido Centro Permanência. A seguir alguns trechos nos quais Gustavo Corção relata as impressões que lhe deixou o momento da recepção do escapulário de oblato beneditino, no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro:

"O rito cristão é realmente um teatro só para crianças; é preciso ser como as crianças para aceitar o sentido profundo das cenas muito simples e das palavras decoradas. A palavra decorada do ritual quer dizer palavra do coração, palavra gravada, guardada para ser depois pronunciada no diálogo da boa vontade. E é por isso que os postulantes, naquele dia, apresentaram-se diante do abade muito contentes, carregando palavras em seus corações e já sabendo de antemão as outras que ouviriam.

A cerimónia começa dizendo o padre mestre ao abade que ali estão alguns seculares que vieram bater à porta do mosteiro para pedir alguma coisa. Pergunta então o abade aos hóspedes o que pedem eles, e todos, com uma só boca, recitam o pedido de fraternidade na regra beneditina. Depois desses preliminares e já vestidos com o escapulário, tem lugar uma cena particularmente importante.

O leitor há de estar lembrado que em outros tempos andei em rodas marxistas e nietzschistas, hesitando entre a sociedade sem classes e a grande raça caucásica, não sabendo se deveria levantar a mão direita dura como um dardo, ou a esquerda com o punho fechado em sinal de revolta. Pois agora, diante do abade, que representava outro Pai, eu já não tive que hesitar porque levantei as duas mãos. E todos nós, os doze oblatos novos, levantamos as mãos como orantes antigas, cantando as palavras decoradas: -
Suscipe me, Domine, secuundum eloquium tuum

E aí está, leitor amigo, como acaba esta história, um pouco no gosto das novelas policiais, estando eu desarmado, inteiramente entregue, "hands up", como um prisioneiro de Deus".

Sobre o autor:
GUSTAVO CORÇAO. Nasceu em dezembro de 1898, no Rio de Janeiro. Cursou Engenharia na antiga Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Trabalhou em Astronomia de Campo, em Mato Grosso; em serviço de Energia Elétrica, no Rio de Janeiro e Espírito Santo; em Radiocomunicações, de 1925 a 1937, e depois em atividades industriais, até 1948. Casou-se em 1924, e, em segundas núpcias, em 1937. Converteu-se à Igreja Católica em 1939. Publicou seu primeiro livro 'A descoberta do outro', em 1944; em 1945, 'Três alqueires e uma vaca'; em 1951, 'Lições de Abismo', e, em 1952, 'Fronteiras da Técnica'; em 1956, 'Dez Anos' (Crônicas) e 'O Desconcerto do Mundo', em 1965. Foi colaborador semanal de 'O Estado de São Paulo', do 'Diário de Notícias', do Rio de Janeiro, e do 'Correio do Povo', de Porto Alegre. Faleceu em 6 de julho de 1978.

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