sábado, 23 de novembro de 2019

GRANDE SERTÃO: VEREDAS


GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Autor: João Guimarães Rosa
Assunto: Romance
Editora: Nova Fronteira
Edição: 21ª
Ano: 2015 (1ª Ed. em 1956)
Páginas: 496

Sinopse: O romance Grande Sertão: Veredas é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.

Personagens:
-        Riobaldo – Tatarana – Urutu Branco
-        Reinaldo (Diadorim)
-        Joca Ramiro (jagunço líder – 1ª guerra)
-        Hermógenes (jagunço líder – 2ª guerra)
-        Ricardão (líder dos jagunços ao lado de Hermógenes)
-        Medeiro Vaz (simboliza a nobreza, o Império e o próprio Imperador)
-        Sô Candelário
-        Titão Passos
-        João Goanhá
-        Zé Bebelo (soldado do governo. Simboliza Exú – 7 punhais)
-        Gavião-Cujo (jagunço)
-        Otacília
-        Davidão (simboliza Davi)
-        Faustino (simboliza o próprio Fausto)
-        Migri (mãe de Riobaldo. Prostituta)

Resumo da narrativa: Riobaldo, fazendeiro do estado de Minas Gerais, conta sua vida de jagunço a um ouvinte não identificado. Trata-se de um monólogo onde a fala do outro interlocutor é apenas sugerida. São histórias de disputas, vinganças, longas viagens, amores e mortes vistas e vividas pelo ex-jagunço nos vários anos que este andou por Minas, Goiás e sul da Bahia. Toda a narração é intercalada por vários momentos de reflexão sobre as coisas e os acontecimentos do sertão. O assunto parece sempre girar na existência ou inexistência do diabo, já que Riobaldo parece Ter vendido sua alma numa certa ocasião... Riobaldo era um dos jagunços que percorriam o sertão abrindo o caminho à bala. Entre seus companheiros, havia um que muito lhe agradava: Reinaldo, ou Diadorim.
Conhecera-o quando menino e mantinha com ele uma relação que muitas vezes passava de uma simples amizade. O jagunço, que admirava e cultivava um terno laço com Diadorim, perturbava-se com toda aquela relação, mas a alimentava com uma pureza que ia contra toda a rudeza do sertão, beirando inclusive o amor e os ciúmes. Nas longas tramas e aventuras dos jagunços, Riobaldo conhece um dos seus heróis: o chefe Joca Ramiro, verdadeiro mito entre aqueles homens, que logo começa a mostrar certa confiança por ele. Isso dura pouco tempo, já que Riobaldo logo perde seu líder: Joca Ramiro acabou sendo traído e assassinado por um dos seus companheiros chamado Hermógenes. Riobaldo jura vingança e persegue Hermógenes e seus homens por toda aquela árida região.
Como o medo da morte e uma curiosidade sobre a existência ou não do diabo toma cada vez mais conta da alma de Riobaldo, evidencia-se um pacto entre o jagunço e o príncipe das trevas, apesar de não explícito. Acontecido ou não o tal pacto, o fato é que Riobaldo começa a mudar à medida que o combate final contra Hermógenes se aproxima. E a crescente raiva do jagunço só é contida por uma relação mais estreita com Diadorim, que já mostra marcas de amor completo. Segue-se, então, o encontro com Hermógenes e seus homens, e a vingança é enfim saboreada por Riobaldo. Vingança, aliás, que se tornou amarga: Hermógenes mata, durante o combate, o grande amigo Diadorim... A obra reserva, nas últimas páginas, uma surpreendente revelação: na hora de lavar o corpo de Diadorim, Riobaldo percebe que o velho amigo de aventuras que sempre lhe cativou de uma forma especial era, na verdade, uma mulher.

ENREDO
Duas grandes guerras são narradas em Grande Sertão: Veredas.
A primeira é protagonizada pelos líderes Joca Ramiro, Sô Candelário, Titão Passos, João Goanhá, Ricardão e Hermógenes contra Zé Bebelo e os soldados do governo. Apanhado, Zé Bebelo é julgado pelo tribunal composto dos líderes citados, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo. Hermógenes e Ricardão são favoráveis à pena capital. No fim do julgamento, porém, Joca Ramiro sentencia a soltura de Zé Bebelo, sob a condição de que ele vá para Goiás e não volte até segunda ordem. Nesse ponto, a primeira guerra chega ao fim.
A paz, então, estabelece-se em todo o sertão. Até que, depois de longo período de bonança, aparece um jagunço chamado Gavião-Cujo, desesperado, e anuncia: “Mataram Joca Ramiro!...”
Começa, então, a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, assassinos de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, Zé Bebelo – que retorna para vingar a morte de seu salvador, chefiando o bando de Riobaldo e Diadorim – com os demais chefes. A segunda guerra termina no fim do romance, na batalha final no Paredão, na qual morre Hermógenes.

TEMPO
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte – introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte – inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joca Ramiro.
3ª parte – a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte – conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte – epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito (O nome Otacília é composto de 8 letras que simboliza o infinito).
ESPAÇO
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
ALGUNS ESPAÇOS DO SERTÃO
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia – local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos – espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão – local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e conseqüente retirada.
Local da narração – fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão – espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas – local do possível pacto de Riobaldo.

Resenha das personagens do livro:
RIOBALDO – é o personagem que narra a própria vida a um doutor que nunca aparece, desde a juventude, antes de virar jagunço. Nessa época, estudou e aprendeu a ler e a escrever, tornando-se professor de Zé Bebelo, seu futuro chefe. Quando entra para a vida de jagunço, a personagem é batizada de Tatarana, que significa “lagarta de fogo”, apelido dado em homenagem à sua exímia pontaria. Em um dado momento da narrativa, depois de um suposto pacto com o Diabo, Riobaldo-Ta tarana toma a liderança do grupo, sendo rebatizado de “Urutu Branco”.
AS TRÊS FACES AMOROSAS DE RIOBALDO:
Nhorinhá: prostituta, representa o amor físico, o “amor-sexo”, o prazer canal. O seu caráter profano e sensual atrai Riobaldo, mas somente no aspecto carnal.
Otacília: uma das mulheres amadas por Riobaldo personifica a pureza, a esposa que espera e reza, o “amor sentimento”. Contrária a Nhorinhá, Riobaldo destina a ela o seu amor verdadeiro (sentimental). É constantemente evocada pelo narrador quando este se encontrava desolado e saudoso durante sua vida de jagunço. Recebe a pedra de topázio de "seô Habão", simbolizando o noivado.
Diadorim: representa o amor impossível, proibido. É ela que causa grande conflito em Riobaldo, sendo objeto de desejo e repulsa (por conta de sua pseudo identidade).

DIADORIM – Personagem-chave do romance é tida como homem durante quase toda a narrativa. Apenas nas últimas páginas o narrador conta que, depois de sua morte, quando o corpo é despido e lavado, descobre-se que se tratava de uma mulher. Diadorim havia conhecido Riobaldo, quando ainda eram jovens, em uma travessia do rio São Francisco. Nessa ocasião, ela já vivia disfarçada de menino e dizia chamar-se Reinaldo escondendo sua identidade real (Maria Deodorina). O nome Reinaldo era secreto no meio da jagunçagem, utilizado apenas nos momentos em que ela e Riobaldo estavam a sós. Quando Riobaldo reencontra Reinaldo/Diadorim, tempos depois, passa para o bando de Joca Ramiro, motivado pela presença de Reinaldo. Riobaldo apaixona-se profundamente por Diadorim, o que provoca nele vários sentimentos contraditórios e de repressão, já que a paixão homossexual era uma relação impossível de ser aceita no meio jagunço.

JOCA RAMIRO – grande chefe político e guerreiro é o maior chefe dos jagunços, lidera a primeira guerra narrada no romance, e seu assassinato origina a segunda guerra. Em oposição a Hermógenes, Joca Ramiro é o grande guerreiro, o líder sábio, justo, corajoso, sendo bastante admirado. Aparece como encarnação das virtudes.

ZÉ BEBELO – personagem intrigante. Dono de uma oratória verborrágica, tinha ambições políticas, mas, segundo o narrador, começara tarde essa busca pelo poder. Zé Bebelo é extremamente orgulhoso e gaba-se de nunca se ter deixado comandar por ninguém. Conhece Riobaldo quando esse ainda não era jagunço e aprende com ele um pouco de português. Quando Riobaldo lhe toma a chefia, Zé Bebelo reconhece a força do oponente e decide deixar o grupo. Riobaldo tem uma relação diferenciada com Zé Bebelo, conservando sempre certo apreço por esse personagem.

HERMÓGENES – para Riobaldo, Hermógenes era o “Cão”, o “Demo”. É o personagem mais odiado pelo narrador. Na primeira guerra, quando estão lutando do mesmo lado, Riobaldo já revela seu ódio por ele; na segunda guerra, quando Hermógenes e Ricardão assassinam Joca Ramiro, esse sentimento se acentua. No romance, Hermógenes é a personificação do mal.

RICARDÃO: – enquanto Zé Bebelo guerreava por ambições políticas e Hermógenes era motivado por sua natureza assassina, Ricardão tinha interesse apenas na questão financeira. Fazendeiro rico, guerreava para depois poder enriquecer em paz.

MEDEIRO VAZ: chefe de jagunços que se une aos homens de Joca Ramiro para combater contra Hermógenes e Ricardão por conta da morte do grande chefe.
SÔ CANDELÁRIO: outro chefe que ajuda na vingança. Possuía grande temor de contrair lepra.
QUELEMÉM DE GÓIS: compadre e confidente de Riobaldo, que o ajuda em suas dúvidas e inquietações sobre o Homem e o mundo.