GRANDE
SERTÃO: VEREDAS
Autor: João
Guimarães Rosa
Assunto: Romance
Editora: Nova
Fronteira
Edição: 21ª
Ano: 2015 (1ª Ed.
em 1956)
Páginas: 496
Sinopse:
O romance Grande Sertão:
Veredas é considerado uma das mais significativas obras da literatura
brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão e
pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do
experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática
regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e
inovadora.
Personagens:
-
Riobaldo
– Tatarana – Urutu Branco
-
Reinaldo
(Diadorim)
-
Joca
Ramiro (jagunço líder – 1ª guerra)
-
Hermógenes
(jagunço líder – 2ª guerra)
-
Ricardão
(líder dos jagunços ao lado de Hermógenes)
-
Medeiro
Vaz (simboliza a nobreza, o Império e o próprio Imperador)
-
Sô
Candelário
-
Titão
Passos
-
João
Goanhá
-
Zé
Bebelo (soldado do governo. Simboliza Exú – 7 punhais)
-
Gavião-Cujo
(jagunço)
-
Otacília
-
Davidão
(simboliza Davi)
-
Faustino
(simboliza o próprio Fausto)
-
Migri
(mãe de Riobaldo. Prostituta)
Resumo da narrativa: Riobaldo, fazendeiro do estado de Minas
Gerais, conta sua vida de jagunço a um ouvinte não identificado. Trata-se de um
monólogo onde a fala do outro interlocutor é apenas sugerida. São histórias de
disputas, vinganças, longas viagens, amores e mortes vistas e vividas pelo
ex-jagunço nos vários anos que este andou por Minas, Goiás e sul da Bahia. Toda
a narração é intercalada por vários momentos de reflexão sobre as coisas e os
acontecimentos do sertão. O assunto parece sempre girar na existência ou
inexistência do diabo, já que Riobaldo parece Ter vendido sua alma numa certa
ocasião... Riobaldo era um dos jagunços que percorriam o sertão abrindo o
caminho à bala. Entre seus companheiros, havia um que muito lhe agradava:
Reinaldo, ou Diadorim.
Conhecera-o quando
menino e mantinha com ele uma relação que muitas vezes passava de uma simples
amizade. O jagunço, que admirava e cultivava um terno laço com Diadorim,
perturbava-se com toda aquela relação, mas a alimentava com uma pureza que ia
contra toda a rudeza do sertão, beirando inclusive o amor e os ciúmes. Nas
longas tramas e aventuras dos jagunços, Riobaldo conhece um dos seus heróis: o
chefe Joca Ramiro, verdadeiro mito entre aqueles homens, que logo começa a
mostrar certa confiança por ele. Isso dura pouco tempo, já que Riobaldo logo
perde seu líder: Joca Ramiro acabou sendo traído e assassinado por um dos seus
companheiros chamado Hermógenes. Riobaldo jura vingança e persegue Hermógenes e
seus homens por toda aquela árida região.
Como o medo da morte e
uma curiosidade sobre a existência ou não do diabo toma cada vez mais conta da
alma de Riobaldo, evidencia-se um pacto entre o jagunço e o príncipe das
trevas, apesar de não explícito. Acontecido ou não o tal pacto, o fato é que
Riobaldo começa a mudar à medida que o combate final contra Hermógenes se
aproxima. E a crescente raiva do jagunço só é contida por uma relação mais
estreita com Diadorim, que já mostra marcas de amor completo. Segue-se, então,
o encontro com Hermógenes e seus homens, e a vingança é enfim saboreada por
Riobaldo. Vingança, aliás, que se tornou amarga: Hermógenes mata, durante o
combate, o grande amigo Diadorim... A obra reserva, nas últimas páginas, uma
surpreendente revelação: na hora de lavar o corpo de Diadorim, Riobaldo percebe
que o velho amigo de aventuras que sempre lhe cativou de uma forma especial
era, na verdade, uma mulher.
ENREDO
Duas grandes guerras são narradas em Grande
Sertão: Veredas.
A primeira é protagonizada pelos líderes
Joca Ramiro, Sô Candelário, Titão Passos, João Goanhá, Ricardão e Hermógenes
contra Zé Bebelo e os soldados do governo. Apanhado, Zé Bebelo é julgado pelo
tribunal composto dos líderes citados, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo.
Hermógenes e Ricardão são favoráveis à pena capital. No fim do julgamento,
porém, Joca Ramiro sentencia a soltura de Zé Bebelo, sob a condição de que ele
vá para Goiás e não volte até segunda ordem. Nesse ponto, a primeira guerra
chega ao fim.
A paz, então, estabelece-se em todo o
sertão. Até que, depois de longo período de bonança, aparece um jagunço chamado
Gavião-Cujo, desesperado, e anuncia: “Mataram Joca Ramiro!...”
Começa, então, a segunda guerra,
organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, assassinos
de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, Zé Bebelo – que retorna para
vingar a morte de seu salvador, chefiando o bando de Riobaldo e Diadorim – com
os demais chefes. A segunda guerra termina no fim do romance, na batalha final
no Paredão, na qual morre Hermógenes.
TEMPO
Nessa narrativa, pode haver
dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura
do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa,
que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu
bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes
do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte – introdução dos principais temas do
romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse
primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como
foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte – inicia-se in medias res, ou seja,
no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados
por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joca Ramiro.
3ª parte – a narrativa retorna à juventude de
Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de
Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena
embarcação.
4ª parte – conflito entre Riobaldo e Zé
Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado
como “Urutu Branco”.
5ª parte – epílogo. Riobaldo retoma o fio da
narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como
herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra
“travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito (O nome Otacília é composto
de 8 letras que simboliza o infinito).
ESPAÇO
O espaço geral da obra é o sertão. Os
nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a
região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos
nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como
se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode
ser interpretada como a travessia da existência.
ALGUNS ESPAÇOS DO SERTÃO
Podem ser listados alguns espaços da
narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia – local da travessia do rio São
Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos – espaço onde o bando liderado por
Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma
tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação
de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o
grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão – local da tentativa frustrada de
travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e conseqüente retirada.
Local da narração – fazenda de Riobaldo, localizada na
beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão – espaço da batalha final, onde Diadorim
morre e termina a guerra.
Veredas Mortas – local do possível
pacto de Riobaldo.
Resenha das personagens
do livro:
RIOBALDO – é o personagem que narra a própria
vida a um doutor que nunca aparece, desde a juventude, antes de virar jagunço.
Nessa época, estudou e aprendeu a ler e a escrever, tornando-se professor de Zé
Bebelo, seu futuro chefe. Quando entra para a vida de jagunço, a personagem é
batizada de Tatarana,
que significa “lagarta de fogo”, apelido dado em homenagem à sua exímia
pontaria. Em um dado momento da narrativa, depois de um suposto pacto com o
Diabo, Riobaldo-Ta tarana toma a liderança do grupo, sendo rebatizado de “Urutu Branco”.
AS
TRÊS FACES AMOROSAS DE RIOBALDO:
Nhorinhá: prostituta, representa o
amor físico, o “amor-sexo”, o prazer canal. O seu caráter profano e sensual
atrai Riobaldo, mas somente no aspecto carnal.
Otacília: uma das mulheres amadas
por Riobaldo personifica a pureza, a esposa que espera e reza, o “amor
sentimento”. Contrária a Nhorinhá, Riobaldo destina a ela o seu amor verdadeiro
(sentimental). É constantemente evocada pelo narrador quando este se encontrava
desolado e saudoso durante sua vida de jagunço. Recebe a pedra de topázio de
"seô Habão", simbolizando o noivado.
Diadorim: representa
o amor impossível, proibido. É ela que causa grande conflito em Riobaldo, sendo
objeto de desejo e repulsa (por conta de sua pseudo identidade).
DIADORIM – Personagem-chave do romance é tida
como homem durante quase toda a narrativa. Apenas nas últimas páginas o
narrador conta que, depois de sua morte, quando o corpo é despido e lavado,
descobre-se que se tratava de uma mulher. Diadorim havia conhecido Riobaldo,
quando ainda eram jovens, em uma travessia do rio São Francisco. Nessa ocasião,
ela já vivia disfarçada de menino e dizia chamar-se Reinaldo escondendo sua
identidade real (Maria Deodorina). O nome Reinaldo era secreto no meio da
jagunçagem, utilizado apenas nos momentos em que ela e Riobaldo estavam a sós.
Quando Riobaldo reencontra Reinaldo/Diadorim, tempos depois, passa para o bando
de Joca Ramiro, motivado pela presença de Reinaldo. Riobaldo apaixona-se
profundamente por Diadorim, o que provoca nele vários sentimentos
contraditórios e de repressão, já que a paixão homossexual era uma relação
impossível de ser aceita no meio jagunço.
JOCA RAMIRO – grande chefe político e guerreiro
é o maior chefe dos jagunços, lidera a primeira guerra narrada no romance, e
seu assassinato origina a segunda guerra. Em oposição a Hermógenes, Joca Ramiro
é o grande guerreiro, o líder sábio, justo, corajoso, sendo bastante admirado.
Aparece como encarnação das virtudes.
ZÉ BEBELO – personagem intrigante. Dono de uma
oratória verborrágica, tinha ambições políticas, mas, segundo o narrador,
começara tarde essa busca pelo poder. Zé Bebelo é extremamente orgulhoso e
gaba-se de nunca se ter deixado comandar por ninguém. Conhece Riobaldo quando
esse ainda não era jagunço e aprende com ele um pouco de português. Quando
Riobaldo lhe toma a chefia, Zé Bebelo reconhece a força do oponente e decide deixar
o grupo. Riobaldo tem uma relação diferenciada com Zé Bebelo, conservando
sempre certo apreço por esse personagem.
HERMÓGENES – para Riobaldo, Hermógenes era o
“Cão”, o “Demo”. É o personagem mais odiado pelo narrador. Na primeira guerra,
quando estão lutando do mesmo lado, Riobaldo já revela seu ódio por ele; na
segunda guerra, quando Hermógenes e Ricardão assassinam Joca Ramiro, esse
sentimento se acentua. No romance, Hermógenes é a personificação do mal.
RICARDÃO: – enquanto Zé Bebelo guerreava por
ambições políticas e Hermógenes era motivado por sua natureza assassina,
Ricardão tinha interesse apenas na questão financeira. Fazendeiro rico,
guerreava para depois poder enriquecer em paz.
MEDEIRO VAZ: chefe de jagunços que se une aos
homens de Joca Ramiro para combater contra Hermógenes e Ricardão por conta da
morte do grande chefe.
SÔ CANDELÁRIO: outro
chefe que ajuda na vingança. Possuía grande temor de contrair lepra.
QUELEMÉM DE GÓIS: compadre e
confidente de Riobaldo, que o ajuda em suas dúvidas e inquietações sobre o
Homem e o mundo.