O
CORAÇAO DAS TREVAS
Título original: The heart
of darkness
Autor: Joseph Conrad (1857-1924)
Tradução: Celso
M. Paciornik
Editora: Iluminuras
Assunto: Romance (Literatura
estrangeira)
Edição: 2ª
Ano: 2002
Páginas: 114
O livro escrito
em 1899 apresenta a narrativa de Charlie Marlow, um alter ego[1]
de Joseph Conrad, sobre suas experiências nos confins da África. Marlow
descreve os sombrios horrores enfrentados no coração da selva africana, como a
morte iminente e a bárbara selvageria dos nativos. O objetivo de Marlow nesse
ambiente hostil é encontrar o Sr. Kurtz, personagem envolto em certo
misticismo. No decorrer de sua jornada, os caracteres da personalidade de Kurtz
são apresentados, alçando paulatinamente esse personagem à uma condição divina.
Entretanto, quando o encontro entre os dois finalmente acontece sobra certa
decepção com o desfecho, dadas às expectativas criadas no decorrer da viagem.
Comentários:
Trata-se de
um clássico da literatura universal que vale a pena ser lido. O enredo do filme
"Apocalypse Now" de Coppola
é baseado nesse livro, trazendo Marlon Brando no papel correspondente ao do Sr.
Kurtz, entretanto, o filme não substitui a leitura do livro.
Conrad
sabia como ninguém que o “o sentido de um episódio não estava dentro, como uma amêndoa,
mas fora, envolvendo a narrativa”. E é nesse periférico que se nos apresenta um
clássico. Não tenho a pretensão de iniciá-lo em Conrad, seria uma empresa
fadada, de antemão, ao fracasso, sabedor que sou que “não há iniciação para
tais mistérios”, esta tem que se dar na descoberta de suas lendárias páginas de
aventura humana “no meio do incompreensível, que é também detestável”, mas, ao
final, nos coroa com o halo literário que só os grandes autores nos sabem
ofertar. Em Conrad, somos salvos pela sua “devoção à eficiência”, nada falta ou
transborda; tudo na medida certa, no tempo certo. Em algumas páginas, o
romântico se nos impõe, e temos a beleza em estado primevo; em outros momentos,
o drama surge, a emoção dita e domina.
Interpretação da obra:
O prof.
José Monir Nasser dizia que para compreender a obra de Joseph Conrad, é preciso
saber interpretar os aspectos simbólicos fartamente utilizados por ele. Se você
ler a obra dogmaticamente, não vai compreender nada.
Joseph
Conrad usa a África como uma metáfora da condição humana, da qual não estão
excluídos os abismos e os horrores. Ele penetra num mundo estranho, quase
surrealista.
O que Joseph
Conrad quer nos contar é o dilema moral do ser humano e o caos do mundo em que
vivemos. Mostra-nos a sociedade enlouquecida criada por Kurtz, que assume,
nesta sociedade que criou, o papel de Deus, decidindo quem deve e quem não deve
morrer. Nos mostra, ainda, que o ser humano vive num mundo concreto, natural e
contraditório, onde existem aspectos benignos e malignos, tal qual a natureza
que é também potencialmente contraditória e onde se encontram forças de
sustentação e forças de repúdio.
O homem
não é 100% natureza. Há uma parte nele que não pertence à natureza e que não é
humana, mas Divina (o espírito que corresponde ao intelecto, à sabedoria e ao
conhecimento instantâneo da realidade). O intelecto (não é a razão) faz a
ligação do homem com o mundo transcendente, onde está a verdade. E nós humanos
somos prisioneiros dessa tensão que é a essência da vida humana. Platão dizia
que o homem é o intermediário entre o animal e o anjo.
Quando
Kurtz retorna para a “civilização”, à beira da morte, desvela um pouco mais do
mistério de tudo e emite sua expressão final antes de se quedar sem vida: “O
Horror! O Horror!”, ele prenuncia o julgamento de sua alma na Terra. Marlow já
não é o mesmo, frente à iluminação final de Kurtz.
Conclusão:
Os mistérios em torno das personagens de Conrad
simbolizam a impenetrabilidade misteriosa da alma humana, e as suas
complicações.
“O objetivo
que tento atingir, pelo poder da palavra escrita, é fazer você escutar, fazer
você sentir e acima de tudo, fazer você ver. Isto, e nada mais, é tudo”. Palavras de Joseph Conrad, talvez um dos mais
vicerais escritores que a literatura ocidental já produziu.
Jósef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu em 1857, na
cidade de Berdichev, na Ucrânia, uma região que foi parte da Polônia, mas na
época estava sobre controle russo.
Nota: Alguns atribuem que Joseph Conrad nasceu em Berdyczow
uma província ucraniana na Polônia daquela época. Hoje a cidade ucraniana Berdichev.
[1]
[Lat., 'outro eu'.] 1. O outro eu, ou seja, pessoa na qual se pode confiar como
em si mesmo. 2. P. ext. Aquele que substitui perfeitamente o outro.
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