Autor: Platão (427 – 348/47 a.C.)
Sinopse: A apologia de Sócrates é a história do indivíduo que descobre uma lei que está para além da constituição da sociedade e, ao expressar essa lei, coloca-se em oposição à sociedade; esta, então, volta-se contra ele ao mesmo tempo em que reconhece a sua superioridade. Mesmo com a oposição da sociedade, esse sujeito assume a filosofia como projeto de vida.
Por essa razão Sócrates não ensinava cidadania (autoridade prevalente do Estado), porém ensinava as pessoas a serem Homens (autoridade prevalente do Indivíduo). Essa foi a causa de sua morte.
Cristo, quatro séculos depois, a frente de Pôncio Pilatos e do Sacerdote Caifás, lega o mesmo ensinamento à humanidade ao sacrificar a própria vida para não abdicar do valor do indivíduo que é o representante da espécie humana, em detrimento ao poder do Estado.
Lamentavelmente, a humanidade não compreendeu esse ensinamento, legado por duas vezes, inverteu os valores, sepultou a filosofia, assassinou a verdade perene e fechou as portas do seu próprio cárcere! As mortes de Sócrates e Cristo foram em vão.
A Apologia de Sócrates se coloca entre as mais belas páginas de eloqüência que nos foram legadas pela Antiguidade. A autodefesa do filósofo, feita perante seus impudentes e impertinentes acusadores, evocada por Platão com devoção de discípulo fiel, é, não obstante a brevidade do texto, uma síntese de toda a filosofia socrática, de grandíssimo valor literário e como documento humano. A admirável serenidade do sábio, somente preocupado com o destino de seus acusadores e com a sagrada verdade, manifesta-se em toda a sua grandeza nas páginas imortais deste pequenino e grande livro.
Tradução: Jean Melville
Editora: Martin Claret
Assunto: Filosofia
Edição: 18ª
Ano: 1997
Páginas: 144
Sinopse: A apologia de Sócrates é a história do indivíduo que descobre uma lei que está para além da constituição da sociedade e, ao expressar essa lei, coloca-se em oposição à sociedade; esta, então, volta-se contra ele ao mesmo tempo em que reconhece a sua superioridade. Mesmo com a oposição da sociedade, esse sujeito assume a filosofia como projeto de vida.
Comentários: A partir do instante que Sócrates é morto, o futuro da filosofia estava assegurado. Ele inaugura uma nova modalidade de verdade cuja permanência e durabilidade histórica é assegurada pelo seu próprio sacrifício. Mais tarde, o sacrifício de Cristo repete o mesmíssimo esquema, só que numa extensão imensamente maior, repetindo no plano existencial aquilo que Sócrates tinha vivenciado no plano cognitivo ou intelectual. Assim como o sacrifício de Cristo assegura a salvação das almas dos pecadores, a morte de Sócrates assegura a possibilidade de resgatar para sempre certas verdades universais que, só podendo ser reveladas diretamente ao coração do indivíduo, e não à coletividade.
O ser humano carrega uma dualidade estrutural e permanente. Por um lado, ele é membro de uma coletividade, deve a ela a sua subsistência e os seus meios de expressão (a língua) e de conhecimento. Nesse sentido, é um participante da verdade socialmente estabelecida e não teria sentido querer destruí-la ou voltar-se totalmente contra ela. Por outro lado, ele também tem, como indivíduo, meios e acessos a verdades que transcendem a órbita de consciência do grupo social ou da comunidade, e que às vezes, se colocam acidentalmente ou temporariamente contra o dogma consagrado pela sociedade. Nesses momentos o homem não pode abdicar nem de uma coisa nem de outra.
Essa tensão entre o indivíduo enquanto membro de uma comunidade historicamente determinada e o indivíduo enquanto representante da espécie humana, não é solúvel.
A tensão não é entre a coletividade e o indivíduo. Via de regra quando se analisa isso, as pessoas equacionam assim: a coletividade de um lado, o indivíduo do outro, colocando sempre a coletividade como sinônimo da espécie humana. No entanto, o representante da espécie humana não é a coletividade, mas sim o indivíduo. Ele se opõe à coletividade não enquanto indivíduo, mas enquanto representante da espécie humana, que, como tal, é capaz de alcançar certas verdades; estas, sendo universais, estão na escala da espécie humana como um todo, transcendendo infinitamente o círculo de uma comunidade em particular.
As relações entre indivíduo e espécie são muito diferentes das que existem entre indivíduo e coletividade – e a história de Sócrates ilustra isso de uma maneira absolutamente esplêndida.
Sócrates foi condenado numa sociedade que se dizia democrática, não por motivos políticos (não poderia sê-lo sem ferir a lei de anistia em vigor em Atenas), mas por conflito de autoridade. Sócrates pregava que o valor do indivíduo, que é o representante da espécie humana, portanto, prevalente ao poder do Estado. A partir do indivíduo, pode-se explicar o quadro da humanidade inteira, o que não se pode fazer a partir da análise da autoridade do Estado. Logo, o poder do indivíduo como legítimo representante da espécie humana, é prevalente ao poder do Estado. Esse foi o grande legado de Sócrates para toda a humanidade, pelo qual deu a própria vida em sua defesa.
O ser humano carrega uma dualidade estrutural e permanente. Por um lado, ele é membro de uma coletividade, deve a ela a sua subsistência e os seus meios de expressão (a língua) e de conhecimento. Nesse sentido, é um participante da verdade socialmente estabelecida e não teria sentido querer destruí-la ou voltar-se totalmente contra ela. Por outro lado, ele também tem, como indivíduo, meios e acessos a verdades que transcendem a órbita de consciência do grupo social ou da comunidade, e que às vezes, se colocam acidentalmente ou temporariamente contra o dogma consagrado pela sociedade. Nesses momentos o homem não pode abdicar nem de uma coisa nem de outra.
Essa tensão entre o indivíduo enquanto membro de uma comunidade historicamente determinada e o indivíduo enquanto representante da espécie humana, não é solúvel.
A tensão não é entre a coletividade e o indivíduo. Via de regra quando se analisa isso, as pessoas equacionam assim: a coletividade de um lado, o indivíduo do outro, colocando sempre a coletividade como sinônimo da espécie humana. No entanto, o representante da espécie humana não é a coletividade, mas sim o indivíduo. Ele se opõe à coletividade não enquanto indivíduo, mas enquanto representante da espécie humana, que, como tal, é capaz de alcançar certas verdades; estas, sendo universais, estão na escala da espécie humana como um todo, transcendendo infinitamente o círculo de uma comunidade em particular.
As relações entre indivíduo e espécie são muito diferentes das que existem entre indivíduo e coletividade – e a história de Sócrates ilustra isso de uma maneira absolutamente esplêndida.
Sócrates foi condenado numa sociedade que se dizia democrática, não por motivos políticos (não poderia sê-lo sem ferir a lei de anistia em vigor em Atenas), mas por conflito de autoridade. Sócrates pregava que o valor do indivíduo, que é o representante da espécie humana, portanto, prevalente ao poder do Estado. A partir do indivíduo, pode-se explicar o quadro da humanidade inteira, o que não se pode fazer a partir da análise da autoridade do Estado. Logo, o poder do indivíduo como legítimo representante da espécie humana, é prevalente ao poder do Estado. Esse foi o grande legado de Sócrates para toda a humanidade, pelo qual deu a própria vida em sua defesa.
Por essa razão Sócrates não ensinava cidadania (autoridade prevalente do Estado), porém ensinava as pessoas a serem Homens (autoridade prevalente do Indivíduo). Essa foi a causa de sua morte.
Cristo, quatro séculos depois, a frente de Pôncio Pilatos e do Sacerdote Caifás, lega o mesmo ensinamento à humanidade ao sacrificar a própria vida para não abdicar do valor do indivíduo que é o representante da espécie humana, em detrimento ao poder do Estado.
Lamentavelmente, a humanidade não compreendeu esse ensinamento, legado por duas vezes, inverteu os valores, sepultou a filosofia, assassinou a verdade perene e fechou as portas do seu próprio cárcere! As mortes de Sócrates e Cristo foram em vão.
A Apologia de Sócrates se coloca entre as mais belas páginas de eloqüência que nos foram legadas pela Antiguidade. A autodefesa do filósofo, feita perante seus impudentes e impertinentes acusadores, evocada por Platão com devoção de discípulo fiel, é, não obstante a brevidade do texto, uma síntese de toda a filosofia socrática, de grandíssimo valor literário e como documento humano. A admirável serenidade do sábio, somente preocupado com o destino de seus acusadores e com a sagrada verdade, manifesta-se em toda a sua grandeza nas páginas imortais deste pequenino e grande livro.
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