Autor: Dante Alighieri (1265-1321)
Tradução: Ítalo Eugênio Mauro
Editora: Editora 34
Assunto: Poesia épica
Edição: 4ª
Tradução: Ítalo Eugênio Mauro
Editora: Editora 34
Assunto: Poesia épica
Edição: 4ª
Ano: 2001
Páginas: 696
A Divina Comédia (Do Italiano "Comedia" ou "Commedia", mais tarde batizada de "Divina" por Giovanni Boccaccio), escrita por Dante Alighieri entre 1307 e a sua morte em 1321, é indiscutivelmente considerado o melhor poema épico da literatura italiana, e um dos melhores da literatura mundial.
A Divina Comédia (Do Italiano "Comedia" ou "Commedia", mais tarde batizada de "Divina" por Giovanni Boccaccio), escrita por Dante Alighieri entre 1307 e a sua morte em 1321, é indiscutivelmente considerado o melhor poema épico da literatura italiana, e um dos melhores da literatura mundial.
Sinopse: A Divina Comédia é dividida em três partes, a primeira com 34 cantos e as outras duas com 33 fechando uma centena. Inferno, Purgatório e Paraíso. Segundo Dante, O Purgatório é um espaço intermediário entre céu e o inferno, um patamar entre os circulos concentricos reservado aqueles que não foram batizados ou nasceram antes de Cristo.
A Divina Comédia propõe que onde é Jerusalém hoje, seria o lugar onde o diabo bateu ao cair do céu, como se a terra santa fosse o Portal do Inferno. Tanto o Inferno, uma esfera circunscrita a esfera da Terra responderia pela depressão mar morto onde todas as águas convergem, o Paraíso e o Purgatório seriam os segmentos dos círculos concêntricos que juntos respondem pela mecanica celeste e os cenários dessa imortal comédia.
As personagens principais da Divina Comédia são Dante Alighieri e Virgílio, aquele que escreveu a história de Roma, a Eneida, mas Virgílio já é uma alma, ele está morto. Dante é um italiano, herdeiro da civilização grega e está vivo.
Virgílio serve como um mentor, uma espécie de condutor, um guia, alguém que mostra o caminho para Dante.
Dante está buscando Deus. Mas para alcançar Deus é preciso fazer uma viagem além-túmulo e Dante faz isso para propor uma redenção moral da humanidade destinada à perdição eterna porque está submetida ao apego aos bens terrenos e às paixões mundanas. Dante busca despertar nos homens a consciência da redenção para que possam salvar-se espiritualmente.
Dante entendia, e eu concordo plenamente com ele, que o homem por mais que se esforce, jamais poderá conhecer Deus servindo-se apenas do instrumento da razão. É preciso dar um salto místico para poder-se alcançá-Lo e acolhê-Lo em todo o seu mistério.
O conceito de ‘Comédia’, à época, não constituía sinônimo de engraçado ou humorístico. Era um conceito aristotélico. É assim denominado porque o final dá certo. Se o final desse errado, a denominação seria ‘Tragédia’.
Para ler a Divina Comédia, é preciso promover a suspensão do ceticismo. Deve-se ler como se verdade fosse para compreender a obra.
Inferno
Quando Dante se encontra no meio da vida, ele se vê perdido em uma floresta escura, e sua vida havia deixado de seguir o caminho certo. Ao tentar escapar da selva, ele encontra uma montanha que pode ser a sua salvação, mas é logo impedido de subir por três feras: um leopardo, um leão e uma loba. Prestes a desistir e voltar para a selva, Dante é surpreendido pelo espírito de Virgílio - poeta da Antigüidade que ele admira - disposto a guiá-lo por um caminho alternativo. Virgílio foi chamado por Beatriz, paixão da infância de Dante, que o viu em apuros e decidiu ajudá-lo. Ela desceu do céu e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto por Virgílio consiste em fazer uma viagem pelo centro da terra. Iniciando nos portais do inferno, atravessariam o mundo subterrâneo até chegar aos pés do monte do purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até as portas do céu. Dante então decide seguir Virgílio que o guia e protege por toda a longa jornada através dos nove círculos do inferno, mostrando-lhe onde são expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios infernais, suas cidades, monstros e demônios, até chegar ao centro da terra, onde vive Lúcifer. Passando por Lúcifer, conseguem escapar do inferno por um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra, e assim voltar a ver o céu e as estrelas.
Purgatório
Saindo do inferno, Dante e Virgílio se vêem diante de uma altíssima montanha: o Purgatório. A montanha é tão alta que ultrapassa a esfera do ar e penetra na esfera do fogo chegando a alcançar o céu. Na base da montanha encontram o ante-purgatório, onde aqueles que se arrependeram tardiamente dos seus pecados aguardam a oportunidade para entrar no purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do ante-purgatório, os poetas atravessam um portal e iniciam sua nova odisséia, desta vez subindo cada vez mais. Passam por sete terraços, cada um mais alto que o outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o purgatório do paraíso terrestre. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas.
Paraíso
O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e uma espiritual. A parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados pelos sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), o céu das estrelas fixas e o Primum Mobile - o céu cristalino e último círculo da matéria. Ainda no paraíso terrestre, Beatriz olha fixamente para o sol e Dante a acompanha até que ambos começam a elevar-se, "transumanando". Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano. Chegando ao céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe permissão para prosseguir. No céu cristalino Dante adquire uma nova capacidade visual, e passa a ter visão para compreender o mundo espiritual, onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz e tem a oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de Deus, "o amor que move o Sol e as outras estrelas".
Mensagem e conclusão da obra:
Há algum tempo se dissimula o bem da "perfeita bondade" sobre o cunho da nova igreja. Cada vez mais se esquece da principal característica inerente ao ser humano, ou seja, fala-se aqui das variações, que podemos denominar sentimentais. Dante, naquele século, foi um dos precursores sobre o que se chama "ensaio do ser humano", em que se deixa ao lado a hipocrisia e, nesses lugares (inferno, purgatório e paraíso) subjetivos delimita-se a essência das atitudes do Homem.
O ser humano precisa realizar a viagem às possibilidades inferiores para redescobrir a verdadeira natureza humana através do caminho iniciático, que Dante Alighieri faz na sua extraordinária obra.
O caminho iniciático é o caminho da recuperação da verdade ontológica humana. É o único caminho que pode levar o homem a realização humana; é, em suma, a transcendência para o divino. Não é ser Deus, mas ser como Deus.
A Divina Comédia é uma obra para ser lida por toda a vida para verdadeiramente compreendê-la em toda a sua essência e revelação. É o caminho para a mais pura Iniciação.
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UM TRIBUTO A DANTE ALIGHIERI
No momento em que a Cristandade medieval deslizava para o abismo, elevou-se no seu seio uma voz, mais forte talvez do que todas aquelas que até então tinham sido ouvidas, para exprimir, numa abra atravessada pelo bater das asas do espírito, tudo aquilo que ela tinha trazido em si de mais sublime – a própria mensagem que entregara à história.
O homem cujo grito deveria transpor os séculos e trazer até nós o testemunho dessa civilização, encontrou-se, como todos os criadores, no eixo do seu tempo, com uma parte do seu ser fortemente enraizada no passado e a outra audaciosamente voltada para o futuro. Da sua obra sairá uma língua, uma das mais perfeitas entre essas línguas nacionais que então aspiravam desabrochar. Graças a ele, a literatura dará um passo decisivo em direção ao seu desígnio moderno: a análise da alma individual, o conhecimento da vida psicológica mais oculta. Mas, ao mesmo tempo, a matéria de que a sua obra brotará será a do passado imediato que ele exprime e glorifica: nada de essencial terá lugar nela se não proceder em substância do ideal afirmado, da experiência adquirida pelas gerações cristãs da grande época. As duas correntes poéticas que tinham surgido no decurso da Idade Média – a popular, da tradição franciscana, e a erudita, dos trovadores e das cortes de amor – confluirão no dolce stil nuovo [novo estilo doce] que ele imporá à admiração do mundo por meio dos seus versos imortais. Às Sumas teológicas, às Sumas filosóficas realizadas na Idade Média, e a essas outras Sumas plásticas que são as catedrais, teremos de acrescentar, para que o quadro fique completo, uma Suma poética. E foi esse homem quem a edificou.
Chamava-se Dante Alighieri. Nasceu na primavera de 1265, em Florença, numa humilde casa da praça de São Martinho o Bispo, ao lado da abadia. A sua infância transcorreu na cidade do lírio vermelho, bem cedo anuviada pela morte da mãe e pelo segundo casamento do pai, e tendo sob os olhos as guerras civis que ensangüentavam a sua pátria. Tudo era ocasião para discórdia na toscana, imagem da pequena Itália da época: guelfos e gibelinos reascendiam as suas querelas; os burgueses oportunistas e os clãs aristocratas disputavam o poder e as suas vantagens; o povo, desesperado, agitava-se sem cessar, prestes a amotinar-se. E o poeta encontrará no mais profundo das suas recordações de infância a imagem do Arno, “que faz correr menos água do que sangue”.
No entanto, certo dia, essa dolorosa infância foi trespassada por uma luz de paraíso. Mas tarde, na Vita Nuova, o livro dos seus trinta anos (1292), Dante contará como, aos nove anos, num primeiro de maio todo perfumado de graça, encontrou uma menina da sua idade, Beatriz, e logo a amou para toda a eternidade. “Foi como se tivesse vindo do céu para a terra, a fim de nos mostrar o que pode ser um milagre...”, murmura ele. Este amor pueril invadiu de tal forma a sua alma de criança que, desde então, nada pode arrancá-lo de si. Mas esse amor não teve de sofrer a degradação da vida, o irremediável desgaste que procede da rotina e do contato diário. Beatriz, cedo levada da terra, tornou-se uma imagem imperecível, o símbolo de tudo aquilo que a alma de um homem traz em si de mais puro e mais elevado, confundindo-se até com a Sabedoria incriada que, por vezes, se dá a conhecer aos sentidos das criaturas mortais na revelação mística, na iluminação do gênio ou na lacerante doçura de uma manhã de primavera.
Foi para se unir a Beatriz no empírico, onde a sua juventude eterna se confundia com o conhecimento inefável, que Dante se entregou inteiramente ao estudo de tudo o que a inteligência podia abranger naquela época. Artes e ciências, filosofia e teologia, nada escapou ao seu bem-aventurado apetite. Preciosas amizades o guiaram nesta infatigável pesquisa: o encantador e melancólico poeta Guido Cavalcanti, o músico Casella, o incomparável Giotto, gênio da cor e da forma, o teólogo frei Remígio de Girolami, discípulo de São Tomás, e sobretudo o bom velho mestre Brunetto Latini, a que ele, no canto XI do Inferno, agradece com palavras emocionadas o ter-lhe ensinado “como o homem se eterniza”. Aos vinte e quatro anos, estava formado.
Mas, na Florença dos fins do século XIII, não era muito fácil a um jovem intelectual prosseguir calmamente a sua tarefa de aperfeiçoamento pessoal sem se ver, que quisesse ou não, envolvido nos acontecimentos. De resto, Dante não era homem para permanecer à margem de lutas em que a verdade estivesse em jogo. Para ele, os princípios se encarnavam e os erros tinham rostos humanos. Já aos vinte e quatro anos, com bom guelfo que era, combatia os gibelinos de Arezzo e depois alistava-se na campanha contra Pisa. O seu temperamento apaixonado e as suas exigência abruptas nunca o deixaram encolher-se diante das batalhas políticas. Casado aos trinta anos com uma certa Gemma Donati, a quem pediu somente que fosse a mãe de seus filhos e a quem nunca se referiu na sua obra, e inscrito na corporação dos médicos, uma das mais honrosas na escala das Artes, Dante seria talvez, em outro tempo e lugar, levado a vida de um burguês tranqüilo, dedicando as suas noites e sonhos a escrever, e bem poderíamos imaginar o que a sua obra teria ganho com isso. Mas os acontecimentos – essa manifestação da Providência – arrancaram-no de uma tal facilidade para entregá-lo a todos os riscos de uma existência patética.
Eleito em 1300 “prior” da cidade, isto é, membro do Conselho de seis pessoas que a administrava, encontrou-se envolvido num maelstroem de intrigas e violências. Os guelfos florentinos dividiam-se então em dois clãs rivais. Embora, como se sabe, todo o partido guelfo fosse da Igreja e tradicionalmente oposto às pretensões imperiais na Itália, uma parte, os “brancos”, consideravam excessiva a pressão que o autoritário Bonifácio VIII exercia sobre a sua cidade por intermédio do seu legado, o cardeal Mateus de Aquasparta. Os “negros”, por sua vez, queriam jogar a fundo a cartada do papa e, sobretudo ajudar o seu aliado Carlos II de Nápoles a recuperar a Sicília. Sendo esse ano o do Jubileu, Florença resolveu fazer-se representar em Roma por uma solene delegação, e Dante foi indicado para participar dela. Acabou por aceitar, talvez para conhecer e julgar melhor Bonifácio VIII e a Cúria, ou talvez para não parecer que tinha medo, pois os seus inimigos poderiam aproveitar-se da sua ausência. “Se eu fico, quem irá?”, disse ele simplesmente. “Mas, se vou, quem ficará?” Não alimentava ilusões. Com efeito, quando os “negros” tomaram o poder e chamaram Carlos de Valois, a pacificação fez-se à custa de decretos, de exílios e de prisões de “brancos”. Em janeiro de 1302, Dante era expulso da sua pátria, lançado para fora do “belo redil onde vivera quando era um cordeiro” (Paraíso, XXV, 2).
Começava para ele a vida errante, numa permanente agitação. “Este gosto amargo que tem o pão dos outros, este duro caminho que é subir e descer as escadas de outrem”, foi o que ele experimentou durante vinte anos, até morrer. Terrível é o destino daquele que é arrancado da sua pátria e lançado ao acaso pelas estradas do mundo! Uma pessoa deslocada conhece a humanidade sob os seus aspectos mais insensíveis e mais cruéis. Foi essa a sorte de Dante, que a sofreu até o mais profundo do seu ser. E assim conheceu a incurável baixeza das lutas políticas. “Fazer um partido só para ele!”, tal era o seu sonho; mas essa é uma felicidade pela qual os políticos têm o costume de cobrar caro. Passando por Verona, Lucca, Ravena e talvez até Paris, peregrinou pela terra, sem outra pátria que não a interior, aquela em que se elaborava a obra do seu gênio. Certa vez, Florença propôs-lhe que voltasse, mas em troca de uma grande humilhação – uma penitência pública na catedral. “Não é esse o caminho de volta para a minha pátria”, foi o que ele respondeu a essa oferta.
Fixou-se em Ravena, a doce e sonolenta cidade dos mosaicos, onde um homem de bem, Guido Novello da Polenta, o próprio sobrinho de Francesca de Rimini, pecadora que ele imortalizara, o acolheu sob a sua proteção. Os sofrimentos do exílio, as privações, a angústia e talvez a febre insidiosa dos pântanos haviam burilado os seus traços, agora de uma beleza fascinante, e, como a sua obra literária começava a ser conhecida, os habitantes da cidade, ao vê-lo passar, sombrio e trágico – no dizer de Bocaccio –, exclamavam uns para os outros: “Eis o homem que vai ao inferno e de lá regressa”. Sim, o poeta abdicara de todas as alegrias da vida.Vira o seu inimigo Bonifácio VIII afundar-se sob o golpe de Nogaret e sofrera com isso, admirado de ver a Sé de Pedro desmoronar-se tão depressa. Vira também o imperador Henrique VII entrar na Itália e, em vez de ali restabelecer a paz, como era o seu sonho, aumentar ainda mais a anarquia. Nada lhe restava no coração a não ser uma esperança que transcende a terra e – como diz no último verso do seu poema – “esse amor que move o sol e as estrelas”. Convidaram-no a partir para Veneza como embaixador e ele aceitou, embora já no limite das suas forças. Servir a paz não seria ainda servir a Deus?
Morreu em 14 de setembro de 1321, em Ravena, e essa nobre cidade que fora tão doce para o seu exílio, quis conservar o seu corpo. Florença, a pátria ingrata, tentou levá-lo para lá quando o seu nome se tornara célebre, mas nada conseguiu. Repousa a dois passos da igreja de São Francisco, onde tantas vezes rezou, dessa comunidade de irmãos mendicantes cujo burel vestiu no leito de morte. A sua última morada é um minúsculo jardim, feito de sombras frescas e silêncio. Para além dos sofrimentos e das violências da terra, como na sublime visão criada pela sua imaginação, e para além dos círculos do inferno e da montanha das expiações, terá ele alcançado a paz definitiva, ou sete andares do céu, em cujo cimo reina o Cordeiro?
(Resumo feito por Anatoli Oliynik, com excertos traduzidos por Emérico da Gama, retirados de “A Igreja das Catedrais e das Cruzadas” de Daniel-Rops. São Paulo: Editora Quadrante, 1993.)
Um comentário:
M.: Anatoli
Parabéns pelo seu estudo, intepretação e persistência em trazer cultura para todos nós! As sinopses dos livros são muito inteligentes. Muitas vezes quando desejo ler/comprar um novo livro, entro no blog para verificar as suas sinopses. A Divina Comédia é conhecida, mas estrategicamente deixo meu registro aqui! Novamente meus parabéns e o obrigado por compartilhar o conhecimento.
Ivens Frischknecht
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