sexta-feira, 2 de julho de 2010

ODISSÉIA

Autor: Homero
Tradução: Carlos Alberto Nunes
Editora: Ediouro
Assunto: Romance – Poesia Épica (Literatura estrangeira)
Edição: 6ª
Ano: 2004
Páginas: 432

Sinopse: A obra narra a viagem de regresso de Odisseu a sua pátria, Ítaca, após o término da guerra de Tróia. Entretanto, a viagem de regresso é marcada por sucessivas tramas produzidas pelo deus Poseidon[1] (mitologia grega) ou Netuno (mitologia romana) para impedí-lo, mas Odisseu, sem saber, passa a receber ajuda de Atena, filha de Zeus, a deusa grega da sabedoria, do ofício, da inteligência e da guerra justa. Dez anos se passaram até que Odisseu pudesse realizar o seu desiderato.

Comentários da obra:
A Odisséia data provavelmente do século VIII a.C., quando os gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o alfabeto fenício. Na Odisséia ressoa ainda o eco da guerra de Tróia, narrada parcialmente na Ilíada. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego Odisseu. Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope. Odisseu é um dos heróis favoritos de Homero e já aparece na Ilíada como Aquiles, um homem manhoso, perspicaz, vaidoso, porém bom conselheiro e bravo guerreiro.

A obra compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro (seis sílabas), e a ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara ao lado dos gregos. A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Odisseu ao lar. O relato é feito, de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces - povo mítico grego que habitava a ilha de Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que conduzem Odisseu a Ítaca.

O enredo:
As viagens e aventuras de Odisseu são narradas em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Poseidon. A segunda consta de mais nove episódios, que descrevem sua volta ao lar sob a proteção da deusa Atena. É também desenvolvido um tema secundário, o da vida na casa de Odisseu durante sua ausência, e o esforço Telêmaco, filho de Odisseu, que empreende uma viagem exploratória em busca de seu pai. A esse tema secundário dentro do tema principal dá-se o nome de Telemaquia.

Odisseu atravessa um mundo fantástico, repleto de perigos e tentações, onde os monstros marinhos, os encantos de Circe e de seus elixires, as sedutoras sereias, e as ameaças do ciclope Polifemo procuram desviá-lo de seu rumo - ora tentando devorá-lo, ora afastando-o de seu retorno, de suas memórias.

O poema estrutura-se em quatro partes: na primeira (cantos I a IV), intitulada "Assembléia dos deuses", Atena vai a Ítaca animar Telêmaco, filho de Odisseu, na luta contra os pretendentes à mão de Penélope, sua mãe. Telêmaco decide, sem conhecimento da mãe, ir a Pilos e a Esparta em busca do pai. O herói, porém encontra-se na ilha de Ogígia, prisioneiro da deusa Calipso. Na segunda parte, "Nova assembléia dos deuses", Calipso liberta Odisseu, por ordem de Zeus, que atendeu aos pedidos de Atena e enviou Hermes com a missão de comunicar a ordem. Livre do jugo de Calipso, que durou sete anos, Odisseu constrói uma jangada e parte, mas uma tempestade desencadeada por Poseidon lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é descoberto por Nausícaa, filha do rei Alcínoo. Bem recebido pelo rei (cantos VI a VIII), Odisseu mostra sua força e destreza em competições esportivas que se seguem a um banquete. Na terceira parte, "Narração de Odisseu" (cantos IX a XII), o herói passa a contar a Alcínoo as aventuras que viveu desde a saída de Tróia: sua estada no país dos Cícones, dos Lotófagos e dos Ciclopes; a luta com o ciclope Polifemo; o episódio na ilha de Éolo, rei dos ventos, onde seus companheiros provocam uma violenta tempestade, que os arroja ao país dos canibais, ao abrirem os odres em que estão presos todos os ventos; o encontro com a feiticeira Circe, que transforma os companheiros em porcos; sua passagem pelo país dos mortos, onde reencontra a mãe e personagens da guerra de Tróia. Na quarta parte, "Viagem de retorno", o herói volta à Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII). Apesar do disfarce de mendigo, dado por Atena, Odisseu é reconhecido pelo filho, Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que, ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma cicatriz. Assediada por inúmeros pretendentes, Penélope promete desposar aquele que conseguir retesar o arco de Odisseu, de maneira que a flecha atravesse 12 machados. Só Odisseu o consegue. O herói despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a vingança de Odisseu (cantos XIV a XXIV): as almas dos pretendentes são arrastadas aos infernos por Hermes e a história termina quando Atena impõe uma plena reconciliação durante o combate entre Odisseu e os familiares dos mortos. A concepção do poema é predominantemente dramática e o caráter de Odisseu, marcado por obstinação, lealdade e perseverança em seus propósitos, funciona como elemento de unificação que permeia toda a obra. Aparecem aí fundidas ou combinadas uma série de lendas pertencentes a uma antiqüíssima tradição oral com fundo histórico. Há forte crença de que a Odisséia reúna temas oriundos da época em que os gregos exploravam e colonizavam o Mediterrâneo ocidental, daí a presença de mitos com seres monstruosos no Ocidente, para eles ainda misterioso. Pela extrema perfeição de seu todo, esse poema tem encantado o homem de todas as épocas e lugares. É consenso na era moderna que a Odisséia completa a Ilíada como retrato da civilização grega, e as duas juntas testemunham o gênio de Homero e estão entre os pontos mais altos atingidos pela poesia universal.

Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra iniciadora da literatura grega escrita, a Odisséia, de Homero, expressa com força e beleza a grandiosidade da remota civilização grega. Na verdade, Odisséia foi uma obra voltada para a educação da criança grega. Trata-se de uma espécie de livro didático na época. Esta obra inspirou Werner Jaeger ao mais profundo e completo estudo sobre os ideais de educação na Grécia antiga que resultou no livro “Paidéia: a formação do homem grego”, a fantástica obra com 1413 páginas.

Para compreender o sentido da obra:
A Guerra de Tróia significa a luta entre a ordem e a desordem. Com o rapto de Helena, esposa de Menelau, por Páris de Tróia, a instituição do casamento foi destruída. O casamento simboliza a ordem estabelecida. Era preciso, portanto, recuperar a ordem. Assim, a ida para Tróia e a guerra, significam a luta para recuperação do que foi perdido e assim restabelecer o status quo ante.

Os elementos subversores da ordem em Ilíada eram Páris e Helena. Na Odisséia são os pretendentes de Penélope. Logo, tanto na Ilíada, quanto na Odisséia os subversores foram destruídos para que a ordem fosse restabelecida.

Na Odisséia, a Penélope, esposa de Odisseu, representa um ideal humano, um modelo de ordem simbolizado pela honestidade.

Odisseu é leal, humilde, corajoso, astuto, desconfiado, matreiro, esperto, inteligente e reflexivo. É também, manhoso e vaidoso. Entretanto, na Ilíada (onde assume o nome de Ulisses) ele não é nada disso.

Assim, Odisseu quer recuperar a Penélope, pois esta representa um modelo de ordem. Todavia, antes de recuperar a ordem, Odisseu precisava recuperar a si próprio, ou seja, sua própria ordem interna. Para isso ele se fez humilde e quando mais humilde se tornava, mais sábio ficava.

O sentido da obra:
A "Odisséia" é a história do retorno ao ideal humano, mas que, para ser compreendida em toda sua plenitude, necessita do concurso e compreensão da história relatada em “Ilíada” e que antecede aquela.

Enquanto a Ilíada representa a destruição da Ordem estabelecida, a Odisséia representa a recuperação da Ordem. Portanto, as obras representam a contraposição da Ordem com a Desordem (Cosmos x Caos).

A recuperação da ordem significa a recuperação de valores humanos como: honestidade, lealdade, honra, coragem, inteligência, sabedoria, humildade e amor – substanciais para a existência humana e que devem inspirar profunda meditação sobre a condição humana.


Conclusão:
Odisseu só foi capaz de recuperar a ordem perdida quando ele conseguiu recuperar a sua própria ordem interna. A sua viagem de retorno é uma metáfora da realização humana.

Eis aí uma grande lição para todos nós que vivemos o processo mais subversivo da história da humanidade. Jogamos no lixo todos os valores humanos verdadeiros e perenes, seguindo falsos valores construídos por uma ideologia psicopata e suicida que nos levará diretamente ao tártaro do Hades.

[1] Deus do mar, dos rios e das fontes.

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