sexta-feira, 20 de março de 2009

COÉFORAS

Autor: Ésquilo
Tradução: Mário da Gama Kury
Editora: Jorge Zahar Editor
Assunto: Tragédia (Teatro grego)
Edição: 7ª
Ano: 2006
Páginas: 198 (89-143)

Sinopse: Clitemnestra e Egisto, seu amante e cúmplice, são assassinados por Orestes, com a ajuda de sua irmã Electra e a proteção da alma de Agamêmnon. Clitemnestra encarrega sua filha Electra de fazer um sacrifício expiatório junto do túmulo do pai, para apaziguar os seus Manes e afastar os sinistros presságios dum sonho. Electra dirige-se ao túmulo acompanhada pelas escravas (Coéforas) que levam os vasos e presentes funerários e formam o Coro. Chegada ali, invoca a sombra do Pai a quem pede que vingue o crime de que foi vítima. De repente, vê sobre o túmulo uma mecha de cabelos, parecidos com os seus, que supõe serem de Orestes e faz votos pelo seu regresso. Orestes, que se tinha escondido com Pílades quando viu aproximar-se o grupo formado por Electra e pelas Coéforas, aparece e os dois irmãos combinam vingar o pai. Orestes apresenta-se no palácio como um estrangeiro e aproveita-se dum ardil para matar Clitemnestra e Egisto, seu segundo marido. Aparece depois ao povo exibindo o véu em que os assassinos tinham envolvido Agamêmnon para que não pudesse defender-se. De súbito perde a razão e retira-se para Delfos cujo deus lhe ordenara o matricídio.

Resumo da Narrativa:
Electra, filha de Agamêmnon e de Clitemnestra, morava no palácio real mas era tratada como escrava, e antes do assassinato do pai, mandou seu irmão Orestes para a corte do seu tio Estrófio, rei da distante Focis, com o objetivo de ser criado lá.
Anos mais tarde a alma de Agamêmnon, cheia de rancor, mandou um sonho para alarmar Clitemnestra. Pareceu à rainha em sua visão noturna que ela dera à luz a uma víbora, esta amamentava-se no seio dela como se fosse um recém-nascido; ao leite materno juntava-se sangue em abundância. Clitemnestra despertou transtornada, aos gritos. Consultado por ela, um adivinho do palácio interpretou o sonho como um sinal de ressentimento das divindades infernais. Para aplacá-las, a rainha mandou Electra, juntamente com algumas servas, levar libações à tumba de Agamêmnon, numa tentativa de apaziguar a alma do marido no mundo dos mortos. NO mesmo dia em que Clitemnestra mandou Electra levar as libações, Orestes, já adulto, acompanhado por Pílades, seu companheiro inseparável, chegou a Argos ansioso por vingar a morte do pai. Lá, seu primeiro cuidado foi depositar mechas de seus cabelos, como oferenda fúnebre, sobre o túmulo de Agamêmnon. Quando Electra descobriu aquela oferenda, pensou que a mesma só poderia ter sido trazido pelo irmão.
Depois de ser reconhecido pela irmã, Orestes disse que Apolo o incumbira de vingar o assassínio de seu pai, sob pena de ser perseguido implacavelmente pela Fúrias/Erínias vingadoras. Sem ser acolhido por qualquer criatura humana e sem poder aproximar-se dos altares dos deuses, ele pereceria depois de sofrer castigos indescritíveis.
Junto ao túmulo do pai, Orestes e Electra ajudados pelas cativas componentes do coro, imploram a proteção e a ajuda da alma de Agamêmnon à sua causa. Disfarçados em viajantes vindos da Focis, Orestes e Pílades são acolhidos amistosamente por Clitemnestra, depois de lhe dizerem que seu filho tinha morrido no exílio. A rainha manda a velha ama de Orestes buscar Egisto, que estava ausente do palácio juntamente com seu corpo de guardas. As cativas do coro convencem a ama a modificar a mensagem de Clitemnestra, de modo que Egisto voltasse sozinho, deixando seus guardas longe do palácio. Logo após a chegada de Egisto, ele e Clitemnestra são mortos por Orestes, indiferente às súplicas maternas. Mostrando o manto ensangüentado em que seu pai fora imobilizado antes de ser morto, Orestes ressalta a justiça de seu ato de vingança. Em seguida sua mente começa a perturba-se. As Fúrias/Erínias vingadoras de sua mãe, invisíveis às outras pessoas presentes, aparecem diante dos olhos desvairados de Orestes, que se afasta precipitadamente.

Interpretação da obra:
Coéforas faz parte de uma trilogia, Agamêmnon, Coéforas e Eumênides. De fácil entendimento, mostra um panorama geral do que a precedeu e sugestiona o que está para acontecer. As tragédias gregas sempre têm como fio condutor, Coéforas não foge à regra, a necessidade do Homem manter-se no caminho da razão e do comedimento, tentando não agir por impulsos, para não provocar a ira de algum deus ou a vingança de outrem. Não se trata de ser bom ou ruim, mas de passar da medida. Em Coéforas quem vem pagar pela falta de medida é Clitemnestra e Egisto, assassinos de Agamênon. É importante frisar que a vingança de Orestes, personagem do livro, não é decidida por ele, mas por um deus, o que mostra a relação deuses - homens na sociedade grega, justificando também mais tarde em Eumênides sua absolvição. Dentro da estrutura da encenação, é interessante pensar no corifeu, em Coéforas como em Eumênides, o coro não está fazendo apenas um comentário da ação, mas interferindo na ação, às vezes até agindo. Um exemplo seria quando a ama vai buscar Egisto e o Corifeu a interpela, sugerindo que o busque sem o acompanhamento da sua guarda, ou seja, o corifeu participa da ação contribuindo para que o plano de Orestes tenha êxito. O coro como representação da sociedade, solicita a concretização da vingança, pois não foi uma pessoa comum assassinada, mas o rei, um rei herói, orgulho dos Aqueus, morto sorrateiramente.

Justiça e vingança são conceitos de base desta peça.

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