terça-feira, 1 de abril de 2014

O BODE EXPIATÓRIO

Título original: Le bouc émissaire
Autor: René Girard
Tradução: Ivo Storniolo
Editora: Paulus Editora
Assunto: Ciências sociais-antropologia
Edição
Ano: 2004
Páginas:  277 pág.


Sinopse: Édipo é expulso de Tebas como responsável pela peste que se abate sobre a cidade. A vítima está de acordo com seus carrascos. A infelicidade apareceu porque ele matou seu pai e casou-se com sua mãe. 'O bode expiatório' supõe sempre a ilusão persecutória. Os carrascos crêem na culpabilidade de suas vítimas; estão convencidos, no momento da aparição da peste negra no século XIV, de que os judeus envenenaram os rios. A caça às bruxas implica que juízes e acusadas crêem na eficácia da bruxaria. Os evangelhos gravitam ao redor da paixão como todas as mitologias do mundo, mas a vítima rejeita todas as ilusões persecutórias, recusa o ciclo da violência e do sagrado. O bode expiatório torna-se o cordeiro de Deus. Assim é destruída para sempre a credibilidade da representação mitológica. Permanecemos perseguidores, mas perseguidores vergonhosos. Toda violência doravante revela o que a paixão de Cristo revela; a gênese imbecil dos ídolos sangrentos, de todos os falsos deuses das religiões, das políticas e das ideologias.
Excerto: “As comunidades medievais temiam de tal modo a peste que até seu nome as apavorava; evitavam o mais que podiam pronunciá-lo e mesmo tomar as medidas que se impunham, com o risco de agravar as consequências das epidemias. Sua impotência era tal que reconhecer a verdade não seria enfrentar a situação, mas antes entregar-se a seus efeitos desagregadores, renuncia a todo aspecto de vida normal. A população inteira se associava voluntariamente a esse tipo de cegueira. Tal vontade desesperadora de negar a evidência favorecia a caça aos ‘bodes expiatórios’

O fabulista La Fontaine em sua obra ‘Os animais doentes da peste’, “sugere admiravelmente esta repugnância quase religiosa de pronunciar o termo apavorante e assim, de algum modo, desencadear seu poder maléfico na comunidade: A peste (pois é preciso chama-la por seu nome) ....”

La Fontaine “nos faz assistir ao processo da má-fé coletiva, que consistem em identificar na epidemia um castigo divino. O deus está irritado por uma culpabilidade que não é igualmente partilhada por todos. Para afastar a praga, ele faz descobrir o culpado e trata-lo em consequência, ou então como escreve: ‘consagrá-lo’ à divindade.”

“Os primeiros interrogados, na fábula, são animais predadores que descrevem hipocritamente seu comportamento de animal predador, que logo a seguir é escusado. O asno vem em último lugar e é ele, o menos sanguinário e, por isso mesmo, o mais fraco e o menos protegido, que se vê, afinal de contas, apontado.” (os grifos são meus).


Sobre o autor: René Girard, antropólogo, pensador e crítico literário francês, nasceu em Avignon, em 25 de dezembro de 1923, e se formou em paleografia pela École Nationale des Chartes. Depois da Segunda Guerra transfere-se para os EUA, onde desenvolve carreira universitária, obtendo doutorado na universidade de Indiana. Trabalha como professor de literatura na Universidade de Nova Iorque, John Hopkins. Atualmente leciona na Universidade de Stanford, na Califórnia.

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