quinta-feira, 5 de julho de 2012

A GÊNESE DO DOUTOR FAUSTO

Título original: Die Entstehung des Doktor Faustus
Autor: Thomas Mann (1875-1955)
Tradutor: Ricardo Ferreira Henrique
Assunto: Romance (Teoria e crítica literária)
Editora: Mandarim
Edição: 1ª
Ano: 2001
Páginas: 184

Sinopse: Thomas Mann decidiu reconstruir o processo de elaboração de sua grande obra da velhice. Planejado como mero “fragmento biográfico”, A gênese do Doutor Fausto foi composto com base no seu diário íntimo e tornou-se o romance sobre um romance – mais que uma exegese literária, um relato pessoal ancorado na vida cotidiana dos tumultuados anos 40.

Durante a criação do Doutor Fausto, escrito entre maio de 1943 e janeiro de 1947, Thomas Mann registrou em seu diário os fatos políticos, históricos e pessoais da época e, um ano e meio após a conclusão do livro, começou a escrever A gênese do Doutor Fausto, a partir daqueles apontamentos.

Este livro, como o próprio Thomas Mann reconheceu, é uma “confissão direta” que serve, na leitura do Doutor Fausto, como acompanhamento indicador de todos os fatos pessoais e históricos do contexto. É muito mais do que isso, no entanto: nele o autor revela, com enorme riqueza lingüística e cultural e ironia ímpar, “a singularidade da experiência produtiva”, as pesquisas e leituras que fez para elaborar o Doutor Fausto e o nome daqueles que influenciaram na criação das personagens. Acima de tudo, ao transcrever trechos de seu diário e comentá-los, Thomas Mann faz de si personagem e de sua vida, romance dos mais magníficos.

O tradutor do livro comenta que motivos não lhe faltavam para desejar esmiuçar a história do livro: no Doutor Fausto, Thomas Mann experimentara técnicas narrativas novas, mesclando planos temporais, ficção e realidade, fazendo empréstimos ao destino de Nietzsche, à teoria musical de Schönberg, aos dramas de Shakespeare. Na Gênese, são reveladas a participação crucial do filósofo Adorno na construção do romance e a grande carga autobiográfica que Mann ali depositou, dos suicídios das irmãs ao deslumbramento pelo neto Frido.

Ao retraçar suas pesquisas e leituras para o trabalho, o septuagenário discorre com entusiasmo e maestria sobre quatro séculos de cultura, comentando obras de colegas, como Stendhal e Hauptmann, os contos de Stifter e os romances de Conrad, discutindo Beethoven e Goethe com o mesmo afã com que se mede com Joyce, Hesse, Proust.

A gênese do Doutor Fausto oferece um amplo panorama histórico do final da Segunda Guerra e do despontar da guerra fria. No papel de grande escritor banido pelos nazistas, Thomas Mann circulou nos meios diplomáticos de Washington e nas rodas glamourosas de Hollywood em conflito ideológico constante com seus conterrâneos exilados. Assim são revivificados. No calor da hora e sob a pena afiada, não só Roosevelt e Litwinow, mas ainda Chaplin e Arthur Rubinstein, Brecht e Alfred Döblin.

O subtítulo romance sobre um romance traz um grão da ironia que o autor tanto preza em seus próprios escritos e remete à fluidez das fronteiras entre os gêneros literários.

Para melhor aproveitamento da leitura desta obra recomendo ler antes o Doutor Fausto. Àqueles que desejarem se aprofundar no conhecimento do grande escritor alemão, recomendo igualmente a leitura de THOMAS MANN Uma biografia, de Donald Prater, tradução de Luciano Trigo, Editora Nova Fronteira. (Anatoli Oliynik).

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