quinta-feira, 18 de março de 2010

A QUEDA

Título original: La ChuteAutor: Albert Camus
Tradução: Valerie Rumjanek
Editora: Record
Assunto: Romance
Edição: 12ª
Ano: 2002
Páginas: 114

Sinopse: "A queda" narra a história de um advogado francês que num bar de marinheiros em Amsterdam, faz seu exame de consciência a um desconhecido. Após presenciar o suicídio de uma mulher nas águas do Sena, se isola completamente do mundo.


Comentários: Como assinala um dos biógrafos de Camus, A queda “é talvez a mais penetrante, mais pessoal de suas obras de criação, assim como a chave para entender seus anos mais sombrios”. É das desilusões e da solidão de Camus, assim como da sua mágoa de ser julgado e condenado pelos intelectuais, que surgiu o longo monólogo do livro.


O narrador, autodenominado “juiz-penitente”, faz uma grande denúncia da própria natureza humana misturada a um penoso processo de autocrítica.


O homem que fala em A queda se entrega a uma confissão calculada”, escreveu Camus sobre o romance. E pergunta: “Onde começa a confissão e onde começa a acusação?”. É a reação do homem que aceita e assume suas responsabilidades pelos erros da humanidade. Mas que não quer fazê-lo sozinho, que deseja ver cada um de nós fazer o mesmo. “Aquilo que o homem suporta com mais dificuldade é ser julgado.


O ser humano tem uma sede desmesurada de absoluto; quer compreender o mundo, quer reduzi-lo a si mesmo, quer fazê-lo seu, só que entre o mundo e o homem há um grande divórcio. Não se trata de uma exclusão, mas antes de uma presença comum de duas realidades que são mutuamente alheias e ininteligíveis.

Tanto de si como do mundo, o homem só conhece estilhaços, pedaços aqui e acolá que de forma alguma lhe proporcionarão um verdadeiro conhecimento. De nada servirão ao homem as mais perfeitas e acabadas teorias da ciência que perversamente tudo pensam explicar, quando nem de si próprio o homem tem certezas!

O mundo camusiano é o mundo do absurdo. Camus se revolta porque acha o mundo injusto, assim como muitos intelectuais de sua época e hodiernos que se revoltam e acham que o Estado é capaz de resolver a ordem estabelecida por Deus. Camus, os intelectuais e mesmo pessoas comuns não compreendem que existe uma condição humana que é trágica e que pode ser minorada, mas não suprimida.

Resumo da narrativa: Certa noite, atravessando a Pont des Arts, ouviu algo como uma gargalhada. Virou-se. Não viu ninguém. Foi uma iluminação. Naquela mesma ponte, numa outra noite, há muitos anos, Clamence viu uma mulher jogar-se no Sena. Talvez pudesse salvá-la. Não fez nada. Tornou-se culpado. Agora, como por um golpe, reconhece que todos os seus sentimentos nobres sempre foram apenas máscaras do seu egoísmo, da sua covardia – a partir desse momento, virou outro homem. Abandonou a advocacia. Procurou a companhia de receptadores, cáftens e prostitutas. Enfim, retirou-se para Amsterdam, ‘Refugiado num deserto de pedras, de brumas e de águas pútridas, profeta vazio para tempos medíocres, Elias sem Messias... cobrindo de imprecações homens sem lei que não podem suportar nenhuma julgamento.’ Fixou sua residência num obscuro bar no Zeedijk, no bairro do porto, esperando quem pudesse servir-lhe de confessor.

O livro é mesmo essa confissão, feita a nós outros: retrato e espelho ao mesmo tempo, oferecido para que os ouvintes se reconheçam no espelho e se julguem assim como Jean Baptiste Clamence se julgou. (Excerto entre aspas, extraído de “A queda de Camus”. Otto Maria Carpeaux, v. 1, p. 660)

Otto Maria Carpeaux afirma que a confissão de Jean-Baptiste Clamence não é o espelho que reflete o retrato “de tous et de personne”. Reflete apenas a atitude de Albert Camus, penitenciando-se de sua excessiva confiança nas possibilidades morais da condição humana. É a queda do próprio Albert Camus, conclui.

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