sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O HOMEM SEM QUALIDADES


Título Original: Der Mann ohne Eigenschaften
Autor: Robert Musil
Tradução: Lya Luft e Carlos Abbenseth
Editora: Nova Fronteira
Assunto: Romance (Literatura estrangeira)
Edição: 1ª
Ano: 2006
Páginas: 1280

Sinopse: O livro trata da decadência do Império Austro-Húngaro (1867-1918), na sua tentativa de acomodação das múltiplas nacionalidades que compreendia a Áustria, a Hungria, a Tcheco-Eslováquia e parte da Polônia, da Romênia, da Iugoslávia e da Itália por um lado, e a tentativa de construção de um Império Racial que culminou no surgimento do Nazismo, por outro. Trata-se, portanto da crônica de um momento histórico e a perda da espiritualidade do povo europeu criando uma espécie de vazio de sentido que precisava ser preenchido de alguma forma.

Robert Musil descreve, neste romance satírico-filosófico de idéias, o vácuo absoluto que o mundo Europeu produziu com a destruição dos valores antigos de espiritualidade (Reino da Qualidade) e que possibilitou a instalação da ruptura existencial (Reino da Quantidade), fruto dos três filhos bastardos produzidos pela Revolução Francesa: Liberté, Égalité e Fraternité.

Ulrich, personagem do livro, vive diversas experiências, viaja ao exterior e, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, retorna a Viena. Convive com os mais diversos tipos humanos. Este romance-ensaio mostra a decadência dos valores vigentes até o início do século XX, marcando a perda de posição da Europa na decisão dos rumos políticos e econômicos mundiais.

A constatação de que as ciências se transformaram no grande agente transformador da sociedade, ocupando de certa forma o lugar das artes, tomando para si o papel da vanguarda e impulsionando o homem a estabelecer uma nova relação com o mundo, trouxe às linguagens artísticas um novo desafio. A violência dos conceitos da física quântica, da relatividade, das descobertas da ciência genética colocou o homem diante de questões absolutamente novas, tendo que reformular sua ética, com novos princípios, uma mudança significativa das crenças, dos costumes, antes mesmo da tomada de consciência de uma mudança racional.

A observação que a modernidade vienense formulou perguntas e respostas até hoje válidas para a compreensão da nossa realidade contemporânea também procede para a obra-prima do escritor austríaco Robert Musil. Esse homem sem qualidades é considerado como protótipo para o mundo moderno, marcado pela erosão do singular, a "perda da individualidade" ou questionamento radical do sujeito. A alienação do indivíduo, o que já não existe mais em termos substanciais, também vale para a sociedade de massas como um todo. Esta visão da fragmentação das sociedades modernas, racionalizadas e funcionalizadas, implica a existência de definições contrárias e não compartilhadas da realidade; segue disso uma aporia da comunicação, decorrente da congruência insuficiente dos padrões básicos de interpretação e sistemas de relevância.

Fica, entretanto, a grande pergunta histórica: Como se explica o fenômeno do Nazismo dentro de uma nação que foi a Catedral da Civilização, que produziu quase a metade da filosofia contemporânea e da música clássica?


Sobre o autor:
Robert Edler von MUSIL (1880-1942) nasceu em Klagenfurt, na Áustria, e morreu pobre – quase esquecido e dependendo da ajuda de amigos – em Genebra, na Suíça, em plena II Guerra Mundial.

Aos dez anos Musil entrou para a Escola Militar em Eisenstadt, destinado à carreira de oficial. Estudou durante mais de cinco anos em instituições do exército até chegar à Academia Militar de Viena, em 1897. Um ano depois, Musil decidiu largar a carreira de oficial e passou a estudar Engenharia em Brünn, obtendo o diploma da graduação em 1901. Depois de uma temporada em Stuttgart, cursou Filosofia e Psicologia experimental na Universidade de Berlim, doutorando-se em 1908 com tese sobre Ernst Mach (1838-1916),[1] físico e filósofo austríaco. Os estudos de Mach sobre o fenômeno da descontinuidade e da dissociação, assim como suas teses a respeito do “eu condenado” (unrettbares Ich), seriam decisivos na formação de vários escritores vienenses, entre eles Arthur Schnitzler e o próprio Musil.

De 1914 a 1918, Musil participou ativamente da I Guerra Mundial na condição de oficial de Infantaria do exército austríaco. Ao final dos combates chegou a capitão, condecorado com a principal ordem de guerra do moribudo império (Ritterkreuz des Franz-Josephs-Ordens). Só a partir de 1923, e já morando em Berlim, é que Musil passaria a viver exclusivamente de sua condição de escritor.

A ascensão do nazismo, em 1933, obrigou o autor a se mudar para Viena e, mais tarde – depois de se sentir numa ratoeira, conforme ele mesmo chegou a escrever em seu diário –, para Genebra, aonde veio a falecer em 15 de abril de 1942.

[1] Ernst Mach inventou também aquele que conhecemos por “número de Mach” ou “número Mach”: o quociente da velocidade dum corpo que se move num fluido pela velocidade do som no mesmo fluido.

Nenhum comentário: