terça-feira, 1 de janeiro de 2013

MUITA RETÓRICA POUCA LITERATURA

De Alencar a Graça Aranha

Autor: Rodrigo Gurgel
Assunto: Crítica literária
Editora: Vide Editorial
Edição: 1ª
Ano: 2012
Páginas: 230

 
Sinopse: Este livro reúne vinte ensaios publicados, entre 2010 e 2012, no jornal Rascunho, numa série, ainda não terminada, cuja proposta é reler os prosadores da literatura brasileira. A leitura segue, de maneira proposital, parâmetros em grande parte desprezados na atualidade, quando a crítica literária não só difunde, mas também sofre dos três males apontados por Tzvetan Todorov: formalismo, niilismo e solipsismo. Trata-se, logo, de uma leitura à contracorrente.

Os ensaios estão dispostos cronologicamente, como convém a um trabalho que, embora crítico e analítico, também se apresenta sob a perspectiva da história. Cada autor eleito comparece com uma obra no tribunal do júri, que o crítico escolheu por seu caráter paradigmático, sua capacidade de representar o conjunto da produção de cada escritor. O movimento interno de cada ensaio é, portanto, de alternância, sempre ágil, entre análise particular da obra escolhida e a perspectiva global do autor focalizado.

Entre os autores analisados encontram-se os nomes clássicos de José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Raul Pompéia e Machado de Assis, mas Rodrigo Gurgel também relê grandes prosadores esquecidos, como João Francisco Lisboa, Joaquim Felício dos Santos, Eduardo Prado e vários outros.

Comentários: 1) Deve o leitor se lembrar da reivindicação de Croce: que a história da literatura seja feita por autores, não por “épocas” ou “estilos”. Este Muita Retórica Pouca Literatura não é historiográfico, mas sob aquele aspecto é livro croceano, e livro deliciosamente “impressionista” – graças a Deus.

O título deste conjunto de ensaios poderia denunciar uma tese; denuncia, antes, a impossibilidade de quaisquer “teses” em grande parte de nossa literatura: o gosto pelo verbo fácil a par do desgosto de imaginações pouco poderosas, entre os que fundaram nossa prosa literária, concorrem para a formação de um vício da nação – o cosmetismo cultural, de que o formalismo desvairado e inculto de nossos romances mais recentes são o último rebento.

O drama, aqui, encontra-se no embate, amiúde velado, entre as figuras-tipo José de Alencar e Manuel Antônio de Almeida. Porque não teve descendência que confessasse sua paternidade, Memórias de um sargento de milícias, mostra Gurgel, merece revisita para que nele reencontremos algo de muito machadiano, o que se insere numa saudável – porém nem sempre prazerosa de se ler – genealogia da sensibilidade nacional.

Destacam-se aqui, ainda, a prosa de João Francisco Lisboa, esse Juvenal brasileiro; do reacionário Eduardo Prado; da pouco conhecida memorialística de Taunay. E tem ainda Gurgel o topete de nos apontar o que há de enfado em Dom Casmurro e explicar por que Canaã é “o mais pedante romance brasileiro”.

Que este livro nos reavive o bom costume, hoje fora de moda, de nos estapearmos furiosamente pela leitura direta de nossos clássicos. Amen. (Ronald Robson)

2) Li a obra de um só folego, dois dias após o lançamento em outubro de 2012. Recomendo a sua leitura desta e justifico utilizando os argumentos de José Carlos Zamboni que diz textualmente: “É preciso avisar os cursos de Letras, com certa urgência: a crítica literária ainda é perfeitamente possível. Só não esperem o renascimento dentros dos muros da universidade.” Faço minhas, as palavras de Zamboni. (Anatoli Oliynik)
 

A SEGUIR DOIS VÍDEOS
 

Palestra de lançamento com Rodrigo Gurgel - "Muita Retórica - Pouca Literatura"

 



Olavo de Carvalho comenta Muita Retórica - Pouca Literatura