sexta-feira, 4 de junho de 2010

O PATO SELVAGEM

Título original: Vildanden
Autor: Henrik Ibsen
Tradução: Vidal de Oliveira
Editora: Globo
Assunto: Drama
Edição: 1ª edição, 2ª impressão
Ano: 1960
Páginas: 630
Nota: Publicado sob o título “Seis Dramas”.

Sinopse: “O Pato Selvagem” é uma história da consciência moral que aborda tragicamente a fragilidade humana, cuja felicidade é destruída pelo fanatismo idealista da verdade absoluta. Narra o drama de Hjalmar Ekdal, um poeta frustrado que acabou como fotógrafo lamentável que vive sem o saber de onde vem o dinheiro que sustem a sua família e de seu amigo de infância, Gregers Werle, um moralista militante que assume o fanátismo pela verdade como finalidade de sua vida, destrói a mentira e arruina a vida rotineira do casal Ekdal e causa o suicídio da filha.

Interpretação da obra: A verdade liberta? Essa parece ser a questão que Ibsen coloca nesta peça que mostra um casamento feliz construído sobre uma mentira. Esta família ficaria melhor se soubesse da verdade? Ela continuaria a existir se a mentira fosse exposta?

Gregers descobre a verdade sobre a origem do casamento de um amigo de infância com a ex-governanta de sua casa. Este casamento já dura 14 anos e gerou uma filha, a encantadora Hedvig, dona do pato selvagem que produz a metáfora do título. Gregers quer resgatar o pato que fica preso no lodo do fundo do lago, uma referência à mentira. Ele é um militante moralista, narcisista e idealista da verdade que acredita ser seu dever mostrar a verdade ao amigo. Mas ele, em momento algum, mede as conseqüências de tal ato.

Existem muitas sutilezas aqui. Até que ponto Gregers quer realmente a verdade por um ideal e até que ponto deseja simplesmente se vingar do pai? Ele têm o direito de interferir na vida dos outros a este ponto?

Um leitor menos atento, pode achar que a peça é um argumento que a mentira pode ser mais saudável que a verdade, que pode trazer mais felicidade do que a verdade, contrariando a própria essência da filosofia, a busca pela sabedoria. Nada poderia ser mais falso. Ao colocar ao leitor que só existem dois caminhos, a verdade ou viver na mentira, o próprio Ibsen chama atenção que o caminho pela verdade poderia ser feito lá atrás, antes da consumação do casamento.

Mais do que isso, cabia ao próprio casal, pelo menos para Hjalmar, encontrar a verdade por si mesmo. A verdade pode ser muito mais profunda do que simplesmente saber sobre o passado da esposa ou mesmo da paternidade de Hedvig, a verdade na verdade está na natureza das pessoas. Gina pode ter errado em esconder a verdade sobre seu relacionamento com o pai de Gregers, mas o casamento em si pode ter sido edificado em uma verdade maior do que todas as contingências, o amor de um casal e o amor pela filha. Essa é a verdade que importa. Quando Gregers conta o que aconteceu a Hjalmar, ele lança uma sombra que esconde esta verdade, que Hjalmar ama sua esposa e sua filha. Gregers não revelou nenhuma verdade de fato, ele lançou uma mentira sobre os verdadeiros sentimentos de uma família que até então vivia em harmonia e feliz. Foi preciso uma tragédia para que a verdade fosse a tona novamente.

A mensagem mais importante é que ninguém, por melhor intenção que tenha, pode saber o que é melhor para o outro ou interferir em uma família da maneira que Gregers fez. O mundo está cheio de pessoas que acham seu dever resolver os problemas particulares dos outros quando na verdade deveriam estar ocupadas com suas próprias verdades. A verdade liberta sim, mas não do jeito que Gregers tentou fazer. A verdade não pode ser imposta a ninguém, deve ser encontrada por cada um.

Conclusão:

― A obrigação moral não é fiscalizar a vida dos outros. Ninguém tem esse direito ou obrigação, mas tão somente a de fiscalizar a sua própria vida.

― Só uma mente revolucionária pode pensar o contrário.

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