Autor: Gustavo Corção (1896-1978)
Editora: Agir
Assunto: Ensaio filosófico
Edição: 6ª
Ano: 1961
Páginas: 315
Sinopse: Pode-se dar uma idéia deste livro de Gustavo Corção
citando trechos de seu capítulo sobre “um bom parceiro”: “uma das grandes alegrias que nos são dadas, neste mundo tantas vezes
inóspito e doido, é o encontro de um bom parceiro de idéias” (p. 81). O
autor desenvolveu o conceito inicial e, depois de falar de bisca, xadrez,
mosteiros e casas de negócio, confessa ter encontrado em Chesterton um bom
parceiro. É aí que nos dá a chave do seu livro e até mesmo de seu estilo.
“Veja bem o
leitor que não me estou gabando de aproximações literárias, mas de aproximações
humanas. A afinidade de idéias é uma semelhança e não uma igualdade, equipara
os ângulos, mas ressalva as proporções. Encontrei-me a mim mesmo em Chesterton,
porque as mais simples e triviais idéias que para mim pareciam relíquias de
família, desprezíveis nas altas esferas da cultura, eram suas idéias mestras, e
eram realmente relíquias de família. E sobretudo, eram idéias regeneradoras e
fecundas. Faça o leitor a mesma experiência. Leia Chesterton; jogue com ele
esse melhor dos jogos, em que as idéias são atiradas de campo para campo, e em
que o lucro pode perfeitamente ser a recuperação do tempo perdido que Proust,
em quatorze volumes, não encontrou.”
Ora, o convite de Gustavo Corção ao leitor, a
propósito de Chesterton, nós o repetimos a propósito de Gustavo Corção. Faça o leitor
a experiência: leia Gustavo Corção, leia este livro de Gustavo Corção. A falar
da vida e da obra de um dos grandes escritores de nosso tempo – Chesterton – o leitor
encontrará aqui um ensaísta dos mais lúcidos, um crítico dos mais inteligentes,
um autor dos que melhor escrevem atualmente no Brasil.
Se o leitor conhece alguma coisa de Chesterton,
compreenderá muito melhor a obra do extraordinário humorista inglês, depois do
contato com este seu parceiro fiel, mais que um discípulo, pois sua “aproximação
humana” com o Mestre muitas vezes conduz a uma equiparação real e legítima
entre ambos, senão mesmo a uma superação, quando é o caso de transportar o
espírito e as idéias do criador do distributismo ao exame dos acontecimentos e
de criações posteriores a 1936, data de seu desaparecimento da vida e de seu
aparecimento para o biógrafo: “não dei
pelo seu desaparecimento, mas senti, com a impetuosa evidência de uma janela
aberta, o seu aparecimento.” E se o leitor apenas ouviu falar de Chesterton
aqui o encontrará vivo e estuante [ardente] e só fechará a última página de
Três Alqueires e uma Vaca, para correr imediatamente à experiência a que foi
convidado por Gustavo Corção.
Esta é sobretudo uma biografia de Chesterton, escrita
à maneira de Chesterton.
A partir das ideias centrais do pensamento desse
exuberante e humaníssimo escritor – a do mistério, a da fidelidade e a da
propriedade – (“O humanismo de Chesterton”, “O homem e sua idéias”, “Para não ser
doido”, “Para não ser bárbaro”, “Para não ser escravo”, são as cinco partes do
livro), Gustavo Corção faz, a propósito de seu biografado, o mesmo que fez
Chesterton a propósito de São Francisco de Assis ou de Santo Tomás, de Dickens,
de William Blake ou de Robert Browning, isto é, preocupa-se menos com os
incidentes de sua vida do que com a exploração e aplicação exaustiva de suas
idéias, donde encontramos neste Três Alqueires e uma Vaca um riquíssimo e
fecundíssimo material de pensamento. Enxameiam os ensaios de estética, de psicologia,
de história, de religião, de política; reminiscências pessoais e páginas de
crítica (sobre Poe, sobre Nietzsche, sobre Gide etc.) são misturadas a
conceitos sobre liberdade, democracia, Estado, Nação, socialismo,
capitalismo...
Gustavo Corção atinge – o próprio leitor o verificará –
o ideal que se impôs, embora com certo ar desconfiado: “eu queria ser um gênio para
convencer ao leitor que a idéia mais poética e mais maravilhosa do mundo está
ligada à posse de três alqueires e uma vaca. Ou então, o que é muito mais
fácil, eu queria que o leitor fosse um homem extremamente simples, para
descobrir isto sozinho.”
Sobre o autor: Gustavo Corção (Rio
de Janeiro, 17 de dezembro de 1896 – Rio de Janeiro, 6 de julho de 1978) foi um
escritor e pensador católico brasileiro, autor de diversos livros sobre política
e conduta, além de um romance. Foi membro da antiga União Democrática Nacional
(UDN) e um expoente do pensamento conservador no Brasil.
Sua obra é
influenciada pelo Distributismo, a
apologia católica do escritor inglês G.K. Chesterton, influência extensamente
explicada no seu ensaio Três Alqueires e uma Vaca. Entretanto, uma outra
influência sobre o seu pensamento veio do filósofo Jacques Maritain.
Formado engenheiro,
Corção só obteve notoriedade no campo das idéias aos 48 anos, ao publicar o
livro A Descoberta do Outro, narrativa autobiográfica de sua conversão
ao catolicismo (influenciado por Alceu Amoroso Lima). Como engenheiro, era um
apaixonado pela eletrônica. Foi durante anos professor dessa disciplina na
Escola técnica do Exército, atual Instituto Militar de Engenharia. O amor à
eletrônica e à música sacra levou-o a ser um estudioso e intérprete de órgão
Hammond. Este instrumento musical tornou-se uma de suas paixões, tanto pela
engenhosidade de sua construção como por sua sonoridade.
Sua produção
literária e seu estilo foram considerados por muitos na mesma altura da de Machado
de Assis, autor que o inspirou a produzir e publicar uma antologia (Machado de
Assis, Livraria AGIR, Rio de Janeiro).
Sobre Gustavo
Corção, Raquel de Queiroz afirmou em 1971: “A maioria dos brasileiros conhecem
duas faces de Gustavo Corção. Uma, a do escritor exímio, a usar como ninguém a
língua portuguesa, o autor que, vivo ainda, graças a Deus, é um indiscutível
clássico da literatura nacional.[...]. A segunda face é a do anjo combatente,
de gládio na mão, a castigar os impostores que vivem a gritar o nome de Deus e
da Sua Igreja, não para os louvar, antes para apregoar na feira inocente-útil
do ‘progressismo’.
Principais
obras do autor:
·
A Descoberta do Outro
·
Três Alqueires e Uma Vaca
·
Lições de Abismo (Romance)
·
As Fronteiras da Técnica
·
Dez Anos
·
Claro Escuro
·
Machado de Assis
·
Patriotismo e Nacionalismo
·
O Desconcerto do Mundo
·
Dois Amores Duas Cidades
·
O Século do Nada
·
A Tempo e Contra-tempo
·
Progresso e Progressismo
·
As Descontinuidades da Criação
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