domingo, 1 de junho de 2014

TRÊS ALQUEIRES E UMA VACA



Autor: Gustavo Corção (1896-1978)
Editora: Agir
Assunto: Ensaio filosófico
Edição: 6ª
Ano: 1961
Páginas: 315

Sinopse: Pode-se dar uma idéia deste livro de Gustavo Corção citando trechos de seu capítulo sobre “um bom parceiro”: “uma das grandes alegrias que nos são dadas, neste mundo tantas vezes inóspito e doido, é o encontro de um bom parceiro de idéias” (p. 81). O autor desenvolveu o conceito inicial e, depois de falar de bisca, xadrez, mosteiros e casas de negócio, confessa ter encontrado em Chesterton um bom parceiro. É aí que nos dá a chave do seu livro e até mesmo de seu estilo.
Veja bem o leitor que não me estou gabando de aproximações literárias, mas de aproximações humanas. A afinidade de idéias é uma semelhança e não uma igualdade, equipara os ângulos, mas ressalva as proporções. Encontrei-me a mim mesmo em Chesterton, porque as mais simples e triviais idéias que para mim pareciam relíquias de família, desprezíveis nas altas esferas da cultura, eram suas idéias mestras, e eram realmente relíquias de família. E sobretudo, eram idéias regeneradoras e fecundas. Faça o leitor a mesma experiência. Leia Chesterton; jogue com ele esse melhor dos jogos, em que as idéias são atiradas de campo para campo, e em que o lucro pode perfeitamente ser a recuperação do tempo perdido que Proust, em quatorze volumes, não encontrou.
Ora, o convite de Gustavo Corção ao leitor, a propósito de Chesterton, nós o repetimos a propósito de Gustavo Corção. Faça o leitor a experiência: leia Gustavo Corção, leia este livro de Gustavo Corção. A falar da vida e da obra de um dos grandes escritores de nosso tempo – Chesterton – o leitor encontrará aqui um ensaísta dos mais lúcidos, um crítico dos mais inteligentes, um autor dos que melhor escrevem atualmente no Brasil.
Se o leitor conhece alguma coisa de Chesterton, compreenderá muito melhor a obra do extraordinário humorista inglês, depois do contato com este seu parceiro fiel, mais que um discípulo, pois sua “aproximação humana” com o Mestre muitas vezes conduz a uma equiparação real e legítima entre ambos, senão mesmo a uma superação, quando é o caso de transportar o espírito e as idéias do criador do distributismo ao exame dos acontecimentos e de criações posteriores a 1936, data de seu desaparecimento da vida e de seu aparecimento para o biógrafo: “não dei pelo seu desaparecimento, mas senti, com a impetuosa evidência de uma janela aberta, o seu aparecimento.” E se o leitor apenas ouviu falar de Chesterton aqui o encontrará vivo e estuante [ardente] e só fechará a última página de Três Alqueires e uma Vaca, para correr imediatamente à experiência a que foi convidado por Gustavo Corção.
Esta é sobretudo uma biografia de Chesterton, escrita à maneira de Chesterton.
A partir das ideias centrais do pensamento desse exuberante e humaníssimo escritor – a do mistério, a da fidelidade e a da propriedade – (“O humanismo de Chesterton”, “O homem e sua idéias”, “Para não ser doido”, “Para não ser bárbaro”, “Para não ser escravo”, são as cinco partes do livro), Gustavo Corção faz, a propósito de seu biografado, o mesmo que fez Chesterton a propósito de São Francisco de Assis ou de Santo Tomás, de Dickens, de William Blake ou de Robert Browning, isto é, preocupa-se menos com os incidentes de sua vida do que com a exploração e aplicação exaustiva de suas idéias, donde encontramos neste Três Alqueires e uma Vaca um riquíssimo e fecundíssimo material de pensamento. Enxameiam os ensaios de estética, de psicologia, de história, de religião, de política; reminiscências pessoais e páginas de crítica (sobre Poe, sobre Nietzsche, sobre Gide etc.) são misturadas a conceitos sobre liberdade, democracia, Estado, Nação, socialismo, capitalismo...
Gustavo Corção atinge – o próprio leitor o verificará – o ideal que se impôs, embora com certo ar desconfiado: “eu queria ser um gênio para convencer ao leitor que a idéia mais poética e mais maravilhosa do mundo está ligada à posse de três alqueires e uma vaca. Ou então, o que é muito mais fácil, eu queria que o leitor fosse um homem extremamente simples, para descobrir isto sozinho.
Sobre o autor: Gustavo Corção (Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1896 – Rio de Janeiro, 6 de julho de 1978) foi um escritor e pensador católico brasileiro, autor de diversos livros sobre política e conduta, além de um romance. Foi membro da antiga União Democrática Nacional (UDN) e um expoente do pensamento conservador no Brasil.
Sua obra é influenciada pelo Distributismo, a apologia católica do escritor inglês G.K. Chesterton, influência extensamente explicada no seu ensaio Três Alqueires e uma Vaca. Entretanto, uma outra influência sobre o seu pensamento veio do filósofo Jacques Maritain.
Formado engenheiro, Corção só obteve notoriedade no campo das idéias aos 48 anos, ao publicar o livro A Descoberta do Outro, narrativa autobiográfica de sua conversão ao catolicismo (influenciado por Alceu Amoroso Lima). Como engenheiro, era um apaixonado pela eletrônica. Foi durante anos professor dessa disciplina na Escola técnica do Exército, atual Instituto Militar de Engenharia. O amor à eletrônica e à música sacra levou-o a ser um estudioso e intérprete de órgão Hammond. Este instrumento musical tornou-se uma de suas paixões, tanto pela engenhosidade de sua construção como por sua sonoridade.
Sua produção literária e seu estilo foram considerados por muitos na mesma altura da de Machado de Assis, autor que o inspirou a produzir e publicar uma antologia (Machado de Assis, Livraria AGIR, Rio de Janeiro).
Sobre Gustavo Corção, Raquel de Queiroz afirmou em 1971: “A maioria dos brasileiros conhecem duas faces de Gustavo Corção. Uma, a do escritor exímio, a usar como ninguém a língua portuguesa, o autor que, vivo ainda, graças a Deus, é um indiscutível clássico da literatura nacional.[...]. A segunda face é a do anjo combatente, de gládio na mão, a castigar os impostores que vivem a gritar o nome de Deus e da Sua Igreja, não para os louvar, antes para apregoar na feira inocente-útil do ‘progressismo’.
Principais obras do autor:
·         A Descoberta do Outro
·         Três Alqueires e Uma Vaca
·         Lições de Abismo (Romance)
·         As Fronteiras da Técnica
·         Dez Anos
·         Claro Escuro
·         Machado de Assis
·         Patriotismo e Nacionalismo
·         O Desconcerto do Mundo
·         Dois Amores Duas Cidades
·         O Século do Nada
·         A Tempo e Contra-tempo
·         Progresso e Progressismo
·         As Descontinuidades da Criação

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