Autor: T. S. Eliot
Tradutor: Eduardo Wolf
Assunto: Ensaio filosófico
Editora: É Realizações
Edição: 1ª
Ano: 2011
Páginas: 144
Sinopse: “Tenho
observado com crescente ansiedade a trajetória da palavra cultura nos
últimos anos. Pode nos parecer natural e significativo que, durante um período
de destruição sem paralelo, essa palavra viesse a ter uma importante função no
vocabulário jornalístico. Seu papel é dividido com a palavra civilização.
Neste ensaio, não busquei de modo algum determinar a fronteira entre os significados
dessas duas palavras, pois cheguei à conclusão de que qualquer tentativa nesse
sentido somente poderia resultar em uma distinção artificial, peculiar à obra,
distinção essa que o leitor teria dificuldade em reter e que, após fechar o
livro, provavelmente o abandonaria com uma sensação de alívio. Com efeito, usamos
assaz frequentemente uma palavra em um contexto no qual a outra quadraria
igualmente bem; há outros contextos em que uma palavra obviamente é adequada e
a outra não; e não creio que isso deva causar embaraço. Existem obstáculos
inevitáveis o suficiente nessa discussão sem que se ergam outros
desnecessários.” T. S. Eliot.
Conteúdo do livro: O próprio T. S. Eliot nos dá os detalhes do que
trata o livro. Tanto melhor, pois assim não corremos o risco de escrever alguma
impropriedade.
Diz Eliot: “No
começo de meu primeiro capítulo, busquei distinguir e relacionar os três
principais usos da palavra e chamar a atenção para o fato de que, quando usamos
o termo em um desses três modos, devemos estar atentos para os demais. A seguir,
tentei expor a relação essencial entre cultura e religião, e deixar claras as
limitações da palavra relação como
uma expressão dessa ‘relação’. A primeira asserção importante é que nenhuma
cultura surgiu ou se desenvolveu a não ser acompanhada por uma religião: de
acordo com o ponto de vista do observador, a cultura aparecerá como o produto
da religião, ou a religião como o produto da cultura.
Nos três
capítulos seguintes, discuto o que me parecem ser três importantes condições
para a cultura. A primeira dessas é a estrutura (não apenas planejada, mas em
desenvolvimento) orgânica, de tal modo que promova a transmissão hereditária de
cultura dentro da própria cultura: e isso requer continuidade de classes
sociais. A segunda é a necessidade de a cultura ser analisável, do ponto de
vista geográfico, em culturas locais: isso levanta o problema do ‘regionalismo’.
A terceira é o equilíbrio entre unidade e diversidade na religião – ou seja,
universalidade da doutrina e particularidade do culto e da devoção. O leitor
deve ter em mente que não pretendo explicar todas as condições necessárias para
que uma cultura floresça; discuto três que chamaram minha atenção em
particular. Deve lembrar-se igualmente de que não ofereço um conjunto de
indicações para a produção de uma cultura. Não estou afirmando que, ao começar
a produzir essas ou outras condições adicionais, podemos confiantemente esperar
que melhoremos nossa civilização. Afirmo apenas que, até onde se pode alcançar
minha observação, é improvável que haja grande civilização onde que que essas
três condições estejam ausentes.
Os dois
últimos capítulos fazem uma modesta tentativa de desembaraçar a cultura da
política e da educação.
Assim, uma
nova civilização está sempre em construção: o estado de coisas que desfrutamos
hoje ilustra o que acontece com as aspirações de cada época por um futuro
melhor. A questão mais importante que podemos perguntar é se existe uma modelo
permanente pelo qual podemos comparar uma civilização com outra, e através do
qual podemos prever o progresso ou o declínio de nossa própria.
Caso sejamos
bem-sucedidos, ainda que em parte, em responder tal questão, devemos ficar alertas
contra a ilusão de tentar produzir tais condições com vistas a
melhorar nossa própria cultura. Pois quaisquer que sejam as conclusões
definitivas a emergirem deste estudo, uma delas certamente é a seguinte: a
cultura é algo ao qual não podemos ambicionar deliberadamente. Ela é o produto
de uma pletora de atividades.
De resto,
devemos buscar a melhoria da sociedade, do mesmo modo como buscamos melhorar
como indivíduos em questões particulares relativamente menores. Não podemos
dizer: ‘Devo transformar-me em uma pessoa completamente diferente’; podemos
dizer apenas: ‘Vou abandonar este mau hábito e tentar adquirir aquele bom’. Do
mesmo modo, a respeito da sociedade somente podemos dizer: ‘Devemos tentar
aperfeiçoá-la quanto a este ou àquele aspecto em particular, em que o excesso
ou a ausência é evidente; devemos tentar incluir simultaneamente em nossa visão
tantas coisas, de maneira a podermos evitar, ao consertar algo que estava
errado, estragar alguma outra coisa’. Até mesmo isso é a expressão de uma
aspiração maior do que podemos efetivamente alcançar: pois é tanto – ou mais –
em virtude do que alcançamos aos poucos, sem compreender ou prever as
conseqüências, que a cultura de uma época difere daquela de sua antecessora.”
"My poetry wouldn’t be what it is if
I’d been born in England, and it wouldn’t be what it is if I’d stayed in
America. It’s a combination of things. But in its sources, in its emotional
springs, it comes from America ."
Sobre o
autor:
Thomas Stearns Eliot (St. Louis, 26 de setembro de 1888 — Londres, 4
de janeiro de 1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário britânico-norte-americano.
Em 1948, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
Eliot nasceu nos Estados Unidos, mudou-se para a Inglaterra
em 1914 (então com 25 anos) e tornou-se cidadão britânico em 1927, com 39 anos
de idade. Sobre sua nacionalidade e sua influência na sua obra, T.S. Eliot
disse:
[Minha
poesia não seria o que é se eu tivesse nascido na Inglaterra, e não seria o que
é se eu tivesse permanecido nos Estados Unidos. É uma combinação de coisas.
Mas, nas suas fontes, na sua força emocional, ela vem dos Estados Unidos.]
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