Título
original: Didascalicon de Studio Legendi
Autor: Hugo de São Vitor (1096-1141)
Tradução: Antonio Marchionni
Editora: Vozes
Assunto: Ensaio Filosófico (Filosofia Medieval)
Edição: 1ª
Ano: 2001
Páginas: 294
Sinopse: Um
mergulho na cultura da Idade Média: este é o Didascálicon da arte de ler, um dos livros medievais mais lidos nos
tempos atuais. Por ele, o leitor sintoniza-se como o universo de pensamentos
humanos e divinos, que habitavam as escolas e as mentes estudantis do século
XII. Este escrito do Mestre Hugo de São Vitor, pequena enciclopédia do saber e
da sabedoria da época, emana e mantém um frescor, que conforta e vivifica o
homem moderno.
Paris vê chegar, no começo de 1100,
onda de jovens vindos de todos os cantos de uma Europa finalmente pacificada,
que vivia um novo florescimento das cidades, após as invasões bárbaras dos
séculos V a VIII e após o período feudal e dos séculos IX e X.
Era um momento cultural único, quando
o papel vindo da China, o velino em pergaminhos finos, a tinta dos árabes, a
minúscula carolíngia, a adoção da escrita em itálico e a caneta com ponta de
feltro facilitavam nas oficinas dos copistas a compilação de livros, que eram
encomendados por bibliotecas, juristas, mercadores e senhores. Este florescer
do século XII em artes e escolas marca, segundo o pedagogo Ivan Illich, o
advento da “cultura livresca”, que vem até os nossos dias, quando o livro está
sendo substituído pelo vídeo.
Hugo de São Vitor é um dos atores
desta “revolução cultural do século XII”. Havia na França três escolas
renomadas: a de Chartres, a de Notre-Dame e, a mais famosa, a da Abadia de São
Vitor, na margem esquerda do Sena. Delas nascerá, em 1215, a Universidade de
Paris. Hugo encarna o espírito da Escola de São Vitor e era conhecido pelos
estudantes como filósofo, teólogo, exegeta, místico, gramático.
Vendo tantos jovens desejosos de
estudar, o Mestre Hugo quis oferecer-lhes uma introdução ao saber, um livro que
apresentasse as várias disciplinas e auxiliasse o estudante a montar o seu
próprio itinerário intelectual. Nasce assim, em 1127, o Didascálicon da arte de ler,
resumo dos saberes seculares e divinos da época e exortação acerca do que ler,
como ler, em qual ordem ler.
Trata-se, na história, do primeiro
livro endereçado aos estudantes. Pela primeira vez na história as “ciências
mecânicas”, isto é, o trabalho manual, passam a fazer parte da reflexão
filosófica. Atento ao desenvolvimento histórico dos homens, Hugo conjuga
material e espiritual, tradição e novidade, corpo e alma, temporal e eterno,
Ciência e Sapiência.
Era este o ar existencial e sublime
que se respirava nas escolas, ruas e cantinas estudantis de Paris. Esta é a
brisa que o livro traz aos leitor de hoje, quase uma saudade da casa.
Sobre o autor: Hugo de
São Vitor nasceu na Saxônia, que hoje faz parte do território da Alemanha, no
ano de 1096. Ainda jovem sentiu a vocação religiosa e mudou-se para Paris com a
intenção de ingressar no Mosteiro de São Vitor, no qual residiu até a sua morte
em 1141. Ele viveu, portanto, na primeira metade do século dos anos 1100.
A época em que viveu Hugo de São Vitor foi uma das mais importantes da
história da civilização ocidental, pois foi nela que começaram a se organizar
as nações que hoje fazem parte da Europa.
Mil e cem anos antes da época de Hugo, quando nasceu Jesus Cristo, não
existiam Inglaterra, França, Alemanha, Portugal nem tantos outros países da
Europa. Na época de Cristo a Europa, o norte da África e o Oriente Médio
constituíam um todo conhecido como Império Romano. A ausência de fronteiras e
as facilidades de comunicação dentro de um império tão grande muito auxiliou
para que o cristianismo se propagasse mais facilmente por todo o mundo
civilizado daquele tempo.
Entretanto, a partir dos anos 400 e durante vários séculos que se
seguiram, muitas hordas de bárbaros provenientes da Europa Oriental e do
interior da Ásia passaram a invadir o território do Império Romano que acabou
aos poucos se esfacelando. Embora tivesse havido algumas épocas de calma, as
invasões e as desordens que resultaram delas só puderam começar a ser
definitivamente controladas, possibilitando a organização daquelas que são as
atuais nações da Europa, na época de Hugo de São Vitor. Entre o ano 1100,
próximo ao nascimento de Hugo, e o ano 1300, próximo à morte de Santo Tomás de
Aquino, houve um extraordinário renascimento da civilização na Europa em todos
os aspectos, incluindo a vida religiosa, a teologia e a educação. Pertencem a
este período da história as vidas de São Francisco de Assis e de São Domingos.
No início deste período, no ano 1100, São Vitor era o nome de uma
capelinha situada nos arredores de Paris e freqüentada por pessoas que vinham,
longe do tumulto da cidade, consagrar algum tempo à meditação e à oração. Em
1108, com o fim de melhor poder dedicar-se às coisas de Deus, um sacerdote
professor da escola anexa à Catedral de Notre Dame, chamado Guilherme de
Champeaux, transferiu-se para lá junto com vários de seus alunos. Mesmo
residindo em São Vítor,
Guilherme continuou sendo procurado, não só pelo seu exemplo, como também pelos
seus ensinamentos, que não deixou de ministrar. Assim surgiu ali o mosteiro de
São Vítor.
Quando Hugo pediu para ser admitido no mosteiro de São Vitor, Guilherme
já não residia mais nele. Tinha sido promovido a bispo e havia deixado outros
em seu lugar, encarregados do governo do mosteiro. Algum tempo depois a tarefa
de organizar a escola de Teologia anexa ao mosteiro seria confiada a Hugo de
São Vitor.
Raras vezes na história humana uma escolha pôde ter sido tão feliz. No
mosteiro organizava-se uma grande biblioteca que daria acesso a Hugo ao que de
melhor havia sido escrito pela tradição cristã. A fama de São Vitor já havia
atravessado as fronteiras e espalhava-se por toda a Europa; ela trazia ao
mosteiro, de todas as partes, estudantes de notável talento, como tinha sido o
caso do próprio Hugo, que para lá se tinha dirigido proveniente do Sacro
Império Germânico, de Ricardo de São Vitor, que ali chegou proveniente da Escócia,
e de Pedro Lombardo, que vinha do norte da Itália encaminhado por São Bernardo.
Já é coisa rara que um talento da envergadura de Hugo, homem de inteligência
brilhante, santidade manifesta e notável vocação docente se veja diante de
tantos e tão excelentes recursos materiais e humanos; mais raro ainda é que
alguém nestas condições se veja encarregado de, além de ensinar, organizar
também a escola. Esta tarefa suplementar obrigou Hugo adicionalmente a explicar
aos alunos como se deveria estudar, aos professores como se deveria ensinar e à
escola como se deveria organizar, e isto não para obter algum diploma, que
naquela época ainda de nada valiam, mas para, a partir de um sólido
conhecimento das Sagradas Escrituras e das obras dos Santos Padres, empreenderem
a busca da santidade. O conjunto da obra de Hugo de São Vitor mostra que ele
elaborou um sistema de Pedagogia em que o estudo de torna um instrumento de
ascese em perfeita consonância com os ensinamentos do Novo Testamento a
respeito da fé, da graça e da oração, da necessidade da graça para a prática
das virtudes e dos frutos que se esperam do desenvolvimento da vida espiritual.
Hugo de São Vítor mostrou, em suma, como se organiza o estudo, o ensino e
a escola para que, sem deixar de ser uma escola, nem perder nenhuma das
características que tradicionalmente se atribuem a uma escola, ela tenha como
meta a santidade. Esta meta não é algo acrescentado ou justaposto ao que já
seria a escola, mas é aquilo que dita a própria essência de sua organização e
de seus métodos.
Hugo mostrou ainda que se isto pode ser possível, é porque esta é a
verdadeira e legítima finalidade da escola. São as outras escolas, e não esta,
que representam um desvio do verdadeiro ideal do ensino.
4 comentários:
Olá...
Estou a procura desse livro já a algum tempo e não o encontro em lugar algum.
Poderia me ajudar se possível dizendo onde posso encontra este livro ?
Obrigado fico no aguardo
Salve Maria !
Alexandre:
Só há um caminho: Sebos. É preciso ter paciência e persistência. As vezes o livro aparece e logo desparece. Ficar atento e persistente é o caminho.
Alexandre:
O livro acaba de ser publicado pela VIDE Editorial. Acesse pelo link http://goo.gl/Bk0iGP .
Mzv
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