Título original:
Pioneering in South Brazil
Autor: Thomas Plantagenet Bigg-Wither (1845-1890)
Tradução: Temístocles Linhares
Assunto: Documentos brasileiros
Editora: José Olympio
Edição: 1ª
Ano: Publicado originalmente em 1878
em Londres. No Brasil, em 1974.
Páginas: 420
Comentário preliminar: Esta obra levou noventa e seis anos, repito, noventa e seis anos para ser publicada no Brasil. Um exemplo de completo descaso pela cultura e pelo conhecimento. No meu entender deveria fazer parte da grade escolar desde e sua publicação original em 1878. Hoje, 2014, ninguém conhece a obra, salvo aqueles que estiveram diretamente envolvidos nos trabalhos gráficos e alguns poucos eruditos que ainda sobrevivem no país. Este é o Brasil da cultura da sapiência infusa. O horror! O horror! sob todos os aspectos. A questão não é tão somente cultural literária, mas de indolência para o trabalho no serviço público. É hilária a descrição, logo nas páginas iniciais do livro a experiência vivida pelo autor na alfândega, nos correios, no Hotel Cintra na cidade do Rio de Janeiro. (Anatoli Oliynik)
Sinopse: Publicado originalmente em Londres em 1878 esta obra apresenta a preciosa percepção da natureza de um Brasil ainda selvagem. Mais do que um relato de uma expedição à floresta Atlântica, suas vividas imagens de abertura de picadas, manobra de canoas sobre rios encachoeirados, violência das caçadas, revelam as impressões gravadas na retina de um olhar inquieto e inteligente, sensível à magnificência da flora, da fauna e da geologia paranaense. O livro também cumpre a função de apresentar a cultura de um país escravagista, suscetível aos interesses das oligarquias dominantes, em que a população ainda sobrevive submetida à natureza, mas já transita rumo à sua modernidade.
Sinopse: Publicado originalmente em Londres em 1878 esta obra apresenta a preciosa percepção da natureza de um Brasil ainda selvagem. Mais do que um relato de uma expedição à floresta Atlântica, suas vividas imagens de abertura de picadas, manobra de canoas sobre rios encachoeirados, violência das caçadas, revelam as impressões gravadas na retina de um olhar inquieto e inteligente, sensível à magnificência da flora, da fauna e da geologia paranaense. O livro também cumpre a função de apresentar a cultura de um país escravagista, suscetível aos interesses das oligarquias dominantes, em que a população ainda sobrevive submetida à natureza, mas já transita rumo à sua modernidade.
Histórico
O começo de tudo: A
Descoberta
Tudo começou no século XIX, quando os ingleses investiam muito
no Brasil. Mercadorias de toda a espécie eram comercializadas entre o Brasil e
a Inglaterra e, ao mesmo tempo, os ingleses faziam grandes empréstimos ao
governo de nosso país.
Essa relação econômica era chamada de "cooperação".
Por isso, o Brasil tinha que colaborar, dar sua contribuição. Assim em 1872,
uma expedição contratada pela "Paraná
and Mato Grosso Survey Expedition", chegou ao país com o objetivo de
projetar a construção de uma grande estrada de ferro ligando os oceanos
Atlântico e Pacífico, passando pelo Norte do Paraná.
O jovem engenheiro inglês Thomas P. Bigg-Wither era um dos
membros da expedição e percorreu, entre 1872 e 1875, os sertões desconhecidos
do Paraná realizando os serviços de engenharia. Mesmo trabalhando, observou
"as belezas e vantagens da terra descoberta". Quando voltou à
Inglaterra, em 1876, Bigg-Wither proferiu uma conferência na Real Sociedade de
Geografia Britânica. Alí falou das potencialidades do fértil Vale do Rio
Tibagi, que deixou os financistas de Londres interessados. A conferência
despertou tanto interesse que o engenheiro foi convidado a se associar à Real
Sociedade, que era uma entidade muito rigorosa na escolha de seus membros.
Passados dois anos, em 1878, Bigg-Wither publicou o livro "Pioneering in South Brazil", em que
relatou três anos que passou nas florestas e campos do Paraná. Nas entrelinhas,
o autor chama a atenção para a nova terra em seus aspectos positivos e
negativos. Na época, uma ou duas tentativas de colonização inglesa haviam
fracassado. Mas o engenheiro alertava as autoridades sobre a necessidade de
disciplinar a imigração, recebendo não somente homens capazes, mas homens que
viessem para cá fazer o que sabiam fazer.
A publicação provavelmente despertou ainda mais os investidores
ingleses, que apesar do fracasso das experiências anteriores de colonização
planejaram e executaram empreendimentos mais amadurecidos, como aquele que veio
a Londrina chefiado por Lord Lovat. O livro do engenheiro teve a apresentação
escrita por Jonh Murray, da Albermale Street, um editor muito famoso na época. (Fonte:
Câmara Municipal de Cambé)
Trecho do livro:
“Na excitação e entusiasmo do momento, saí da trilha e galopei até
o salto de uma elevação, ali ficando pelo espaço de 5 minutos, o peito dilatado
e os braços estendidos, a aspirar a brisa magnifica que vinha varrendo aquelas
planícies, procedentes do Atlântico. Senti-me como um prisioneiro solto de sua
masmorra. Por treze meses eu não sabia o que era sentir um sopro de ar em meu
rosto, nem ver mais longe do que podia alcançar a minha voz. Gritei de prazer e
os meus auxiliares pensaram que eu tivesse enlouquecido de repente. Pouco
depois, quando a minha exuberância de espírito tinha sido um pouco atenuada,
entreguei-me a um gozo mais sereno do novo ambiente. Fiquei surpreso quando
pensei no tempo que pude suportar vivendo na floresta tropical que, comparada
ao campo, eu via agora como uma espécie de inferno terrestre.”
Sobre
o autor: Thomas
Plantagenet Bigg-Wither nasceu em 1845 no castelo de Tangier Park. Engenheiro e
escritor inglês de formação naturalista, aos 26 anos embarca rumo ao Brasil.
Durante três anos participa de expedições pelo interior do Paraná. Em 1875,
retornando à Inglaterra, engaja-se na construção da Estrada de Ferro Central de
Bengala, Índia. Dois anos bastam para que assuma a direção técnica do projeto.
A inclemência climática local acaba por fragilizar seu organismo. Outro fato
também colabora para minar sua saúde, um de seus filhos cai vítima de grave
enfermidade. Sem demora, Bigg-Wither embarca no navio Assam, mas não chega ao
seu país natal. Morre em alto-mar, em 1890, aos 44 anos, deixando diversos
escritos em que se lê sua profunda reverência à natureza. (Cristianne Rodrigues Smaniotto).
O
Paraná segundo Bigg-Wither (I)
Artigo de Aramis Millarch originalmente
publicado em 24 de novembro de 1974
O professor Temístocles Linhares, 69 anos, diretor do Setor de
Ciências Humanas, Letras e Artes, não poderia inaugurar de forma mais
inteligente as atividades editoriais da Universidade Federal do Paraná, do que
com a edição em português de "Novo Caminho no Brasil Meridional": A
Província do Paraná", que o engenheiro inglês Thomas Plantagenet
Bigg-Wither (1845-1890) publicou em 1878, através do editor John Murray, de Londres,
e onde descreve suas experiências de três anos na vida em florestas e campos do
Paraná entre 1872/75. Como tivemos a alegria de fazer há mais de um ano o
primeiro registro jornalístico sobre a iniciativa do professor Linhares em
traduzir e conseguir o [editar] o notável documentário sobre a vida em nosso
Estado há um século, hoje, com o livro (co-edição da Livraria José Olympio
Editora, 419 páginas, nota biográfica de Newton Carneiro, 21 ilustrações e um
mapa, Cr$ 50,00) já ao alcance de todos os interessados, apesar da pequena
edição (1.500 exemplares,
dos quais 800 vendidos ao Governo do Estado) julgamos oportuno a
divulgação mais ampla, em especial aos milhares de leitores de O ESTADO, que
não quiserem conhecer o maçudo volume, de alguns de seus trechos mais
interessantes. Filho de nobres, Bigg-Wither veio para o Paraná há 102 anos,
como um dos expedicionários contratados para o Paraná And Mato Grosso Survey
Expedition. Tinha 26 anos e sua permanência aqui estendeu-se de junho de 1871 a
abril de 1875, e desta sua estada resultou um depoimento em proporções que
Bigg-Wither examina, criteriosamente, em seu livro, de forma que há 96 anos,
quando a obra foi publicada teve grande repercussão na Inglaterra. Acredita o
professor Linhares que foi a sua leitura que fez o romancista Thomas Hardy
(1840-1928) autor de livros famosos ("Judas, O Obscuro", "Longe
da Multidão Insensata" etc) a, em "Tess of the D'Urbevilles"
publicado em 1891, portanto 13 anos depois do livro de Bigg-Wither, colocar uma
personagem , Angel Claire que vem participar de uma experiência de colonização
no Paraná. Há quase 20 anos, analisando este livro de Hardy do qual não existe
tradução no Brasil o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, levantou dúvidas
com relação ao significado da palavra Paraná, o que iniciou uma polêmica que
levaria Temístocles a empreender profundas pesquisas, encontrando então uma
edição de "Pionering in South Brazil", de Bigg-Wither, agora, um
século depois, finalmente revelado aos leitores brasileiros. Texto de Aramis
Millarch, publicado originalmente em:
Veiculo: Estado do Paraná
Caderno ou Suplemento: Almanaque
Coluna ou Seção: Tablóide
Página: 8
Data: 24/11/1974
A publicação
original em dois volumes:
(imagens da Internet)
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