Autor: Nicolai Gógol
Tradução: Arlete Cavalieri
Editora: Peixoto Neto
Assunto: Drama
Edição: 1ª
Ano: 2007
Páginas: 244
Eles mantêm as instituições públicas sem as mínimas
condições de saúde, organização ou humanidade e tratam os moradores como se
fossem animais, pensando apenas nos lucros pessoais. Tudo transcorre desta
forma, até que um dia recebem a notícia de que o governo enviou um inspetor geral
do alto escalão das repartições públicas para averiguar as condições dos órgãos
locais. O prefeito manda chamar o encarregado da assistência social, o inspetor
de escolas, o juiz, comissário de polícia, o médico e dois policiais para
dar-lhes a notícia. Todos ficam apavorados e resolvem fazer uma faxina na
cidade, os médicos eliminam alguns doentes e trocam as roupas de cama, o juiz
manda tirar a criação de gansos do tribunal, o Inspetor de Escolas pede para os
professores pararem de bater nos alunos etc.
Enquanto isso, um malandro jogador de cartas, Khlestakóv,
está hospedado no hotel local e é confundido com o tal inspetor geral e acaba recebendo
a visita do prefeito que o convida para mudar-se para sua casa onde é tratado
com as mais altas regalias, inclusive recebendo grandes somas de dinheiro em
forma de propina de todos que o visitam.
Na confusão das inspeções não faltam situações
hilárias de denúncia aos meandros do poder, à corrupção, à delação, à
impunidade, aos favores etc. Khlestakóv aproveita-se da situação e, após encher
os bolsos de dinheiro, vai embora, mas não sem antes marcar casamento com a
filha do Prefeito.
Resumo
da narrativa: O resumo do enredo é a própria sinopse
supracitada.
Comentários:
O Inspetor Geral, escrita em 1836 pelo
ucraniano Nicolai Gógol, fala de política - mas não só. Destila críticas a
políticos e administradores de maneira geral, a subornadores e subornados, ao
serviço de aparência e à hipocrisia das instituições e dos cargos públicos. Não
faltam espirros ácidos ao comportamento frívolo das mulheres, à credulidade
simplória e à hipocrisia insensível dos homens, mas, sobretudo fala da
consciência moral do ser humano, mais especificamente do tribunal interno da
consciência humana.
Interpretação
da obra: O prof. José Monir Nasser explica que o leitor
desatento e aquele que lê para simples entretenimento pensa que está lendo uma
obra de comédia, uma sátira ou um libelo anti-burocrático e anti-czarista. Nada
mais equivocado. O próprio czar, Nicolau I, impediu a censura e autorizou a
apresentação da peça que foi encenada pela primeira vez no dia 19 de abril de
1836.
Após
a apresentação, o público atônito nada entendeu. Gogol teria se manifestado com
estas palavras: “é a primeira concebida
com o propósito de corrigir nossa sociedade, e não creio havê-lo conseguido; só
viram, na minha comédia, uma tendência partidária a ridicularizar nossas leis e
a ordem estabelecida, que só pretende estigmatizar certos abusos e certos atos
ilegais”. Desgostoso com o público passa os anos seguintes fora da Rússia.
A
peça é satírica, é verdade, mas interpretá-la como tal, é enxergar apenas a
camada mais superficial da obra. A história é mais complexa que simples
burocratas e funcionários públicos indolentes.
Assim
como nós, todos os moradores daquele vilarejo são seres humanos comuns. Na condição
de seres humanos comuns, é preciso ter consciência que sentir culpa é da
natureza humana e aquelas pessoas, ante a iminente presença de um inspetor
geral, são tomadas pelo pânico do sentimento de culpa que na realidade é a
consciência moral agindo sobre o indivíduo. Portanto, é a consciência moral
pesada que está conduzindo o comportamento daquelas pessoas.
O
pressionado pela consciência moral sempre espera uma punição e é essa possibilidade
de punição que aterroriza aquelas pessoas, porque o tribunal interno da
consciência é sempre mais poderoso do que o tribunal externo.
É
preciso, portanto, recuperar a consciência de culpa e a chegada do verdadeiro
inspetor geral simboliza essa recuperação da consciência de culpa para aquelas pessoas.
A
obra trata, ainda, do diabo no sentido metafísico e Khlestakov simboliza o
diabo em pessoa.
Assim, é preciso ler a obra nos seus aspectos simbólicos para que possamos compreendê-la em todo o seu sentido, tal como o autor quer nos transmitir. Infelizmente, por conta da modernidade, nós perdemos a capacidade de leitura e interpretação simbólica e por isso temos enorme dificuldade de compreender as grandes obras da literatura universal, os grandes clássicos. Portanto, tal como o Inspetor Geral simboliza a recuperação da consciência dos moradores daquela cidade, nós precisamos não só recuperar a nossa consciência, mas reaprender a leitura simbólica, senão não vamos entender nada. Nem da obra e nem do mundo que nos cerca. (Anatoli Oliynik)
Conclusão:
O Inspetor Geral é a descrição de como funciona a condição humana, esclarece o prof. Monir.
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