terça-feira, 12 de maio de 2020

ANTÍGONA

ANTÍGONA
Autor: Sófocles
Tradução: Mário da Gama Kury
Editora: Jorge Zahar Editor
Assunto: Teatro grego – tragédia.
Edição: 10ª
Ano: 2002
Páginas: 199-261

Sinopse: Antígona é uma peça teatral escrita por Sófocles em 441 a.C. cujos fatos aconteceram por volta de 1.250 a.C., em Tebas na Ásia Menor, na qual exalta a coragem de uma princesa que enfrenta o rei arriscando a própria vida em defesa de um princípio.
Numa das mais belas e dramáticas tragédias já escritas, Sófocles devassa em toda a sua profundidade o amor, a lealdade, a dignidade.

O enredo
A intriga da história começa com uma alusão à guerra dos Sete contra Tebas, na qual os dois irmãos de Antígona, Etéocles e Polinices, se confrontam em lados opostos na disputa pelo trono.
Ambos morrem no campo de batalha, mas aos olhos de Creonte, tio daqueles, Polinices é considerado traidor de Tebas e, por isso, não lhe são concedidas honras fúnebres.

A Decisão
Creonte, com a morte dos dois sobrinhos Etéocles e Polinices, torna-se rei de Tebas.
            A sua primeira decisão como regente, foi enterrar o sobrinho Etéocles com todas as honras funerárias e deixar o corpo de Polinices insepulto.
            Para que se cumpra a sua decisão, decreta que a pena para a desobediência, é a morte.

A Contestação
            Antígona, apesar do interdito do rei Creonte, quer sepultar o irmão Polinices e evoca para tanto um princípio da lei não escrita.
            Antígona diz a Creonte que acima da Lei da Cidade existe a Lei Divina e que está para cima das leis cósmicas incorporadas na ordem social.
A Desobediência
Antígona recusa-se a cumprir a ordem de Creonte e, considerando tratar-se de um dever sagrado dar sepultura aos mortos, infringe a ordem do soberano e realiza os rituais fúnebres a que o irmão tem direito.

As Conseqüências
Devido a este ato de piedade, Antígona é condenada à morte pelo rei de Tebas e encarcerada viva no túmulo dos Labdácidas, de quem descende.
A ação impiedosa do rei será punida no final da tragédia: ao tomar conhecimento da morte de Antígona, Hêmon, filho de Creonte e noivo de Antígona, suicida-se.
Por conseqüência deste segundo suicídio, é a vez de Eurídice, mãe de Hêmon, decidir "morar eternamente no Hades".

O Impasse
Abre-se aqui um abismo entre a consciência do indivíduo que está aberta para a Lei Divina supra-cósmica e a consciência do meio social que está presa no meio da ordem cosmológica.
Este abismo gera um conflito entre a Lei dos Céus (dos deuses) que ela defende e a Lei da Terra (dos homens) que Creonte precisa fazer cumprir. Cria-se assim um impasse, resultante da contraposição entre duas esferas de poder: A Lei dos deuses e a Lei humana.

O Dilema
Todo o enredo da tragédia de Tebas gravita em torno desse dilema moral que dura mais de 3 mil e 250 anos e que faz de Antígona uma das mais importantes obras que dá os princípios basilares para o cristianismo:
Cumpre-se a Lei do Céu ou a Lei da Terra?

Considerações importantes
1.      A falta de Antígona foi o de desrespeitar uma ordem do rei.
2.      Creonte tinha razão quanto a defesa da Lei da Terra (Poder temporal), todavia sua decisão interferiu sobre a Lei dos Céus (Princípio espiritual). Logo, qual das leis deve ser cumprida?
3.      Este dilema já dura 3.250 anos porque as duas posições são imprescindíveis para a humanidade.
4.      Creonte era um governador e não um estadista* esse foi o seu maior problema.
* Estadista é aquele que consegue sacrificar a Lei da Terra em prol da Lei dos Céus.
5.      É preciso considerar a hierarquia das leis divinas sobre as disposições humanas.
6.      Imaginar que o humanismo é a solução para os problemas humanos é de uma ingenuidade incrível. Equipara-se ao raciocínio de uma criança de 8 anos.
7.      Perder a noção do sagrado é a pior coisa que pode acontecer ao ser humano. Foi o que aconteceu com Creonte quando toda uma tragédia se abateu sobre a sua regência e sua família.

Conclusão
1.      O ser humano pela sua condição de dualidade (Divina e Terrena), viverá permanentemente em conflito entre o Poder Espiritual e o Poder Temporal de cuja ambigüidade não conseguirá sair jamais. Por essa razão que o problema já dura mais de três milênios.
2.      Não há solução coletiva para o problema. A solução para conflito resultante da dualidade humana será sempre individual, pois não há solução fora do indivíduo, porque nada substitui a sua consciência individual das coisas.

A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS HUMANOS SERÁ SEMPRE INDIVIDUAL E JAMAIS COLETIVA!

Sobre o autor:
Sófocles (495 a.C. – 406 a.C.) nasceu e morreu em Atenas, na Grécia, e foi um dos maiores intelectuais da Antigüidade clássica. Autor prolífico e consagrado em seu tempo produziu cerca de 120 peças das quais restaram conservadas apenas 7, entre as quais Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona, Ájax e Electra.


domingo, 3 de maio de 2020

ATORMENTADOS


ATORMENTADOS
Título original: Bedeviled – Lewis, Tolkien and the Shadow of Evil
Autor: Colin Duriez
Tradução: Priscila Catão
Editora: Lírio Publicações
Assunto: Literatura inglesa
Edição: 1ª
Ano: 2020
Páginas: 252

Sinopse: Este é um livro que trata sobre a origem e o problema do mal, e mostra passo a passo como a tecnocracia, o egotismo, a desilusão e a perda da fé (o mundo, a carne e o diabo) são derrotadas pelo amor de Deus. Celebra, também, a força da esperança contra os terríveis poderes do mal que nos afligem.

A batalha entre o bem e o mal estava claramente em curso na era de C.S. Lewis e seus amigos do grupo literário de Oxford, os Inklings [foi um grupo informal de discussão sobre literatura associado à Universidade de Oxford, na Inglaterra], como também está na nossa era. Alguns dos membros dos Inklings carregaram marcas físicas e psicológicas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que os levaram a considerar profundamente o problema do mal durante a era sombria da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) . Se eles estivessem vivos hoje, suas visões do conflito espiritual por detrás das batalhas físicas seriam certamente reafirmadas.
Entre os Inklings, Lewis estava na linha de frente da escrita sobre a dor humana, o sofrimento, a ação diabólica e o sobrenatural, com seus livros como Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz, entre outros. Por esta razão, não surpreende que ele seja o foco principal deste livro escrito pelo autor especialista nos Inklings, Colin Duriez. A trilogia de O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, é outra rica fonte com muito o que dizer à era da Segunda Guerra Mundial e para além dela. Outros escritos dos Inklings são tratados à medida em que Duriez explora as considerações desses autores sobre o mal e a batalha espiritual, particularmente focadas no contexto de guerra.

Sobre o autor: Colin Duriez é escritor profissional e editor. Ele nasceu em Derbyshire em 19 de julho de 1947, Reino Unido. Passou sua infância em Long Eaton, Derbyshire, em algumas novas propriedades perto de Portsmouth e seis anos em uma vila mineira em South Wales, antes de se mudar para West Midlands. Formado pela Universidade de Ulster e Universidade de Istambul.



sábado, 23 de novembro de 2019

GRANDE SERTÃO: VEREDAS


GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Autor: João Guimarães Rosa
Assunto: Romance
Editora: Nova Fronteira
Edição: 21ª
Ano: 2015 (1ª Ed. em 1956)
Páginas: 496

Sinopse: O romance Grande Sertão: Veredas é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.

Personagens:
-        Riobaldo – Tatarana – Urutu Branco
-        Reinaldo (Diadorim)
-        Joca Ramiro (jagunço líder – 1ª guerra)
-        Hermógenes (jagunço líder – 2ª guerra)
-        Ricardão (líder dos jagunços ao lado de Hermógenes)
-        Medeiro Vaz (simboliza a nobreza, o Império e o próprio Imperador)
-        Sô Candelário
-        Titão Passos
-        João Goanhá
-        Zé Bebelo (soldado do governo. Simboliza Exú – 7 punhais)
-        Gavião-Cujo (jagunço)
-        Otacília
-        Davidão (simboliza Davi)
-        Faustino (simboliza o próprio Fausto)
-        Migri (mãe de Riobaldo. Prostituta)

Resumo da narrativa: Riobaldo, fazendeiro do estado de Minas Gerais, conta sua vida de jagunço a um ouvinte não identificado. Trata-se de um monólogo onde a fala do outro interlocutor é apenas sugerida. São histórias de disputas, vinganças, longas viagens, amores e mortes vistas e vividas pelo ex-jagunço nos vários anos que este andou por Minas, Goiás e sul da Bahia. Toda a narração é intercalada por vários momentos de reflexão sobre as coisas e os acontecimentos do sertão. O assunto parece sempre girar na existência ou inexistência do diabo, já que Riobaldo parece Ter vendido sua alma numa certa ocasião... Riobaldo era um dos jagunços que percorriam o sertão abrindo o caminho à bala. Entre seus companheiros, havia um que muito lhe agradava: Reinaldo, ou Diadorim.
Conhecera-o quando menino e mantinha com ele uma relação que muitas vezes passava de uma simples amizade. O jagunço, que admirava e cultivava um terno laço com Diadorim, perturbava-se com toda aquela relação, mas a alimentava com uma pureza que ia contra toda a rudeza do sertão, beirando inclusive o amor e os ciúmes. Nas longas tramas e aventuras dos jagunços, Riobaldo conhece um dos seus heróis: o chefe Joca Ramiro, verdadeiro mito entre aqueles homens, que logo começa a mostrar certa confiança por ele. Isso dura pouco tempo, já que Riobaldo logo perde seu líder: Joca Ramiro acabou sendo traído e assassinado por um dos seus companheiros chamado Hermógenes. Riobaldo jura vingança e persegue Hermógenes e seus homens por toda aquela árida região.
Como o medo da morte e uma curiosidade sobre a existência ou não do diabo toma cada vez mais conta da alma de Riobaldo, evidencia-se um pacto entre o jagunço e o príncipe das trevas, apesar de não explícito. Acontecido ou não o tal pacto, o fato é que Riobaldo começa a mudar à medida que o combate final contra Hermógenes se aproxima. E a crescente raiva do jagunço só é contida por uma relação mais estreita com Diadorim, que já mostra marcas de amor completo. Segue-se, então, o encontro com Hermógenes e seus homens, e a vingança é enfim saboreada por Riobaldo. Vingança, aliás, que se tornou amarga: Hermógenes mata, durante o combate, o grande amigo Diadorim... A obra reserva, nas últimas páginas, uma surpreendente revelação: na hora de lavar o corpo de Diadorim, Riobaldo percebe que o velho amigo de aventuras que sempre lhe cativou de uma forma especial era, na verdade, uma mulher.

ENREDO
Duas grandes guerras são narradas em Grande Sertão: Veredas.
A primeira é protagonizada pelos líderes Joca Ramiro, Sô Candelário, Titão Passos, João Goanhá, Ricardão e Hermógenes contra Zé Bebelo e os soldados do governo. Apanhado, Zé Bebelo é julgado pelo tribunal composto dos líderes citados, dos quais Joca Ramiro é o chefe supremo. Hermógenes e Ricardão são favoráveis à pena capital. No fim do julgamento, porém, Joca Ramiro sentencia a soltura de Zé Bebelo, sob a condição de que ele vá para Goiás e não volte até segunda ordem. Nesse ponto, a primeira guerra chega ao fim.
A paz, então, estabelece-se em todo o sertão. Até que, depois de longo período de bonança, aparece um jagunço chamado Gavião-Cujo, desesperado, e anuncia: “Mataram Joca Ramiro!...”
Começa, então, a segunda guerra, organizada sob novas lideranças: de um lado Hermógenes e Ricardão, assassinos de Joca Ramiro e traidores do bando; de outro, Zé Bebelo – que retorna para vingar a morte de seu salvador, chefiando o bando de Riobaldo e Diadorim – com os demais chefes. A segunda guerra termina no fim do romance, na batalha final no Paredão, na qual morre Hermógenes.

TEMPO
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte – introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte – inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joca Ramiro.
3ª parte – a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte – conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte – epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito (O nome Otacília é composto de 8 letras que simboliza o infinito).
ESPAÇO
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
ALGUNS ESPAÇOS DO SERTÃO
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia – local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos – espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão – local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e conseqüente retirada.
Local da narração – fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão – espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas – local do possível pacto de Riobaldo.

Resenha das personagens do livro:
RIOBALDO – é o personagem que narra a própria vida a um doutor que nunca aparece, desde a juventude, antes de virar jagunço. Nessa época, estudou e aprendeu a ler e a escrever, tornando-se professor de Zé Bebelo, seu futuro chefe. Quando entra para a vida de jagunço, a personagem é batizada de Tatarana, que significa “lagarta de fogo”, apelido dado em homenagem à sua exímia pontaria. Em um dado momento da narrativa, depois de um suposto pacto com o Diabo, Riobaldo-Ta tarana toma a liderança do grupo, sendo rebatizado de “Urutu Branco”.
AS TRÊS FACES AMOROSAS DE RIOBALDO:
Nhorinhá: prostituta, representa o amor físico, o “amor-sexo”, o prazer canal. O seu caráter profano e sensual atrai Riobaldo, mas somente no aspecto carnal.
Otacília: uma das mulheres amadas por Riobaldo personifica a pureza, a esposa que espera e reza, o “amor sentimento”. Contrária a Nhorinhá, Riobaldo destina a ela o seu amor verdadeiro (sentimental). É constantemente evocada pelo narrador quando este se encontrava desolado e saudoso durante sua vida de jagunço. Recebe a pedra de topázio de "seô Habão", simbolizando o noivado.
Diadorim: representa o amor impossível, proibido. É ela que causa grande conflito em Riobaldo, sendo objeto de desejo e repulsa (por conta de sua pseudo identidade).

DIADORIM – Personagem-chave do romance é tida como homem durante quase toda a narrativa. Apenas nas últimas páginas o narrador conta que, depois de sua morte, quando o corpo é despido e lavado, descobre-se que se tratava de uma mulher. Diadorim havia conhecido Riobaldo, quando ainda eram jovens, em uma travessia do rio São Francisco. Nessa ocasião, ela já vivia disfarçada de menino e dizia chamar-se Reinaldo escondendo sua identidade real (Maria Deodorina). O nome Reinaldo era secreto no meio da jagunçagem, utilizado apenas nos momentos em que ela e Riobaldo estavam a sós. Quando Riobaldo reencontra Reinaldo/Diadorim, tempos depois, passa para o bando de Joca Ramiro, motivado pela presença de Reinaldo. Riobaldo apaixona-se profundamente por Diadorim, o que provoca nele vários sentimentos contraditórios e de repressão, já que a paixão homossexual era uma relação impossível de ser aceita no meio jagunço.

JOCA RAMIRO – grande chefe político e guerreiro é o maior chefe dos jagunços, lidera a primeira guerra narrada no romance, e seu assassinato origina a segunda guerra. Em oposição a Hermógenes, Joca Ramiro é o grande guerreiro, o líder sábio, justo, corajoso, sendo bastante admirado. Aparece como encarnação das virtudes.

ZÉ BEBELO – personagem intrigante. Dono de uma oratória verborrágica, tinha ambições políticas, mas, segundo o narrador, começara tarde essa busca pelo poder. Zé Bebelo é extremamente orgulhoso e gaba-se de nunca se ter deixado comandar por ninguém. Conhece Riobaldo quando esse ainda não era jagunço e aprende com ele um pouco de português. Quando Riobaldo lhe toma a chefia, Zé Bebelo reconhece a força do oponente e decide deixar o grupo. Riobaldo tem uma relação diferenciada com Zé Bebelo, conservando sempre certo apreço por esse personagem.

HERMÓGENES – para Riobaldo, Hermógenes era o “Cão”, o “Demo”. É o personagem mais odiado pelo narrador. Na primeira guerra, quando estão lutando do mesmo lado, Riobaldo já revela seu ódio por ele; na segunda guerra, quando Hermógenes e Ricardão assassinam Joca Ramiro, esse sentimento se acentua. No romance, Hermógenes é a personificação do mal.

RICARDÃO: – enquanto Zé Bebelo guerreava por ambições políticas e Hermógenes era motivado por sua natureza assassina, Ricardão tinha interesse apenas na questão financeira. Fazendeiro rico, guerreava para depois poder enriquecer em paz.

MEDEIRO VAZ: chefe de jagunços que se une aos homens de Joca Ramiro para combater contra Hermógenes e Ricardão por conta da morte do grande chefe.
SÔ CANDELÁRIO: outro chefe que ajuda na vingança. Possuía grande temor de contrair lepra.
QUELEMÉM DE GÓIS: compadre e confidente de Riobaldo, que o ajuda em suas dúvidas e inquietações sobre o Homem e o mundo.


sábado, 1 de setembro de 2018

REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO


REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO
Autor: Plinio Corrêa de Oliveira
Assunto: Ensaio social e religioso
Editora: Artpress
Edição: Comemorativa dos 50 anos da publicação.
Ano: 2009
Páginas: 166

Sinopse: A humanidade de nossos dias encontra-se diante de um impasse: de um lado, parece estar marchando rumo a um progresso maravilhoso e indefinido, nos campos humano e científico, cujos confins não se consegue sequer vislumbrar: de outro lado, assiste-se uma deterioração abrumadora da civilização, do convívio social, e das próprias condições da vida moderna, que pode desfechar, de um momento para outro, no confronto generalizado de indivíduos, família, sociedades, povos e nações.
- Como resolver esse impasse? Como se chegou a ele? É das respostas a estas duas perguntas que este livro se ocupa. Mas não paremos por aqui. Continuemos a descrição da obra.
Uma pergunta prévia: esse impasse é fruto previsível das paixões humanas entregues a si mesmas, ou a elas se acrescentou a atuação coordenada de forças que atuaram intencionalmente para atingir tal resultado? Estaríamos então diante de um processo duplo, em parte natural e em parte artificial, que se desenvolveu conjuntamente para produzir esse efeito?
Apontando a existência desse processo, autores – tanto contrários como favoráveis a ele – deram-lhe um nome: Revolução.
Assim, grandes pensadores – católicos e não católicos – foram delineando e descrevendo, passo a passo, o processo revolucionário que conduziu a sociedade humana, a partir da Idade Média – com sua fé primaveril nos ensinamentos do Evangelho e nos da Igreja Católica – à sociedade atual, esteada na trilogia liberté-egalité-fraternité, que, seduzindo a humanidade com avanços tecnológicos deslumbrantes, implantou a mais cínica e escancarada liberdade de costumes. A tal ponto que, no estágio em que as coisas hoje se encontram, é lícito perguntar se, sem uma intervenção extraordinária da Providência, o desconserto do mundo moderno tem solução.
Muitos estão convencidos de que não.
Desde muito moço, o autor discerniu que tal deterioração da humanidade a encaminharia para uma catástrofe fatal. E em suas leituras, logo se deparou com o conceito de Revolução destilado por uma ilustre plêiade de pensadores católicos que o precederam, Seu mérito pessoal foi conferir um sentido amplo e preciso para o termo Revolução, mostrar a coerência interna do processo revolucionário, descrever suas metas e métodos, bem como o seu encadeamento histórico, desde os primeiros sintomas de decadência da Idade Média até os dias de hoje.
Mostrou, assim, que a Revolução se desenvolveu por etapas claramente diferenciadas, porém logicamente concatenadas, que ele designa pela sua seqüência numérica: Revolução Protestante (I), Revolução Francesa (II), Revolução Comunista (III) – até chegarmos à IV Revolução, a Revolução Cultural e Tribalista, que se desenvolve diante de nossos olhos e visa estabelecer na sociedade uma organização tribal, semelhante à dos indígenas primitivos.
A visão da crise contemporânea que o autor oferece neste livro vai, muito além de quanto foi dito, até agora, pelos mais perspicazes analistas. Mas se ele o fez, e pôde ver mais longe do que os que o precederam, foi justamente porque – parafraseando a célebre frase de Newton – teve a humildade, porém grandiosas, ousadia de apoiar-se no ombro desses gigantes do pensamento que o precederam.
Cumpre, entretanto, elevar ainda mais alto, as nossas vistas. Se ele o fez, foi, sobretudo graças ao instinto profético com que o dotou a Providência divina, com vistas à recondução da humanidade para as vias da verdade e do bem e, mais especificamente ao seio sacrossanto da Santa Igreja.
Os que, lendo este livro, e, sobretudo embebendo-se de seus princípios, se alistaram nas fileiras da Contra-Revolução – outro conceito por ele magnificamente desenvolvido e descrito – estarão preparando humanamente o terreno para essa intervenção extraordinária da Providência divina para resolver a magna crise contemporânea. Intervenção essa que se realizará sob a égide a Santíssima Virgem, como ela mesma anunciou profeticamente em Fátima, em 1917, e que o autor se comprazia em repetir: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

O JULGAMENTO DAS NAÇÕES


O JULGAMENTO DAS NAÇÕES
Título original: The Judgment of the Nations
Autor: Christopher Dawson (1889-1970)
Tradução: Marcia Paiva Xavier de Brito
Assunto: Ciências humanas e sociais
Editora: É Realizações
Edição: 1ª
Ano: 2018
Páginas: 272

Temas: Civilização judaico-cristã, Ocidente, Ecumenismo, Filosofia da história, Meta-história, Teologia da cultura, Secularismo e História contemporânea.

Sinopse: Tão decisiva quanto a adesão do Império Romano ao cristianismo, entre os séculos XIX e XX se instaura no Ocidente uma nova religião: a fé secular no progresso. Foi esse credo que ocasionou a submissão do homem à técnica, reavivando males que se consideravam superados – a tortura, a escravidão, o medo da morte repentina – e acrescentando-lhes outros.
Uma vez distanciada da religião sobre cujos valores se fundara, a nossa civilização já não é capaz de acreditar em si mesma. Ela necessita de valores humanos básicos, como o da liberdade, mas não sabe como assegurá-los.
Nessa condição dramática, cujas raízes se espalham pelas cisões da cristandade durante o segundo milênio, a “causa de Deus” se identifica com a “causa dos homens”: para superar seus impasses políticos, o mundo deve reconsiderar aquele ideal de humanidade que sempre – é por vezes, solitariamente – fora defendido pela Igreja. Distinguindo cuidadosamente o liberalismo como tradição, como ideologia e como partido, Dawson demonstra que um humanismo verdadeiramente cristão não se opõe nem ao senso de responsabilidade moral nem ao reconhecimento da soberania divina.
R. H. Tawney (1880-1962) disse que este livro é um diagnóstico da crise da nossa era. Nas palavras de Dawson:


“O progresso da civilização ocidental pela ciência e pelo poder parece conduzir a um estado de secularização total em que tanto a religião quanto a liberdade desaparecem simultaneamente. A disciplina que a máquina impõe ao homem é tão estrita que a própria natureza humana está em perigo de ser mecanizada  e absorvida no processo material. Onde isso é aceito como necessidade histórica inelutável, chega a ser uma sociedade planejada em estrito espírito científico, mas que será uma ordem estática e sem vida, que não possui outro fim além da própria preservação e que deve, por fim, causar o enfraquecimento do arbítrio humano e a esterilização da cultura. Por outro lado, se uma sociedade rejeita esse determinismo científico e busca preservar e desenvolver a vitalidade humana dentro do arcabouço de um Estado totalitário, é forçada, como na Alemanha nazista, a explorar os elementos irracionais da sociedade e da natureza humana de modo que as forças da violência e da agressividade, que todas as culturas do passado buscaram disciplinar e controlar, irrompam para dominar e destruir o mundo”.

 O Autor: Graduado em História pela Universidade de Oxford, também estudou Economia e Teologia. Foi influenciado pelas obras de Oswald Spengler e Arnold J. Toynbee e, embora tenha permanecido um estudioso independente por toda a vida, foi professor convidado de Estudos Católicos Romanos na Universidade de Harvard e de Filosofia da Religião na Universidade de Liverpool. Foi eleito para a Academia Britânica em 1943. Entre seus admiradores declarados, encontram-se gigantes como J. R. R. Tolkien e Russell Kirk.




PALESTRA DA OBRA



sexta-feira, 15 de junho de 2018

O CORAÇÃO DAS TREVAS


O CORAÇAO DAS TREVAS
Título original: The heart of darkness
Autor: Joseph Conrad (1857-1924)
Tradução: Celso M. Paciornik
Editora: Iluminuras
Assunto: Romance (Literatura estrangeira)
Edição: 2ª
Ano: 2002
Páginas: 114


Sinopse:
O livro escrito em 1899 apresenta a narrativa de Charlie Marlow, um alter ego[1] de Joseph Conrad, sobre suas experiências nos confins da África. Marlow descreve os sombrios horrores enfrentados no coração da selva africana, como a morte iminente e a bárbara selvageria dos nativos. O objetivo de Marlow nesse ambiente hostil é encontrar o Sr. Kurtz, personagem envolto em certo misticismo. No decorrer de sua jornada, os caracteres da personalidade de Kurtz são apresentados, alçando paulatinamente esse personagem à uma condição divina. Entretanto, quando o encontro entre os dois finalmente acontece sobra certa decepção com o desfecho, dadas às expectativas criadas no decorrer da viagem.
Comentários:
Trata-se de um clássico da literatura universal que vale a pena ser lido. O enredo do filme "Apocalypse Now" de Coppola é baseado nesse livro, trazendo Marlon Brando no papel correspondente ao do Sr. Kurtz, entretanto, o filme não substitui a leitura do livro.
Conrad sabia como ninguém que o “o sentido de um episódio não estava dentro, como uma amêndoa, mas fora, envolvendo a narrativa”. E é nesse periférico que se nos apresenta um clássico. Não tenho a pretensão de iniciá-lo em Conrad, seria uma empresa fadada, de antemão, ao fracasso, sabedor que sou que “não há iniciação para tais mistérios”, esta tem que se dar na descoberta de suas lendárias páginas de aventura humana “no meio do incompreensível, que é também detestável”, mas, ao final, nos coroa com o halo literário que só os grandes autores nos sabem ofertar. Em Conrad, somos salvos pela sua “devoção à eficiência”, nada falta ou transborda; tudo na medida certa, no tempo certo. Em algumas páginas, o romântico se nos impõe, e temos a beleza em estado primevo; em outros momentos, o drama surge, a emoção dita e domina.
Interpretação da obra:
O prof. José Monir Nasser dizia que para compreender a obra de Joseph Conrad, é preciso saber interpretar os aspectos simbólicos fartamente utilizados por ele. Se você ler a obra dogmaticamente, não vai compreender nada.
Joseph Conrad usa a África como uma metáfora da condição humana, da qual não estão excluídos os abismos e os horrores. Ele penetra num mundo estranho, quase surrealista.
O que Joseph Conrad quer nos contar é o dilema moral do ser humano e o caos do mundo em que vivemos. Mostra-nos a sociedade enlouquecida criada por Kurtz, que assume, nesta sociedade que criou, o papel de Deus, decidindo quem deve e quem não deve morrer. Nos mostra, ainda, que o ser humano vive num mundo concreto, natural e contraditório, onde existem aspectos benignos e malignos, tal qual a natureza que é também potencialmente contraditória e onde se encontram forças de sustentação e forças de repúdio.
O homem não é 100% natureza. Há uma parte nele que não pertence à natureza e que não é humana, mas Divina (o espírito que corresponde ao intelecto, à sabedoria e ao conhecimento instantâneo da realidade). O intelecto (não é a razão) faz a ligação do homem com o mundo transcendente, onde está a verdade. E nós humanos somos prisioneiros dessa tensão que é a essência da vida humana. Platão dizia que o homem é o intermediário entre o animal e o anjo.
Quando Kurtz retorna para a “civilização”, à beira da morte, desvela um pouco mais do mistério de tudo e emite sua expressão final antes de se quedar sem vida: “O Horror! O Horror!”, ele prenuncia o julgamento de sua alma na Terra. Marlow já não é o mesmo, frente à iluminação final de Kurtz.
Conclusão:
Os mistérios em torno das personagens de Conrad simbolizam a impenetrabilidade misteriosa da alma humana, e as suas complicações.

"Vivemos como sonhamos - sozinhos"
“O objetivo que tento atingir, pelo poder da palavra escrita, é fazer você escutar, fazer você sentir e acima de tudo, fazer você ver. Isto, e nada mais, é tudo”. Palavras de Joseph Conrad, talvez um dos mais vicerais escritores que a literatura ocidental já produziu.
Jósef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu em 1857, na cidade de Berdichev, na Ucrânia, uma região que foi parte da Polônia, mas na época estava sobre controle russo.
Nota: Alguns atribuem que Joseph Conrad nasceu em Berdyczow uma província ucraniana na Polônia daquela época. Hoje a cidade ucraniana Berdichev.



[1] [Lat., 'outro eu'.] 1. O outro eu, ou seja, pessoa na qual se pode confiar como em si mesmo. 2. P. ext. Aquele que substitui perfeitamente o outro. 


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