Título original: Der Fall Maurizius
Autor: Jakob
Wassermann
Tradução: Octávio
de Faria e Adonias Filho
Editora: Abril
Assunto: Romance
Edição: 1ª
Ano: 1975
Páginas: 412
Sinopse: O
livro narra os conflitos do jovem Etzel Andergast com seu pai, Barão Wolf de
Andergast, juiz respeitado, austero e conservador. O jovem descobre que seu pai
condenou um homem inocente, se interessa pelo caso e se envolve tentando
resolvê-lo. Para tanto, sai de casa e procura conseguir provas para libertar o homem
que o pai condenara.
O romance mostra o marcante contraste
entre a justiça ideal e a abstrata, e a aplicação de seus preceitos no mundo
dos homens.
Resumo da narrativa: O barão Wolf de Andergast divorciou-se da esposa quando seu filho Etzel tinha seis anos e meio de idade. As cláusulas do divórcio proibiam a mãe de
aproximar-se do filho, ou até mesmo escrever para ele. De forma que Etzel foi
criado por madame Rie, a governanta da casa.
Ao completar os 16 anos
de idade, o jovem Etzel descobre que seu pai cometeu um erro ao condenar um
inocente, se interessa pelo caso e decide corrigi-lo. Sai de casa, e viaja até
Berlim na busca de provas que pudessem inocentar Leonardo Maurizius preso por
um crime que não cometera.
O barão Wolf von
Andergast, quando era ainda um jovem promotor, foi o responsável pela acusação contra
Leonardo Maurizius de assassinato da esposa que culminou com a condenação deste
a prisão perpétua. Quase vinte anos depois, o barão retoma o estudo dos autos
do processo e descobre que cometeu um erro condenado um inocente.
Etzel, inconformado com
a prisão injusta de Leonardo Maurizius, foge de casa para descobrir a verdade.
Em Berlim, Etzel encontra Waremme cujo nome verdadeiro é George Warschauer e
procura obter informações sobre o assassinato da esposa de Maurízius.
Promove o indulto de
Maurizius, mas o seu filho Etzel não se conforma com um simples indulto, ele
quer uma justiça perfeita e absoluta.
O Processo Maurizius,
não é um livro de literatura jurídica ou de aventura forense. Ao que parece, vai
se seguindo a vida de Etzel Andergast, filho do Barão, entusiasta ao seu
próprio modo do seu próprio conceito de justiça. Um conceito, eu diria,
bastante responsável, raro ao atribuir o encargo pessoal de se agir segundo a
repulsa que a injustiça provoca, mas adolescente e ingênuo, por acreditar que
tudo possa ou mereça ser mudado.
- Etzel Andergast, filho do juiz Wolf Andergast, para
recuperar a justiça, denuncia o erro judiciário de seu pai contra Leonardo
Maurizius. Acontece que o denunciante só conhece parte da verdade e
desconhece completamente as conseqüências de seu ato. Como resultado acaba
destruindo a carreira de Wolf Andergast, seu pai, por conta de sua
rebelião metafísica disfarçada sob a aparente de defesa da justiça.
- Ao longo da história, Etzel vai mudando o seu
comportamento que é percebido pelo seu professor.
- O comportamento do barão, diante da revolta contra
a situação de uma falha de julgamento no processo, começa a mudar também
até destruí-lo completamente.
Interpretação da obra:
- Prof. José Monir Nasser
- Prof. José Monir Nasser
Perfil das personagens
da obra:
§
Etzel
Andergast: Um menino de 16 anos, míope*, que não conhecia a mãe por conta de um
divórcio. Desprovido de emoção, se considera predominantemente racional e ponto
de vista objetivo. Revoltado com as injustiças do mundo e não admitia o
contraditório. Seu discurso é existencialista e no fundo Etzel é um niilista. (* A miopia de
Etzel é um dado importante na interpretação da obra).
§ Barão Wolf Andergast: Pai de Etzel. Procurador de justiça, homem austero que “se deixara penetrar até o âmago pela consciência da nobreza superior do seu dever e do seu ministério” e “excessivamente absorvido pelo trabalho da sua profissão”. Não tinha vida social e não gostava de aparecer
§
Sofia
Andergast: Mãe de Etzel, divorciada do barão de Andergast e afastada do
filho Etzel por conta de uma traição conjugal ao marido.
§
Generala
Andergast: Avó de Etzel.
§
Oto
Leonardo Maurizius: Condenado à morte quando o barão de Andergast ainda era
juiz. Teve sua pena comutada para prisão perpétua e libertado pelo próprio
barão após ter cumprido 18 anos na cadeia.
§
Eli
Hensolt (Eli Jahn quando solteira): Esposa de Maurízius que fora
assassinada cuja culpa recaíra sobre o marido.
§
Gregório
Waremme (George Warschauer): Testemunha-chave na condenação de Leonardo
Maurízius. Ninguém sabia nada sobre a sua procedência ou quem ele era “só o diabo sabe o que é preciso fazer para
retratá-lo”.
§
Ana Jahn:
Irmã de Eli Hensolt. Com a morte da irmã Eli a fortuna da família havia passado
para ela.
§
Rie:
Governanta da casa que criara Etzel no lugar da mãe.
Dados do problema:
- Rebelião absoluta de
Etzel contra o pai por conta do divórcio com a mãe.
- Etzel Atribui ao pai
todas as injustiças do mundo. É a revolta contra o espírito.
- Etzel não admite o
contraditório. (“Há conflito de
deveres ou existe um só e único dever?”) um de seus questionamentos.
- O discurso de Etzel é
um discurso existencialista; um discurso contra o Espírito e contra Deus.
“No coração desta conspiração ou no
centro desta aliança, pouco importa, está meu pai”.
“Foi ele quem tomou as medidas, é ele
quem tem todos os fios nas mãos. Tudo o que o embaraça, ele o exclui: qualquer
curiosidade ou reclamação, qualquer espírito de pesquisa. As coisas sucedem
assim e ele quer que sucedam assim. E, como é todo poderoso, as coisas
realmente sucedem assim...”
Etzel sente tudo isso como uma injustiça. Pergunta a si mesmo se deve continuar a se submeter.
Etzel sente tudo isso como uma injustiça. Pergunta a si mesmo se deve continuar a se submeter.
- Etzel na verdade não
quer “recuperar” a justiça, o que ele quer é se vingar do pai,
destruindo-o. O pai aqui simboliza o espírito.
- O casamento de
Maurizius foi um casamento de conveniência. Ele era 16 anos mais novo que
a esposa; a esposa tinha um dote de 80 mil francos, isso o colocava como
suspeito principal na morte de sua esposa.
- O que aconteceu na
Alemanha não é um problema do povo alemão, é um problema humano. Poderia
ter acontecido com qualquer povo.
- Deve-se retirar a
conotação histórica do problema alemão da obra de Wassermann.
Conclusão
§ Etzel
quer se vingar do pai por causa da mãe. É a vingança contra o Espírito.
§ A
mãe simboliza o Amor.
§ O
pai simboliza o Espírito.
§ Por
essa razão as crianças devem ser criadas pela mãe que é o amor.
§ Etzel
está revoltado contra o Espírito porque este lhe tirou a possibilidade do amor.
Ele quer a derrota do pai para se colocar no seu lugar. Aqui está a explicação
porque Etzel não é emocional, mas racional.
§ A
justiça do pai é imperfeita e Etzel vai procurar a justiça perfeita, porque ele
julga que o mundo é imperfeito. Eis aqui a rebelião metafísica.
§ Etzel
é um rebelado metafísico, um narcisista do mais alto calibre, que quer
construir um “mundo perfeito” por meio da “justiça perfeita”.
§ A
condição para o mundo existir é ter um grau de perfeição menor que a perfeição
de Deus. Se o mundo fosse tão perfeito quanto Deus, então não existiria Deus. A
imperfeição do mundo é uma espécie de preço que nós pagamos para viver nele.
§ Em
resumo: Etzel é um rebelado contra Deus que tem o delírio da onipotência.