segunda-feira, 1 de junho de 2015

O PROCESSO MAURIZIUS

Título original: Der Fall Maurizius
Autor: Jakob Wassermann
Tradução: Octávio de Faria e Adonias Filho
Editora: Abril
Assunto: Romance
Edição: 1ª
Ano: 1975
Páginas: 412


Sinopse: O livro narra os conflitos do jovem Etzel Andergast com seu pai, Barão Wolf de Andergast, juiz respeitado, austero e conservador. O jovem descobre que seu pai condenou um homem inocente, se interessa pelo caso e se envolve tentando resolvê-lo. Para tanto, sai de casa e procura conseguir provas para libertar o homem que o pai condenara.
O romance mostra o marcante contraste entre a justiça ideal e a abstrata, e a aplicação de seus preceitos no mundo dos homens.

Resumo da narrativa: O barão Wolf de Andergast divorciou-se da esposa quando seu filho Etzel tinha seis anos e meio de idade. As cláusulas do divórcio proibiam a mãe de aproximar-se do filho, ou até mesmo escrever para ele. De forma que Etzel foi criado por madame Rie, a governanta da casa.
Ao completar os 16 anos de idade, o jovem Etzel descobre que seu pai cometeu um erro ao condenar um inocente, se interessa pelo caso e decide corrigi-lo. Sai de casa, e viaja até Berlim na busca de provas que pudessem inocentar Leonardo Maurizius preso por um crime que não cometera.
O barão Wolf von Andergast, quando era ainda um jovem promotor, foi o responsável pela acusação contra Leonardo Maurizius de assassinato da esposa que culminou com a condenação deste a prisão perpétua. Quase vinte anos depois, o barão retoma o estudo dos autos do processo e descobre que cometeu um erro condenado um inocente.
Etzel, inconformado com a prisão injusta de Leonardo Maurizius, foge de casa para descobrir a verdade. Em Berlim, Etzel encontra Waremme cujo nome verdadeiro é George Warschauer e procura obter informações sobre o assassinato da esposa de Maurízius.
Promove o indulto de Maurizius, mas o seu filho Etzel não se conforma com um simples indulto, ele quer uma justiça perfeita e absoluta.
O Processo Maurizius, não é um livro de literatura jurídica ou de aventura forense. Ao que parece, vai se seguindo a vida de Etzel Andergast, filho do Barão, entusiasta ao seu próprio modo do seu próprio conceito de justiça. Um conceito, eu diria, bastante responsável, raro ao atribuir o encargo pessoal de se agir segundo a repulsa que a injustiça provoca, mas adolescente e ingênuo, por acreditar que tudo possa ou mereça ser mudado.

  • Etzel Andergast, filho do juiz Wolf Andergast, para recuperar a justiça, denuncia o erro judiciário de seu pai contra Leonardo Maurizius. Acontece que o denunciante só conhece parte da verdade e desconhece completamente as conseqüências de seu ato. Como resultado acaba destruindo a carreira de Wolf Andergast, seu pai, por conta de sua rebelião metafísica disfarçada sob a aparente de defesa da justiça.
  • Ao longo da história, Etzel vai mudando o seu comportamento que é percebido pelo seu professor.
  • O comportamento do barão, diante da revolta contra a situação de uma falha de julgamento no processo, começa a mudar também até destruí-lo completamente.

Interpretação da obra:
- Prof. José Monir Nasser

Perfil das personagens da obra:

§  Etzel Andergast: Um menino de 16 anos, míope*, que não conhecia a mãe por conta de um divórcio. Desprovido de emoção, se considera predominantemente racional e ponto de vista objetivo. Revoltado com as injustiças do mundo e não admitia o contraditório. Seu discurso é existencialista e no fundo Etzel é um niilista. (* A miopia de Etzel é um dado importante na interpretação da obra).

§  Barão Wolf Andergast: Pai de Etzel. Procurador de justiça, homem austero que “se deixara penetrar até o âmago pela consciência da nobreza superior do seu dever e do seu ministério” e “excessivamente absorvido pelo trabalho da sua profissão”. Não tinha vida social e não gostava de aparecer em público. Passava duas horas por dia, à noite, para conversa com o filho, compromisso que “entrava no plano de sua vida do mesmo modo como o estudo dos autos”. A conversa começava sempre com “perguntas inofensivas” e terminava com altos debates.
§  Sofia Andergast: Mãe de Etzel, divorciada do barão de Andergast e afastada do filho Etzel por conta de uma traição conjugal ao marido.
§  Generala Andergast: Avó de Etzel.
§  Oto Leonardo Maurizius: Condenado à morte quando o barão de Andergast ainda era juiz. Teve sua pena comutada para prisão perpétua e libertado pelo próprio barão após ter cumprido 18 anos na cadeia.
§  Eli Hensolt (Eli Jahn quando solteira): Esposa de Maurízius que fora assassinada cuja culpa recaíra sobre o marido.
§  Gregório Waremme (George Warschauer): Testemunha-chave na condenação de Leonardo Maurízius. Ninguém sabia nada sobre a sua procedência ou quem ele era “só o diabo sabe o que é preciso fazer para retratá-lo”.
§  Ana Jahn: Irmã de Eli Hensolt. Com a morte da irmã Eli a fortuna da família havia passado para ela.
§  Rie: Governanta da casa que criara Etzel no lugar da mãe.

Dados do problema:
  • Rebelião absoluta de Etzel contra o pai por conta do divórcio com a mãe.
  • Etzel Atribui ao pai todas as injustiças do mundo. É a revolta contra o espírito.
  • Etzel não admite o contraditório. (“Há conflito de deveres ou existe um só e único dever?”) um de seus questionamentos.
  • O discurso de Etzel é um discurso existencialista; um discurso contra o Espírito e contra Deus.
“No coração desta conspiração ou no centro desta aliança, pouco importa, está meu pai”.
“Foi ele quem tomou as medidas, é ele quem tem todos os fios nas mãos. Tudo o que o embaraça, ele o exclui: qualquer curiosidade ou reclamação, qualquer espírito de pesquisa. As coisas sucedem assim e ele quer que sucedam assim. E, como é todo poderoso, as coisas realmente sucedem assim...” 

Etzel sente tudo isso como uma injustiça. Pergunta a si mesmo se deve continuar a se submeter.
  • Etzel na verdade não quer “recuperar” a justiça, o que ele quer é se vingar do pai, destruindo-o. O pai aqui simboliza o espírito.
  • O casamento de Maurizius foi um casamento de conveniência. Ele era 16 anos mais novo que a esposa; a esposa tinha um dote de 80 mil francos, isso o colocava como suspeito principal na morte de sua esposa.
  • O que aconteceu na Alemanha não é um problema do povo alemão, é um problema humano. Poderia ter acontecido com qualquer povo.
  • Deve-se retirar a conotação histórica do problema alemão da obra de Wassermann.
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Conclusão
§  Etzel quer se vingar do pai por causa da mãe. É a vingança contra o Espírito.
§  A mãe simboliza o Amor.
§  O pai simboliza o Espírito.
§  Por essa razão as crianças devem ser criadas pela mãe que é o amor.
§  Etzel está revoltado contra o Espírito porque este lhe tirou a possibilidade do amor. Ele quer a derrota do pai para se colocar no seu lugar. Aqui está a explicação porque Etzel não é emocional, mas racional.
§  A justiça do pai é imperfeita e Etzel vai procurar a justiça perfeita, porque ele julga que o mundo é imperfeito. Eis aqui a rebelião metafísica.
§  Etzel é um rebelado metafísico, um narcisista do mais alto calibre, que quer construir um “mundo perfeito” por meio da “justiça perfeita”.
§  A condição para o mundo existir é ter um grau de perfeição menor que a perfeição de Deus. Se o mundo fosse tão perfeito quanto Deus, então não existiria Deus. A imperfeição do mundo é uma espécie de preço que nós pagamos para viver nele.
§  Em resumo: Etzel é um rebelado contra Deus que tem o delírio da onipotência.