sábado, 1 de fevereiro de 2014

OTELO

Autor: William Shakespeare (1564-1616).
Tradução: Beatriz Viegas-Fria
Editora: L&PM Editores (Pocket)
Assunto: Artes-Teatro
Edição: 1ª
Ano: 1999
Páginas: 180

Otelo é uma peça teatral em forma de drama escrita por volta do ano de 1603, e a sua primeira representação de que há registo ocorreu em 1 de Novembro de 1604 no Whitehall Palace de Londres. Neste drama William Shakespeare explora a fundo as várias faces da alma humana.

Sinopse: Otelo é um nobre mouro e soldado de fortuna, cujo valor o elevou ao posto de general a serviço da República de Veneza. Apaixona-se pela bela Desdêmona uma nobre branca e apesar da proibição do pai da moça, eles se casam, pois ela também o ama.
Nomeado governador de Chipre, o general Otelo indica o Tenente Cássio, primo de Desdêmona, que lhe serve com dedicação para seu auxiliar principal. Desse modo, incita a inveja de Iago, seu alferes, que se julgava merecedor da promoção e por isso trama uma cruel vingança, insinuando a Otelo que sua mulher e Cássio o traíam. E assim o pérfido Iago, através de intrigas sutis conduz Otelo ao ciúme infernal e enlouquecedor que estrangula a inocente Desdêmona.

Análise da obra: O prof. José Monir Nasser explica que para muitos leitores o ciúme ganha dimensão clássica nesta obra e Otelo é citado sempre como símbolo do ciúme. Nada mais equivocado. Shakespeare, construtor de catedrais góticas da literatura jamais iria legar a humanidade algo tão trivial e simplório. Em verdade ele lega algo mais profundo e significativo que um simplório tratado sobre o ciúme.
Para compreender o verdadeiro sentido da história, é preciso fazer uma interpretação simbólica, senão o leitor não irá entender nada. Vamos a interpretação.
Iago simboliza a inveja, a intriga, a hipocrisia e o cinismo. A história é uma história de tensão o tempo todo que começa com uma inveja e uma intriga; o próprio Iago, no início da história, se declara como um mau caráter.
A história começa com um casamento já resolvido (o casamento de um mouro com a nobreza veneziana). O que Iago quer fazer o tempo todo, é destruir o casamento de Otelo com Desdêmona a qualquer custo.
O casamento não é trivial, trata-se do casamento do Céu com a Terra, onde Desdêmona simboliza a pureza e Otelo a vida real e concreta, respectivamente.
O casamento do Céu com a Terra significa a tentativa metafísica de recuperação da possibilidade humana com a transcendência divina, perdida com o surgimento do renascimento. Iago, que simboliza o própro demônio, quer destruir o casamento de Otelo com Desdêmona a todo custo. Na verdade o que ele quer destruir, é a possibilidade do casamento entre o Céu e a Terra, porque a humanidade só se completa se houver o casamento do espírito com a matéria e o demônio quer destruir essa possibilidade para impedir que a realização humana possa se efetivar.
Metafisicamente o diabo é um espectro que estabelece um obstáculo na existência humana. Traiçoeiro, sempre ataca pelas costas, assim como Iago que também atacou todas as suas vítimas pelas costas (Emília, Rodrigo, Cássio).
Iago usa o discurso humanista para seduzir a mente de Otelo. O discurso humanista é aquele que diviniza o homem, a natureza e a matéria e coloca a mente como a única bússola de orientação humana.
A Mente (ou a razão) vem de mentira e pode ser nosso maior inimigo. Nós não acreditamos mais em Deus. Não acreditamos mais nos grandes mistérios; só acreditamos em discursos humanistas que não produzem nenhuma verdade, porque a mente é incapaz de produzí-las. A verdade só pode ser vista pelo intelecto e o intelecto é metafísico.
Iago é o filósofo moderno (transformou a própria mulher e o Rodrigo em instrumentos malignos).
No final da obra o diabo é desmascarado quando Iago diz: “Eu não falo mais nada”.

Conclusão: Otelo é uma obra de representa a recuperação da perspectiva do casamento entre o Céu (espírito) e a Terra (matéria). Recuperação representada no beijo de Otelo, antes de morrer. Por essa razão, o diabo não vence.
Por outro lado, é preciso compreender que a partir do momento que se descasa o Céu e a Terra, nada mais dá certo.
Esta é a verdadeira mensagem que Shakespeare lega para a humanidade.

É exatamente isso que está acontecendo no Brasil: o divórcio entre o Céu e a Terra e, para piorar tudo, colocou-se um Iago como governante.