sexta-feira, 1 de março de 2013

O INSPETOR GERAL

Título original: Revizor
Autor: Nicolai Gógol
Tradução: Arlete Cavalieri
Editora: Peixoto Neto
Assunto: Drama
Edição: 1ª
Ano: 2007
Páginas: 244

Sinopse: Na antiga Rússia, existia um vilarejo comandado por um prefeito totalmente corrupto e seus colaboradores de mesma índole: O chefe dos correios, o inspetor de escolas, o juiz, o encarregado da assistência social, o médico da província, o comissário de polícia e até dois pequenos proprietários de terras.

Eles mantêm as instituições públicas sem as mínimas condições de saúde, organização ou humanidade e tratam os moradores como se fossem animais, pensando apenas nos lucros pessoais. Tudo transcorre desta forma, até que um dia recebem a notícia de que o governo enviou um inspetor geral do alto escalão das repartições públicas para averiguar as condições dos órgãos locais. O prefeito manda chamar o encarregado da assistência social, o inspetor de escolas, o juiz, comissário de polícia, o médico e dois policiais para dar-lhes a notícia. Todos ficam apavorados e resolvem fazer uma faxina na cidade, os médicos eliminam alguns doentes e trocam as roupas de cama, o juiz manda tirar a criação de gansos do tribunal, o Inspetor de Escolas pede para os professores pararem de bater nos alunos etc.

Enquanto isso, um malandro jogador de cartas, Khlestakóv, está hospedado no hotel local e é confundido com o tal inspetor geral e acaba recebendo a visita do prefeito que o convida para mudar-se para sua casa onde é tratado com as mais altas regalias, inclusive recebendo grandes somas de dinheiro em forma de propina de todos que o visitam.

Na confusão das inspeções não faltam situações hilárias de denúncia aos meandros do poder, à corrupção, à delação, à impunidade, aos favores etc. Khlestakóv aproveita-se da situação e, após encher os bolsos de dinheiro, vai embora, mas não sem antes marcar casamento com a filha do Prefeito.

Resumo da narrativa: O resumo do enredo é a própria sinopse supracitada.

Comentários: O Inspetor Geral, escrita em 1836 pelo ucraniano Nicolai Gógol, fala de política - mas não só. Destila críticas a políticos e administradores de maneira geral, a subornadores e subornados, ao serviço de aparência e à hipocrisia das instituições e dos cargos públicos. Não faltam espirros ácidos ao comportamento frívolo das mulheres, à credulidade simplória e à hipocrisia insensível dos homens, mas, sobretudo fala da consciência moral do ser humano, mais especificamente do tribunal interno da consciência humana.

Interpretação da obra: O prof. José Monir Nasser explica que o leitor desatento e aquele que lê para simples entretenimento pensa que está lendo uma obra de comédia, uma sátira ou um libelo anti-burocrático e anti-czarista. Nada mais equivocado. O próprio czar, Nicolau I, impediu a censura e autorizou a apresentação da peça que foi encenada pela primeira vez no dia 19 de abril de 1836.

Após a apresentação, o público atônito nada entendeu. Gogol teria se manifestado com estas palavras: “é a primeira concebida com o propósito de corrigir nossa sociedade, e não creio havê-lo conseguido; só viram, na minha comédia, uma tendência partidária a ridicularizar nossas leis e a ordem estabelecida, que só pretende estigmatizar certos abusos e certos atos ilegais”. Desgostoso com o público passa os anos seguintes fora da Rússia.

A peça é satírica, é verdade, mas interpretá-la como tal, é enxergar apenas a camada mais superficial da obra. A história é mais complexa que simples burocratas e funcionários públicos indolentes.

Assim como nós, todos os moradores daquele vilarejo são seres humanos comuns. Na condição de seres humanos comuns, é preciso ter consciência que sentir culpa é da natureza humana e aquelas pessoas, ante a iminente presença de um inspetor geral, são tomadas pelo pânico do sentimento de culpa que na realidade é a consciência moral agindo sobre o indivíduo. Portanto, é a consciência moral pesada que está conduzindo o comportamento daquelas pessoas.

O pressionado pela consciência moral sempre espera uma punição e é essa possibilidade de punição que aterroriza aquelas pessoas, porque o tribunal interno da consciência é sempre mais poderoso do que o tribunal externo.

É preciso, portanto, recuperar a consciência de culpa e a chegada do verdadeiro inspetor geral simboliza essa recuperação da consciência de culpa para aquelas pessoas.

A obra trata, ainda, do diabo no sentido metafísico e Khlestakov simboliza o diabo em pessoa.
 
Assim, é preciso ler a obra nos seus aspectos simbólicos para que possamos compreendê-la em todo o seu sentido, tal como o autor quer nos transmitir. Infelizmente, por conta da modernidade, nós perdemos a capacidade de leitura e interpretação simbólica e por isso temos enorme dificuldade de compreender as grandes obras da literatura universal, os grandes clássicos. Portanto, tal como o Inspetor Geral simboliza a recuperação da consciência dos moradores daquela cidade, nós precisamos não só recuperar a nossa consciência, mas reaprender a leitura simbólica, senão não vamos entender nada. Nem da obra e nem do mundo que nos cerca. (Anatoli Oliynik)

Conclusão: O Inspetor Geral é a descrição de como funciona a condição humana, esclarece o prof. Monir.