sábado, 1 de dezembro de 2012

NOTAS PARA A DEFINIÇÃO DE CULTURA

Título original: Notes towards the definition of culture
Autor: T. S. Eliot
Tradutor: Eduardo Wolf
Assunto: Ensaio filosófico
Editora: É Realizações
Edição: 1ª
Ano: 2011
Páginas: 144

Sinopse: “Tenho observado com crescente ansiedade a trajetória da palavra cultura nos últimos anos. Pode nos parecer natural e significativo que, durante um período de destruição sem paralelo, essa palavra viesse a ter uma importante função no vocabulário jornalístico. Seu papel é dividido com a palavra civilização. Neste ensaio, não busquei de modo algum determinar a fronteira entre os significados dessas duas palavras, pois cheguei à conclusão de que qualquer tentativa nesse sentido somente poderia resultar em uma distinção artificial, peculiar à obra, distinção essa que o leitor teria dificuldade em reter e que, após fechar o livro, provavelmente o abandonaria com uma sensação de alívio. Com efeito, usamos assaz frequentemente uma palavra em um contexto no qual a outra quadraria igualmente bem; há outros contextos em que uma palavra obviamente é adequada e a outra não; e não creio que isso deva causar embaraço. Existem obstáculos inevitáveis o suficiente nessa discussão sem que se ergam outros desnecessários.” T. S. Eliot.

Conteúdo do livro: O próprio T. S. Eliot nos dá os detalhes do que trata o livro. Tanto melhor, pois assim não corremos o risco de escrever alguma impropriedade.

Diz Eliot: “No começo de meu primeiro capítulo, busquei distinguir e relacionar os três principais usos da palavra e chamar a atenção para o fato de que, quando usamos o termo em um desses três modos, devemos estar atentos para os demais. A seguir, tentei expor a relação essencial entre cultura e religião, e deixar claras as limitações da palavra relação como uma expressão dessa ‘relação’. A primeira asserção importante é que nenhuma cultura surgiu ou se desenvolveu a não ser acompanhada por uma religião: de acordo com o ponto de vista do observador, a cultura aparecerá como o produto da religião, ou a religião como o produto da cultura.

Nos três capítulos seguintes, discuto o que me parecem ser três importantes condições para a cultura. A primeira dessas é a estrutura (não apenas planejada, mas em desenvolvimento) orgânica, de tal modo que promova a transmissão hereditária de cultura dentro da própria cultura: e isso requer continuidade de classes sociais. A segunda é a necessidade de a cultura ser analisável, do ponto de vista geográfico, em culturas locais: isso levanta o problema do ‘regionalismo’. A terceira é o equilíbrio entre unidade e diversidade na religião – ou seja, universalidade da doutrina e particularidade do culto e da devoção. O leitor deve ter em mente que não pretendo explicar todas as condições necessárias para que uma cultura floresça; discuto três que chamaram minha atenção em particular. Deve lembrar-se igualmente de que não ofereço um conjunto de indicações para a produção de uma cultura. Não estou afirmando que, ao começar a produzir essas ou outras condições adicionais, podemos confiantemente esperar que melhoremos nossa civilização. Afirmo apenas que, até onde se pode alcançar minha observação, é improvável que haja grande civilização onde que que essas três condições estejam ausentes.

Os dois últimos capítulos fazem uma modesta tentativa de desembaraçar a cultura da política e da educação.

Assim, uma nova civilização está sempre em construção: o estado de coisas que desfrutamos hoje ilustra o que acontece com as aspirações de cada época por um futuro melhor. A questão mais importante que podemos perguntar é se existe uma modelo permanente pelo qual podemos comparar uma civilização com outra, e através do qual podemos prever o progresso ou o declínio de nossa própria.

Caso sejamos bem-sucedidos, ainda que em parte, em responder tal questão, devemos ficar alertas contra a ilusão de tentar produzir tais condições com vistas a melhorar nossa própria cultura. Pois quaisquer que sejam as conclusões definitivas a emergirem deste estudo, uma delas certamente é a seguinte: a cultura é algo ao qual não podemos ambicionar deliberadamente. Ela é o produto de uma pletora de atividades.

De resto, devemos buscar a melhoria da sociedade, do mesmo modo como buscamos melhorar como indivíduos em questões particulares relativamente menores. Não podemos dizer: ‘Devo transformar-me em uma pessoa completamente diferente’; podemos dizer apenas: ‘Vou abandonar este mau hábito e tentar adquirir aquele bom’. Do mesmo modo, a respeito da sociedade somente podemos dizer: ‘Devemos tentar aperfeiçoá-la quanto a este ou àquele aspecto em particular, em que o excesso ou a ausência é evidente; devemos tentar incluir simultaneamente em nossa visão tantas coisas, de maneira a podermos evitar, ao consertar algo que estava errado, estragar alguma outra coisa’. Até mesmo isso é a expressão de uma aspiração maior do que podemos efetivamente alcançar: pois é tanto – ou mais – em virtude do que alcançamos aos poucos, sem compreender ou prever as conseqüências, que a cultura de uma época difere daquela de sua antecessora.”
 
Sobre o autor:
 
Thomas Stearns Eliot (St. Louis, 26 de setembro de 1888 — Londres, 4 de janeiro de 1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário britânico-norte-americano. Em 1948, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.

Eliot nasceu nos Estados Unidos, mudou-se para a Inglaterra em 1914 (então com 25 anos) e tornou-se cidadão britânico em 1927, com 39 anos de idade. Sobre sua nacionalidade e sua influência na sua obra, T.S. Eliot disse:

"My poetry wouldn’t be what it is if I’d been born in England, and it wouldn’t be what it is if I’d stayed in America. It’s a combination of things. But in its sources, in its emotional springs, it comes from America."

[Minha poesia não seria o que é se eu tivesse nascido na Inglaterra, e não seria o que é se eu tivesse permanecido nos Estados Unidos. É uma combinação de coisas. Mas, nas suas fontes, na sua força emocional, ela vem dos Estados Unidos.]