domingo, 15 de janeiro de 2012

NADA DE NOVO NO FRONT

Título original: Im Westen nicht Neues [A Oeste nada de Novo]
Autor: Erich Maria Remarque (1898-1970)
Tradução: Helen Rumjanek
Editora: L&PM Editores
Assunto: Romance
Edição: 1ª
Ano: 2004
Páginas: 224
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Sinopse: Paul Baumer é um filho de uma humilde família alemã durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Convencido de seu dever patriótico por adultos e professores, abandona os bancos escolares e junta-se às trincheiras de soldados alemães. Em pouco tempo, Paul se vê cercado por um ambiente de horror, vê meninos como ele perecerem e percebe que trocou a sua juventude por uma única e cruel certeza - ao da guerra, esteja-se do lado que se estiver.

Resumo da narrativa: A história relata as experiências de Paul Bäumer e seus companheiros de escola, que saem das salas de aula para as trincheiras, cheios de energia e convicção, cavaleiros entusiastas de uma causa pessoal e nacional. Um a um eles são aniquilados no front, não apenas pelo fogo do inimigo, mas também por um crescente sentimento de inutilidade. A guerra deixa de ser uma causa para se tornar um Moloch inexorável e insaciável. Os soldados não têm como escapar da matança rotineira; são homens condenados. Morrem gritando, mas sem serem ouvidos; morrem resignados, mas em vão. O mundo para além dos canhões não os conhece; não pode conhecê-los. “Acredito que estamos perdidos”, diz Paul. Só resta a fraternidade da morte, a camaradagem dos condenados. No final Paul morre, infeliz, mas estranhamente em paz com seu destino.

Comentários sobre o enredo: Todos os lemas perdem seu significado quando os homens sofrem mortes violentas – patriotismo, dever nacional, honra, glória, heroísmo, bravura. O mundo exterior consiste apenas em brutalidade, hipocrisia, ilusão. Até os laços íntimos da família foram despedaçados. Resta o homem só, sem um ponto de apoio no mundo real.

A simplicidade e a potência do tema – a guerra como força aviltante e totalmente destrutiva, na verdade niilista – adquirem áspera expressividade graças a um estilo incisivo e mesmo brutal. Cenas breves e frases curtas e vivas, na primeira pessoa e no presente do indicativo, criam uma instantaneidade inescapável e absorvente. Não há delicadeza. A linguagem é freqüentemente rude, as imagens quase sempre medonhas. O romance tem uma consistência de estilo e propósitos que faltara à obra anterior “O Quarto dos Sonhos” de Remarque e que poucas de suas obras subseqüentes alcançariam.

Comentários sobre o livro: Os críticos de Remarque diziam que no mínimo ele representava erroneamente a realidade física da guerra: um homem com as pernas ou a cabeça arrancadas não podia continuar a correr, referindo-se a duas das imagens que Remarque tinha usado. Muito mais sério do que essas inabilidades, alegavam, era a sua falta de compreensão dos aspectos morais do comportamento dos soldados. Os soldados não eram robôs, destituídos de qualquer senso de finalidade. Apoiavam-se num amplo espectro de valores firmemente estabelecidos.

Comentários sobre o autor: Para melhor compreender o sentido da obra e fundamentar a conclusão, é preciso fazer um breve comentário sobre o autor, pois há relação direta entre ambos.

Remarque não teve infância feliz. Seu ambiente de classe média baixa aparentemente o deprimiu. Dizia-se um romântico e freqüentemente brincava com a idéia de suicídio. Esse ânimo de dúvida existencial nunca o abandonaria.

A origem social de Remarque não pode ser desconsiderada. Ele era produto de um grupo social fortemente afetado por mudanças tecnológicas e sociais. John Middleton Murry, que também sofrera em sua juventude de uma intensa ansiedade que ele suspeitava provir de sua origem social, dizia que a baixa classe média urbana era “o segmento mais completamente deserdado da sociedade moderna”. Era uma camada que a guerra e especialmente a instabilidade econômica dos anos vinte atacariam com ferocidade.

Um mistério enorme cerca a experiência de guerra de Remarque. Estava com dezesseis anos quando irrompeu a guerra, em setembro de 1914, ele foi convocado dois anos mais tarde, em novembro de 1916, enquanto estudava para ser professor, e enfrentou pela primeira vez o combate na linha de frente em Flandres, em junho de 1917. No front foi ferido, segundo seu próprio testemunho, quatro ou cinco vezes, mas conforme outras fontes, apenas uma vez gravemente. O Ministro do Exército alemão, general Groener, informaria a seus colegas de gabinete em dezembro de 1930 que Remarque tinha sido ferido no joelho esquerdo e sob um dos braços em 31 de julho de 1917, permanecendo num hospital em Duisburg de 3 de agosto de 1917 até 31 de outubro de 1918. O ministro considerou falsas as informações de que Remarque tinha sido condecorado ou promovido.

Não se sabe muito mais sobre os dias de soldado de Remarque. Depois que foi catapultado para a fama internacional, mostrou-se relutante em dar entrevistas, e menos ainda informações precisas sobre sua carreira na guerra. Um homem chamado Peter Kropp contou ter passado um ano no hospital junto com o autor durante a guerra e ter sido o modelo para Albert Kropp, uma das personagens de “Nada de novo no front”. Kropp disse que o ferimento na perna que hospitalizou Remarque tinha sido feito pelas próprias mãos do escritor, e insistia em que, uma vez curado o ferimento, ele se tornara funcionário do hospital. Afirmava ainda, que Remarque não tinha qualificações especiais para representar os sentimentos e o comportamento do soldado no front. Parece haver motivos para suspeitar que a experiência de guerra de Remarque não foi tão ampla quanto sugere seu romance e, particularmente, o esforço promocional que o cercou.

Depois da guerra, Remarque retornou brevemente ao seminário católico para professores, de Osnabrück, e no início de 1919 tornou-se mestre-escola de aldeia. Logo abandonou esta ocupação, passando a atuar como jornalista free-lance e a realizar outras tarefas extras para enfrentar suas necessidades financeiras. Publicou artigos sobre carros, barcos, receitas de coquetel; trabalhou por algum tempo numa firma de manufatura de pneus em Hanover, escrevendo jingles de propaganda; finalmente tornou-se editor de fotografia da Scherl, uma revista luxuosa, da alta sociedade, em Berlim. Remarque tentava escrever romances. Dois de seus romances foram publicados, (“O Quarto dos Sonhos”) em 1920 e (“Estação Horizonte”) em 1928, mas não parece ter ficado muito satisfeito com o resultado.

Em 1921 uma tentativa de escrever uma peça de teatro deixou-o profundamente deprimido.

Sobre “O Quarto dos Sonhos” Remarque diria mais tarde:

“Um livro realmente infame. Dois anos depois de publicar, tive vontade de comprar todos s exemplares e tirá-lo de circlação. Infelizmente não tinha dinheiro suficiente. Os Ullsteins fizeram isso por mim, mais tarde. Se não tivesse escrito nada melhor depois, o livro teria sido uma razão para me suicidar.”

O motivo da morte aqui é impressionante: pensamentos sobre suicidio na juventude e ameaças de consumá-lo quando adulto. Junto com o romantismo resultante e a existência nômade, o motivo indica um homem profundamente descontrolado, procurando uma explicação para sua insatisfação. E nessa busca Remarque finalmente encontrou a experiência de guerra.

A idéia de que a guerra era a fonte de todos os males lhe veio de repente, confessou. “Todos nós estávamos”, disse em 1929, “e ainda estamos, inquietos, sem rumo, às vezes excitados, às vezes indiferentes e essencialmente infelizes”. Mas, num momento inspiração, ele tinha pelo menos descoberto a chave para o mal-estar. A guerra.

Conclusão: “Nada de novo no front” não é um livro sobre os acontecimentos da guerra, tampouco um livro de memória e muito menos um diário, mas uma denúncia irada dos efeitos da guerra sobre a jovem geração que viveu o conflito. Os relatos procuram mostrar como a guerra tinha destruído os laços psicológicos, morais e reais entre a geração no front e a sociedade nacional. “Se voltarmos”, diz Paul, “estaremos cansados, alquebrados, destruídos, sem raízes e sem esperanças. Não seremos mais capazes de encontrar nosso caminho”. O próprio Remarque declarou, em 1928, de que a guerra tinha destruído a possibilidade de levar o que a sociedade consideraria uma existência normal.

Portanto, o livro é mais um comentário sobre o espírito do pós-guerra, sobre a visão da guerra no pós-guerra, do que uma tentativa de reconstruir a realidade da experiência da trincheira.

Pode-se ver “Nada de novo no front” não como uma explicação, mas como um sintoma da confusão e desorientação do mundo pós-guerra, particularmente da geração que atingiu a maturidade durante a guerra. O romance é uma condenação emocional, uma afirmação do instinto, um grito de angústia de um insatisfeito, um homem que não conseguiu encontrar seu lugar adequado na sociedade. Que a guerra contribuiu grandemente para a inépcia de grande parte da geração do pós-guerra é inegável; que a guerra foi a causa básica deste transtorno social é pelo menos discutível.

A verdade é que o livro foi um sucesso de vendas. Publicado pela primeira vez em Berlim pela editora de Ullstein, no final de janeiro de 1929, nas três primeiras semanas, foram vendidos 200 mil exemplares. Em quatro meses (maio 1929) foram vendidos 640 mil exemplares e no final do ano as vendas chegaram a quase um milhão de exemplares na Alemanha, e outro milhão na Grã-Bretanha, França e Estados unidos juntos. Em outubro de 1930, Remarque tinha o maior público do mundo.

Sobre o autor: Erich Paul Remark nasceu em 22 de junho de 1898, em Osnabrück, filho de um encadernador católico, Peter Franz Remark e de Anne Maria. Batizado Erich Paul, adotou um pseudônimo depois da guerra, abandonando o Paul, acrescentando o nome de sua mãe e afrancesando o sobrenome.

Em 1933, os nazistas baniram e queimaram os livros de Remarque. A propaganda do partido afirmava que ele era descendente de judeus franceses, e que o seu verdadeiro nome era Kramer (o seu nome original lido de trás para a frente). Há ainda algumas biografias que afirmam isto, apesar da falta de provas.

Viajou para a Suíça, em 1931, e em 1939 emigrou para os Estados Unidos da América, com a sua primeira esposa, Ilsa Jeanne Zamboui, com quem se casou e divorciou duas vezes. Tornaram-se cidadãos estadunidenses em 1947. Por fim, casou com a atriz Paulette Goddard, em 1958, e permaneceram casados até à data da sua morte em 1970, na Suíça.