quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ULISSES

Título original: Ulysses
Autor: James Joyce
Tradução: Bernardina da Silveira Pinheiro
Editora: Alfaguara
Assunto: Romance
Edição: 1ª
Ano: 2007
Páginas: 912

 
Sinopse: O livro narra o dia em que Stephen Dedalus e seu amigo Leopold Bloom saem da Torre Martello para tocar a vida, sem pretensões, pelo menos sem grandes projetos. Dedalus, personagem surgido no romance anterior de Joyce (Um Retrato do artista quando jovem), é um sonhador, imerso em considerações filosóficas sobre a carreira. Para Leopold Bloom, entretanto, naquele dia o que mais o atormenta é uma possível traição de Molly, sua mulher, que é cantora e na tarde daquele 16 de junho de 1904 vai se encontrar com seu empresário Blazes Boylan.

Leopold Bloom, a personagem central da obra, foi definido pelo próprio Joyce como: — "filho, pai, amante, trabalhador e cidadão, é ainda uma pessoa bondosa, humana, prudente, equilibrada, submissa, tragicamente isolada, astuta, cética, simples, não-reprovadora, com um exterior aparentemente maleável, mas com uma essência íntima inflexível, de auto-suficiência".

Resumo da narrativa:
Escrita em 1922, a obra retrata um dia (16 de junho de 1904) na vida de Leopold Bloom, um corretor de anúncios vivendo em Dublin. Construída como paródia da obra “Odisséia” de Homero, a história reproduz, em dezoito capítulos, as cenas do retorno a Ítaca de Ulysses (Odisseu), dando-lhe um equivalente no cotidiano da vida de Bloom. O herói da primeira obra, Stephen Dedalus, que é o alter ego literário de James Joyce, interage com Leopold Bloom ao longo da obra.

Otto Maria Carpeaux resume a obra assim:

Ulisses é a Divina Comédia do nosso tempo. Pouco de Paraíso, mais do Purgatório e muitíssimo do Inferno. É, entre todas as obras modernas que conheço, a mais amarga, a mais desconsolada, a mais trágica – e, no entanto, não é uma tragédia: é um romance. Há em sua soberba ironia algo do espírito do arqui-romancista: de Cervantes. Não estão de todos errados aqueles que acreditam perceber, atrás da face trágica de Ulysses, o cerne cômico: a paródia do gênero do qual a obra é a obra-prima.

Comentários: Livremente inspirado na Odisséia, do grego Homero, Ulisses foi escrito pelo irlandês James Joyce. Na realidade a obra é uma paródia de Odisséia.

Joyce quis escrever simplesmente sobre tudo o que se passa na vida de um homem, em apenas um único dia. "Realmente tudo aconteceu naquele bendito dia 16 de junho de 1904", quando Leopold Bloom sai de casa para um enterro e irá percorrer Dublin durante um dia inteiro, visitando biblioteca, jornal, bordel e bares. No final ocorre o encontro com Stephen Dedalus, um jovem intelectual de Dublin e personagem central do livro "Um Retrato do Artista Quando Jovem", na verdade o alter ego de Joyce. O Sr. Bloom é o equivalente ao Ulisses (para os romanos) ou Odisseu (para os gregos), herói da "Odisséia" e Stephen, a Telêmaco, seu filho. Assim como na obra de Homero, o herói faz um grande caminho e retorna para casa, reencontrando no caminho o seu filho morto aos onze dias de idade e com isso recuperando a consciência simbólica do seu papel espiritual.

Interpretação da obra:
Leopold Bloom é um sujeito generoso, decente, conformado, pacato e completamente perdido quanto ao seu papel existencial. No conceito aristotélico simboliza o Espírito (ou Intelecto).

Stephen Dedalus é o vaidoso intelectual. Simboliza a Mente (Razão).

Molly é uma atriz de teatro volúvel e de tendências libidinosas que teve 25 casos fora do casamento. Simboliza o Corpo (Matéria).

Segundo a partição aristotélica da vida humana, Espírito, Mente e Corpo são as três possibilidades existenciais, ou seja, os valores considerados pelo ser humano.

Análise das personagens

Leopold Bloom:

- Não é capaz de compreender-se ontologicamente;

- Não tem consciência do seu papel espiritual;

- Não acredita no espírito;

- Não tem fé;

- Está perdido existencialmente;

- Sua ação sobre o mundo é nula.

O homem moderno é assim.

Stephen Dedalus

- Renega e abandona a pátria, a religião e a família.

- É a mente desvinculada do espírito.

O humanista típico é assim.

Molly

- Simboliza o mundo material e os prazeres carnais.

A Mente precisa do Espírito e ambos precisam do Corpo para existir concretamente.

Então, o que cada uma das personagens faz?

Bloom, que simboliza o Espírito (Intelecto), retorna à sua casa e retoma a consciência do seu papel espiritual. Ele já não serve mais o café na cama para a sua mulher Molly como o fazia desde o casamento. Agora é ela quem faz e isso tem um significado que será explicado mais adiante.

Molly, que simboliza o Corpo (Matéria) se submete ao Espírito. Assim, é ela quem agora irá levar o café na cama para Bloom. A ordem foi restabelecida.

Stephen, que simboliza a Mente (Razão), sai da história para escrever o livro Ulisses.

Conclusão:

A obra nos mostra as três possibilidades existências para uma vida humana concreta: Corpo (Matéria), Mente (Razão) e Espírito (Intelecto ou Alma). Portanto, Molly quis se casar com Leopold porque o Corpo só é viável sob a sombra do Espírito.

O homem moderno não compreende isso, razão pela qual vive no caos existencial, protagonista de uma corrida desenfreada em busca da felicidade onde ela não está e onde jamais poderá ser encontrada: no mundo material dos prazeres carnais.

Sobre o Autor:

James Joyce em 1926
James Joyce (1882-1941) nasceu em uma abastada família católica, no subúrbio de Dublin, Irlanda. Educado em colégio jesuíta, estudou Filosofia e Línguas na University College. Já nos primeiros anos de faculdade, já publicava artigos na imprensa e começava a escrever os poemas líricos mais tarde reunidos no livro Câmara de música. Morou em Paris, em Trieste e em Zurique, onde a família viveu na pobreza, enquanto ele escrevia Ulisses.

É considerado um dos autores de maior relevância do século XX, e seus textos influenciaram, de uma maneira ou de outra, todos os escritores que lhe sucederam. Suas obras mais conhecidas são o volume de contos Dublinenses (1914) e os romances Um retrato do artista quando jovem (1916), Ulisses (1922) e Finnegans wake (1939). Os três últimos exerceram enorme impacto na literatura inglesa modernista. William Faulkner e Virginia Woolf são alguns dos grandes escritores cujas obras foram fortemente inspiradas pelas de Joyce.

Embora tenha vivido fora da Irlanda durante a maior parte da vida, suas experiências em seu país de origem são de grande importância para a compreensão de sua obra. O universo ficcional de Joyce enraíza-se fortemente em Dublin e reflete sua vida familiar e eventos, amizades e inimizades dos tempos de escola e faculdade.

O autor morreu em janeiro de 1941, dois meses depois de retornar com a família à Suíça. Todos os anos, sua vida é celebrada no dia 16 de junho. Conhecida como “Bloomsday”, a data é comemorada não apenas em Dublin, mas também em diversas outras cidades ao redor do mundo.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

DEMIAN

Título original: DemianAutor: Hermann Hesse (1877-1962)
Tradução: Ivo Barroso
Editora: Record
Assunto: Romance
Edição: 41ª
Ano: 2009
Páginas: 188

Sinopse: O livro relata o amadurecimento de um jovem a partir de sua estranha relação com um rapaz de personalidade misteriosa e sedutora, que muda sua vida para sempre.

O tema central do livro é o conflito entre a dualidade “mundo luminoso” (ideal) e “mundo sombrio” (real) por que tem de passar Sinclair para encontrar a sua personalidade.

Resumo da narrativa: O livro conta a história de um jovem -- Emil Sinclair, protagonista e narrador -- criado por pais muito piedosos que, de repente, se vê em um mundo bem diferente daquele pregado por seus pais e avós. Atormentado pela falta de respostas às perguntas que faz sobre sua existência, passa a procurar na introspecção suas respostas. Dividido entre o mundo ideal e o real, com suas interpretações (mundo claro e paternal, associado às idéias de seus pais e à residência destes, e o mundo sombrio e frio, externo à residência dos pais e com valores estranhos a estes), Sinclair experimenta ambos, através do confronto com suas próprias concepções, para tentar encontrar sua verdadeira personalidade. Percorrendo este caminho perigoso, influenciado por Max Demian, um colega de classe precoce e envolvente, ele prova do crime, da amizade e das incertezas -- surpresas que engendram as descobertas de sua vida adolescente. Sinclair, então, se rebela contra as convenções sociais e descobre não apenas o doce sabor da independência mas também seu poder de praticar o bem ou o mal. A relação de Sinclair e Demian atravessa toda a narrativa a partir do momento que os personagens se conhecem. Demian revela a Sinclair que existem filhos de Caim, pessoas que possuem a capacidade de exercer o bem e o mal; também apresenta a entidade Abraxas, divindade de características humanas -- também capaz de exercer o bem e o mal. A obra tem muitas referencias bíblicas, como o Sinal de Caim e o Gólgota[1], tornando dificil a leitura a quem não sabe muito sobre a religião cristã, mas também trata de misticismo e autoconhecimento, da busca da essência do Eu. A obra narra principalmente os conflitos internos que um indivíduo passa desde a infância, através da adolescência, até sua idade adulta. É possível afirmar que Demian trata-se de um romance iniciático, descrevendo os contatos de um indivíduo com aspectos existenciais e de sua personalidade.

Comentários: Considerada por muitos críticos a principal obra de Hesse, Demian mostra a influência que este sofreu dos escritos de Nietzsche [aqui está o grande problema de Hesse. Ele parte de um caminho falso!] e a aplicação de seus conhecimentos de psicanálise na elaboração do drama ético e da enorme confusão mental de um jovem que toma consciência de sua fragilidade diante da ausência total de compostura da moral sancionada pelos pais e pelo Estado e sai em busca da verdade e de si mesmo.

O livro reflete, obviamente, a tendência do introduzir na literatura a doutrina de Freud, que estava na ordem do dia, e da qual Hesse era um apaixonado estudioso. Daí a presença constante do onirismo[2] na obra, de um certo entrevelado complexo de Édipo (aqui exposto através de um sutil mecanismo de transferência), de permeio com reminiscência de estudos de ciências antigas e herméticas, hauridos na intimidade da biblioteca do avô materno.

Hermann Hesse era um homem atormentado espiritualmente e só encontra a sua verdadeira identidade no catolicismo magistralmente relatado na sua ultima obra “O Jogo das Contas de Vidro”.

À guisa de prólogo: “Para relatar a história de minha vida, devo recuar alguns anos. Se me fosse possível, deveria retroceder ainda mais, à primeira infância, ou mais ainda, aos primórdios de minha ascendência”.

Os romancistas, quando escrevem suas obras, costumam proceder como se fossem Deus e pudessem abranger com o olhar toda a história de uma vida humana, compreendendo-a e expondo-a como se o próprio Deus a relatasse, sem nenhum véu, revelando a cada instante sua essência mais íntima. Não posso agir assim, e os próprios poetas não o conseguem. Minha história é, no entanto, para mim, minha própria história, e a história de um homem – não a de uma personagem inventada, possível ou inexistente em vivo. Hoje sabe-se cada vez menos o que isso significa, o que seja uma homem realmente vivo, e se entregam à morte sob o fogo da metralha a milhares de homens, cada um dos quais constitui um ensaio único e precioso da Natureza. Se não passássemos de indivíduos isolados, se cada um de nós pudesse realmente ser varrido por uma bala de fuzil, não haveria sentido algum em relatar histórias. Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais. Assim, a história de cada homem é essencial, eterna e divina, e cada homem, ao viver em alguma parte e cumprir os ditames da Natureza, é algo maravilhoso e digno de toda a atenção.

Sobre o autor: Contista, poeta, ensaísta e editor de obras importantes da literatura alemã, Hermann Hesse nasceu em 2 de julho de 1887 na pequena cidade de Calw, na Alemanha. Filho de um missionário, pregador pietista[3], Hesse passou a infância na sua cidade. Viveu na Basiléia de 1881 a 1886 e freqüentou, em 1890, a escola de latim em Goppingen, diplomando-se em 1891. Conseguiu escapar dos estudos de teologia ao fugir do seminário de Maulbronner. Começou a trabalhar cedo, empregando-se em uma livraria em Ebingen e mais tarde como antiquário. A partir de 1903, dedica-se exclusivamente à literatura.

Desencantado com a civilização européia, viajou para Índia em 1911 para conhecer a vida no Extremo Oriente. Partidário do pacifismo lutou contra “a loucura sangrenta da guerra”. Exatamente por protestar contra a Primeira Guerra Mundial, perdeu a cidadania alemã, tornando-se cidadão suíço. Hesse é um dos principais representantes dos escritores do século XX que procuraram manterem-se fiéis às tradições literárias românticas e clássicas, em contraposição à era folhetinesca e propagandística. Sua primeira grande obra, Peter Camenzind, foi lançada em 1904, e trata do melancólico desenvolvimento de um homem de origem modesta que, dotado de talento musical e espírito idealista, não consegue satisfazer as exigências práticas da sociedade.

A índole acentuadamente romântica e a tendência para a análise psicológica caracterizaram as primeiras obras de Hesse. Em 1919 ele publicou Demian, considerado seu melhor livro pelos críticos [Considero como o melhor livro “O jogo das contas de vidro”]; O último verão de Klingsor, em 1920; Sidarta, em 1922; O lobo da estepe, em 1927; Narciso e Goldmund, em 1930; O jogo das contas de vidro, em 1943; e muitas outras obras. Em 1946, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Morreu em 9 de agosto de 1962 aos 75 anos.

[1] Gólgota [Do top. Gólgota] Lugar de suplício.

[2] Onirismo [De onir(o)- + -ismo.] 1. Psiq. Quadro alucinatório grave que se apresenta sob a forma de sonho vivido.

[3] Pietismo foi um movimento protestante nascido na Igreja Luterana alemã do séc. XVII como reação ao dogmatismo da Igreja oficial. Consiste em concentrar a prática religiosa a pequenos círculos de meditação e de oração. O criador é Philipp Jacob Spener (1635-1705) e o maior disseminador é o conde de Zinzerdorf (1700-1760), criador da Ordem do Grão de Mostarda [muito citado no livro: “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister” de Goethe]. Anatoli Oliynik.

Abraxas (cs) [Do grego abraxás, poss. criptograma (= 'Que Deus proteja') de origem hebraica.] 1. Palavra simbólica entre os gnósticos, que exprime o curso do Sol nos 365 dias do ano. 2. Talismã gnóstico gravado com essa palavra.