sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MACBETH

Título original: Macbeth
Autor: William Shakespeare (1564-1616)
Tradutor: Beatriz Viegas-Faria
Assunto: Drama
Editora: L&PM
Edição: 1ª
Ano: 2000
Páginas: 134 p.

Sinopse: Esta obra – baseada em fatos reais – traz a história de Lady Macbeth e seu marido Macbeth.

Macbeth é um general do exército escocês muito apreciado pelo seu monarca, o rei Duncan, por sua lealdade e seus préstimos guerreiros. Um dia, ele e Banquo, outro general, são abordados por três bruxas, que fazem os seguintes vaticínios: Macbeth será rei; Banquo é menos importante, mas mais poderoso que Macbeth; e os filhos de Banquo serão reis. Macbeth não compreende as confusas palavras das aparições, mas elas calam fundo dentro de si. Ele relata o estranho encontro para a mulher, Lady Macbeth, que, movida pela ambição de tornar-se rainha, seduz o marido a cometer o assassinato do Rei Duncan, pretendendo assim herdar o trono. Macbeth é levado então ao gesto fatal de traição ao rei, fato que desencadeará a tragédia de ambos e uma reviravolta na corte. O ambiente é sombrio, fúnebre, como as almas das personagens e seus sórdidos planos pela conquista do poder. As presenças do sobrenatural e de feiticeiras auxiliam na construção deste clima.

As personagens:
Duncan, Rei da Escócia.
Malcolm e Donalbain, filhos do rei Duncan.
Macbeth e Bancuo, generais do exército do rei.
Fleance, filho do general Bancuo.
Lady Macbeth: Esposa de Macbeth.
Macduff, Lennox, Ross, Menteith, Angus e Caithness, nobres cavaleiros da Escócia.
Siward, Conde de Nothumberland, general das forças inglesas.
O jovem Siward, filho do Conde.
Três bruxas.

Sentido da obra: Para compreender o sentido desta obra, é preciso antes estabelecer um sentido simbólico às personagens da história do livro. As obras de Shakespeare são assim: para compreendê-las, em sua plenitude, é preciso saber ler simbolicamente, atributo que não temos mais, pois a modernidade se encarregou de destruí-lo completamente.

Duncan, rei da Escócia, representa o espírito, ou seja, a santidade que vai ser destruída pelo casal Macbeth. O rei sempre tem o sentido simbólico de “espírito divino”; ele representa, também, a figura do pai. Portanto, matar o rei ou matar o pai, simbolicamente significa matar o espírito, ou seja, matar Deus. Foi isso que fizeram os revolucionários franceses em 1789. É preciso entender que a figura do rei, embora não seja divina propriamente dita, ela simboliza o divino, a santidade, pois aqui estamos falando simbolicamente.

Lady Macbeth, por outro lado, simboliza a matéria que é sempre corruptível. Para compreender esta simbolização, é preciso esclarecer que Lady MacBeth não simboliza a figura da mulher no sentido ontológico, mas a figura de Eva que, por sua vez, não é a primeira mulher. Para compreender isso, que a primeira vista parece ser paradoxal, é preciso recorrer ao Gênese das Sagradas Escrituras. A Eva não representa a primeira mulher. A primeira mulher já havia sido criada antes quando “... fê-lo à imagem de Deus, e criou-os macho e fêmea.” A Eva do paraíso, representa a matéria, o desejo humano ilegítimo. Assim, a matéria corrompe o homem para matar o espírito. É Lady Macbeth que corrompe o marido para matar o rei Duncan.

Macbeth, general do exército do rei, representa o homem que foi corrompido pelo desejo ilegítimo. É ele quem assassina o rei Duncan quando este o visita em seu castelo. A visita que o rei Duncan faz ao General Macbeth simboliza que o Céu visita a Terra, ou em outras palavras, o Espírito visita a Matéria, pois o hospedeiro é sempre o inferior.

Macduff, um nobre cavaleiro da Escócia, simboliza o Anjo Vingador (os anjos não são paridos de mulher). É ele quem mata o usurpador do trono.

Concluída a indispensável explicação, vamos ao sentido da obra propriamente dito:

A história Macbeth simboliza a tensão entre o céu e a terra. Entre o espírito e a matéria, entendendo que céu e espírito são sinônimos, assim como terra e matéria. No meio dessa tensão encontra-se o homem com os seus desejos que podem ser de duas naturezas: legítimos ou ilegítimos. Há, igualmente, um estado de tensão entre ter e não ter consciência moral. O general Macbeth, após assassinar o rei Duncan, passa a viver um terrível drama de consciência moral, entretanto, o mesmo não acontece com Lady Macbeth que não tem nenhum problema com o dilema moral, visto que ela que simboliza o desejo humano ilegítimo, ou seja, a matéria. Portanto, esta é uma história que mostra a tentativa de usurpação do céu pela terra ou em outras palavras, a tentativa de corrupção do espírito pela matéria.

Shakespeare, com inigualável maestria, mostra que o ser humano tem uma natureza dual: somos espírito e matéria. Por isso, vivemos em estado de tensão permanente, pois o tempo todo somos levados a usurpar o espírito pelo desejo material ilegítimo. Shakespeare nos mostra, também, que a vida humana é um processo de queda e redenção e quando acontece a morte do espírito, a ordem de todas as coisas se inverte. É preciso, portanto, recuperar a ordem original, e isso somente é possível no plano espiritual.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ILUSÕES PERDIDAS

Título original: Illusions perdues
Autor: Honoré de Balzac (1799-1850)
Tradutor: Leila de Aguiar Costa
Assunto: Romance (Literatura estrangeira) – Publicado em 1843.
Editora: Estação Liberdade
Edição: 1ª
Ano: 2007
Páginas: 760

Sinopse: Ilusões perdidas é uma obra que retrata as desiluções das personagens ao longo de suas vidas.

O livro conta a história de Lucien Chardon de Rubempré, um talentoso poeta provinciano que sai do interior da França para tentar a vida como escritor em Paris, mas é surpreendido por uma realidade mais voraz do que a sua ambição. Descrevendo com maestria a França do início do século XIX, Balzac aborda o surgimento da indústria cultural e o papel do indivíduo na sociedade moderna.

Resumo da narrativa: Em toda a primeira parte, batizada de 'Dois poetas', Balzac descreve a vida na pacata Angoulême, colocando seu foco principal na vida de um sonhador, Lucien de Rubempré, que almeja fazer sucesso em Paris como poeta; de seu melhor amigo, David Séchard, que passa a tocar a ultrapassada tipografia de seu pai (um velho avarento, que não dá um ‘vintém’ ao filho, mesmo vendo-o em apuros); de Ève, irmã de Lucien, por quem David se apaixona; e o núcleo aristocrático comandado pela senhora de Bargeton, que será amante de Lucien e, como ele, sonha com os esplendores da capital. Balzac descreve, também, o embate de duas vontades, dois temperamentos, duas veleidades intelectuais. A dualidade: De um lado, a vida da província, a natureza, a vida privada; de outro, a vida parisiense, a sociedade, a vida pública.

Na segunda parte, 'Um grande homem de província em Paris', ele pinta os costumes íntimos da vida parisiense, com a chegada da senhora de Bargeton e Lucien. Nesse capítulo, o maior do livro, Balzac flagra com ironia a vida cultural da grande cidade, principalmente o meio corrompido do jornalismo e do espetáculo teatral.

Na última parte, 'Os sofrimentos do inventor', Balzac volta-se ao cotidiano de Angoulême, retratando as dificuldades de David Séchard com sua gráfica e o retorno de Lucien, após a experiência vivida na metrópole.

Comentários: Ilusões perdidas é um dos mais belos e importantes romances da história da literatura. Quase duzentos anos após a sua primeira edição, esta obra-prima do ciclo romanesco A comédia humana mantém toda a sua força graças ao estilo ferino de Honoré de Balzac e ao seu poder de desvendar as mazelas de uma sociedade em que homens e sentimentos tornam-se impotentes diante das corrupções e dos vícios.

Quando o escritor imaginou Ilusões Perdidas, tinha em mente comparar os costumes da vida provinciana com aqueles da vida parisiense. Mas ao narrar os hábitos de uma família e o cotidiano no interior de uma tipografia de província, o assunto se mostrou de extrema riqueza, e lhe abriu possibilidades enormes, que o fizeram não apenas descrever aquele universo restrito, mas esboçar um amplo panorama da sociedade francesa do começo do século XIX.

A proposição inicial que regia a idéia do livro cresceu de tal forma que resultou em três romances sucessivos, publicados separadamente (em 1836, 1839 e 1843), embora formassem um só conjunto, o das Ilusões Perdidas. As três partes que o compõem – “Dois Poetas”, “Um grande homem de província em Paris” e “Os sofrimentos do inventor” –, giram em torno de três personagens centrais: Lucien Chardon de Rubempré; sua irmã Ève; e seu grande amigo, depois cunhado, o jovem tipógrafo e inventor David Séchard.

Mas é sem dúvida Lucien que absorve todas as atenções do romance. Suas ações impulsivas, movidas por estímulos gerados no coração da própria sociedade, sustentam essa história cativante. O autor acompanha os deslocamentos desse jovem poeta, filho de um farmacêutico com uma de Rubempré, desde sua vida na província, onde, por seu talento e beleza, cai nas graças da senhora de Bargeton, representante local da nobreza, até sua ida a Paris, onde realiza o sonho de ser jornalista e é definitivamente engolido pela vaidade social. Além de retratar os desvios de um jornalismo que de romântico não tinha mais nada, Balzac se debruça com conhecimento de causa sobre o ofício da edição e do comércio do livro em seus primórdios.

Em meio a um universo assim construído, fácil é perder as ilusões, que são as de um tempo e de uma sociedade cujas esperanças eram depositadas nos valores morais, nos talentos, na felicidade, suplantados todos por uma nova e feroz dinâmica sócio-econômica. O mundo é mais que mundo romanesco: é simplesmente o mundo em suas cores naturais.