sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O FALECIDO MATTIA PASCAL

Título original: Il Fu Mattia Pascal
Autor: Luigi Pirandello (1867-1936)
Tradução: Mário Silva, Brutus Pedreira e Elvira Rina Malerbi Ricci
Editora: Abril Cultural
Assunto: Romance (escrito em 1904)
Edição: 1ª
Ano: 1978
Páginas: 322


Sinopse: Mattia Pascal, no momento mais crítico de sua vida, vivendo uma vida medíocre, acossado por credores, casado e morando com uma sogra insuportável, foge de casa e um golpe do acaso muda a sua vida. Ele ganha uma pequena fortuna num cassino e, ao mesmo tempo é tido como morto, pois o confundem com um cadáver achado em sua cidade natal. Aproveita a chance e, como "falecido", decide assumir uma nova identidade e parte em viagem pela Europa, de modo aventureiro, envolvendo-se em contínuos contratempos, todavia as coisas não saem como o desejado.

Resumo da narrativa: A história contada é de um homem, Mattia Pascal, que mora em uma pequena cidade da Itália, Miragno. Após um casamento fracassado, a presença insuportável da sogra, a Viúva Pescatore, a morte de sua mãe e de seu filho, Mattia resolve sumir de sua cidade e viver uma aventura com o dinheiro que o irmão lhe enviara para o enterro da mãe. Quando volta para Miragno, depois de 12 dias (dentro do tempo da narrativa) descobre, pelos jornais, que está morto. Um homem se suicida em uma propriedade de sua família e a cidade julga que o morto é Mattia, porque ele passava por dificuldades financeiras, seu casamento não ia bem, ele acabara de perder sua mãe e sua filha. Dois fatores contribuíram para o veredicto da cidade: o homem morrera afogado, ou seja, estava irreconhecível, e o fato de o chapéu de Mattia ter sido encontrado na ponte de onde o suicida pulou. Diante desta situação, Mattia pára em uma cidade próxima à sua e decide, então, com o dinheiro ganho em cassinos durante o tempo do desaparecimento, assumir uma nova identidade e se libertar de todo aquele passado: o casamento, a convivência com a sogra, as dívidas, a vida que ele tanto lamentava. Ele resolve ir para Roma. A escolha deste lugar não é aleatória, pois Roma é uma grande cidade, cheia de forasteiros, e seria fácil para ele viver uma “outra vida”. Chegando a Roma, ele escolhe um novo nome, Adriano Meis, aluga um quarto na casa de uma família onde moravam o Sr. Anselmo Paleari, sua filha, Adriana, outra hóspede, a Sra. Silvia Capolare, professora de piano e o cunhado de Adriana, que naquele momento estava em Nápoles, Terenzio Papiano. Adriano Meis vive nesta casa e se apaixona por Adriana. Ela é uma moça recatada e assediada por seu cunhado Terenzio. Durante o tempo em que fica hospedado na casa de Paleari, Adriano participa de uma sessão espírita, promovida por Paleari, que é espírita, onde dá o primeiro beijo em Adriana. Um dia, Adriano percebe que foi roubado por Terenzio. Adriana quer chamar a polícia, mas Adriano, por não possuir um documento que comprove a sua identidade, e, tampouco, a fonte do dinheiro que possui a impede e mente, dizendo que o dinheiro não havia desaparecido. Para afastar Adriano de Adriana, Terenzio o apresenta à filha de um barão com quem tinha negócios e o incentiva a cortejá-la. Em uma visita à Pepita, filha do barão, o amante de Pepita, um pintor, desafia Adriano para um duelo, alegando que este havia ferido a sua honra. Adriano pede a Paleari e a Papiano para que sejam seus padrinhos de duelo, porém estes não aceitam. Para se salvar do duelo, Adriano resolve “morrer” mais uma vez. Deixa uma bengala, um chapéu e um bilhete em uma ponte, à beira de um rio. Mattia Pascal sai de Roma e decide reassumir sua identidade e sua vida. Ele procura o irmão e toma conhecimento que Romilda, sua mulher, casara-se com seu melhor amigo, Pomino, e que o novo casal já tem um filho. Por isso, ele resolve partir imediatamente para Miragno. Chegando em sua cidade, ele vai imediatamente para a casa de Pomino, e quando fica frente a frente com Romilda, Pomino e a viúva Pescatore fica indignado com o fato de sua mulher já ter se casado e deles já terem um filho. No momento em que Mattia reencontra a família, ele despeja toda a sua raiva e o seu ressentimento por causa desta nova situação (por não ter mais referências: mulher, casa, etc..), mas apesar disso resolve deixá-los em paz. Mattia decide morar com sua tia Scolástica e volta a trabalhar na biblioteca. A biblioteca é o lugar onde Mattia inicia a sua história, mais velho, contando-a ao padre Eligio Pellegrinotto.


O autor: Luigi Pirandello nasceu na Sicília (1867) e morreu em Roma (1936). Formou-se em filosofia pela Universidade de Bonn (Alemanha), dedicando-se ao magistério até 1923. Antes da partida para Bonn, escreveu apenas poemas e traduziu do alemão as Elegias Romanas de Goethe. A partir de 1893 fixou-se em Roma e começou a escrever sua primeira novela: A Excluída (1901). Em 1908, escreveu os ensaios O Humorismo e Arte e Ciência, expondo posições às quais permaneceria fiel em toda a sua obra. Em 1902, publicou os volumes de contos Escárnios da Vida e da Morte e Quando Estive Louco. De 1904 é um dos seus mais famosos romances, O Falecido Mattia Pascal. Nele, desenvolve, pela primeira vez, um tema que se tornaria constante em sua obra: o paradoxo entre a essência e a aparência, entre o que é o homem e o modo como a sociedade o vê.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SOB O SOL DE SATÃ

Título original: Sous le soleil de Satan
Autor: Georges Bernanos (1888-1948)
Tradução: Hildegard Feist
Editora: Globo
Assunto: Romance
Edição: 1ª
Ano: 1987
Páginas: 279

Sinopse: A obra, publicada em 1926, trata como tema fundamental a luta entre o Bem e o Mal.

O autor conta a história de um jovem padre de província que, sem grandes qualidades intelectuais, incapaz de pronunciar um sermão sem se atrapalhar com as palavras conseguiu alcançar a santidade.

Este jovem padre é o abade Donissan que se encontra psicologicamente torturado frente aos dilemas morais em que vive ao se deparar constantemente com seus instintos, vontades e pensamentos humanos. Sua mente está no limite da insanidade por conta de sua obsessão pela luta invisível entre as forças do bem e do mal, que geralmente resulta em pesadas seções de auto-flagelação, ou ainda no confronto com o seu superior eclesiástico. Apesar de todas as adversidades, ele cumpre sua missão neste mundo que o redime para a vida eterna tornando-se um Santo.

Comentários: O diabo existe? Existe, assegura-nos Georges Bernanos. E, procurando imitar Deus, assume mil caras para seduzir as almas e arrebatá-las para o fogo do inferno. Contra ele se insurge o jovem abade Donissan, simpático cura de província, olhado com desprezo por seus confrades refinados. Um encontro decisivo com Satã muda por completo a vida desse homem humilde que, incansavelmente, se põe a combater todas as formas do Mal.

Bernanos, um dos grandes escritores católicos do século XX, todavia a fé na Igreja não o impediu de atacar violentamente o clero comodista que prefere rezar pela salvação das almas em salões forrados de veludo e cetim, a pôr o pé na estrada e enfrentar Satã e suas mil faces enganosas, onde que apareçam. Com um estilo em que se fundem à perfeição as vertentes realista e visionária, o romancista pinta com pungente emoção o drama do abade Donissan, que chega a abrir mão da própria salvação pessoal para enfrentar o eterno inimigo.

Mensagem principal da obra: É preciso agir com sinceridade; é preciso ter coragem para enfrentar Satã e sua astúcia; é preciso renunciar até a própria salvação individual em benefício das almas que lhe foram confiadas. Esta é, diz Bernanos, a verdadeira missão do sacerdote neste mundo, a única que o redime para a vida eterna.


O autor: Nascido em Paris a 20 de fevereiro de 1888, Georges Bernanos estreou na literatura em 1922, com o romance “Madame Dargent”. A partir do sucesso de “Sob o Sol de Satã” (1926), abandonou o emprego de advogado e passou a viver unicamente de seus livros e artigos. Em 1934, atormentado por dificuldades financeiras, transferiu-se com a mulher e os seis filhos para a Espanha. Lá escreveu “Diário de um Pároco de Aldeia” (1936), considerada por alguns críticos, sua obra-prima. Em 1937, voltou à França, mas não suportou a difusão do espírito totalitarista na Europa; partiu para o Paraguai e, depois, para o Brasil. Terminada a Segunda Guerra Mundial, retornou a seu país e passou a escrever verdadeiros libelos contra a IV República, a tecnocracia, as novas formas de totalitarismo. No inverno de 1947-48 encontrava-se na Tunísia, onde elaborou a peça “Diálogos das Carmelitas” (1949). Um agravamento de seu mal hepático obrigou-o a transferir-se para Paris, onde morreu no dia 5 de julho de 1948.


Cenas do filme, onde o abade Donissan é tentado pelo demônio disfarçado em humano. O áudio do filme é em francês, sem legenda.


SOB O SOL DE SATÃ (A Tentação)





"Por um momento ficaram assim, face a face. a ilusão era sutil demais para que o abade Donissan sentisse propriamente terror. Qualquer esforço que fizesse, não conseguiria distinguir-se de seu duplo e contudo guardava algum sentimento da própria unidade. Não, não era o terror, mas uma angústia tão intensa que a idéia de combater aquela aparência, como a um inimigo revestido de sua própria carne, pereceu-lhe quase insensata. Entretanto, ele ousou.

- Retira-te, Satã - disse, os dentes cerrados..."