sexta-feira, 30 de julho de 2010

CRISTIANISMO A Religião do Homem

Autor: Mário Ferreira do Santos
Assunto: Filosofia
Editora: Edusc
Edição: 1ª
Ano: 2003
Páginas: 138

Sinopse: Mário Ferreira dos Santos, Filósofo humanizante, buscou reconciliar a Filosofia com a religião cristã, representando Cristo como o Bem Verdadeiro.

“Cristianismo não é uma religião cultural, porque não depende de uma cultura determinada; não é uma religião racial, porque não depende de qualquer raça; não é uma religião de casta, de estamento, de classe, porque não depende de nenhum deles. O Cristianismo é a religião do homem concreto, do homem tomado em sua totalidade, e por isso independe inclusive do tempo”.

Neste Cristianismo: a religião do homem, desenvolve uma Axioantropologia fundada na melhor Filosofia clássica e tomista, ao descrever os Homens diversos das pedras, das plantas e dos animais (§ 10), como obras de nós mesmos (§ 21), pois temos uma oréxis (§ 29) que nos impele ao Supremo Bem (§ 33), oréxis que é um dever-ser com direitos e obrigações (§ 50), implica em Justiça (§ 54), valores humanos (§ 58), Ética e Moral (§ 60), fundados em virtudes cardeais (§ 76), e cultivo das virtudes como dever-ser ético do Homem (§ 80).

Destas premissas retira o saudoso Mestre as conclusões do título: a partir da miséria humana encontrará o Homem sua salvação (§ 97 ss), pois guarda em si a trindade da Vontade, Inteligência e Amor (§ 104), que lhe permite religar-se a Deus, pois “esta é a vossa religião, porque ela está em vós” (§ 120), concluindo com palavras de Cristo, “eu sou o ápice da pirâmide” (§ 135).
Sobre a Ética e a Moral: "A Ética estuda o dever-ser humano, a Moral descreve e prescreve como se deve agir para realizar este dever-ser. A Moral é variante, mas a Ética é invariante. Podem os homens, mal assistidos pela intelectalidade, errarem quanto à eticidade de um ato e estabelecer um costume (moral) que nem sempre é conveniente ou é exagerado. Podem errar, porque o homem pode errar, mas se der ele o melhor de sua atenção à Ética, ele não errará e poderia evitar os erros da Moral" (Mário Ferreira dos Santos)

Dos últimos escritos do ilustre Filósofo paulista, Cristianismo expressa a síntese de seu filosofar clássico, com fortes traços teológicos, ao estilo tomista de apresentação de teses ou proposições enlaçando Razão e Fé.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A TEMPESTADE

Título original: The Tempest
Autor: William Shakespeare (1564-1616)
Tradução: Beatriz Viégas-Faria
Editora: L&PM POCKET
Edição: 1ª
Ano: 2002
Páginas: 128

Sinopse: A Tempestade foi última peça escrita por Shakespeare. Não há uma data precisa de quando foi escrita, todavia, há indicações que a peça tenha sido escrita em 1610, seis anos antes da morte de Shakespeare e encenada a 1º de novembro de 1611 no Palácio Whitehal em Londres.

A Tempestade é uma história de ruptura entre o poder secular e o poder espiritual, de reconciliação, de amor, de perdão às conspirações oportunistas e de recuperação da ordem estabelecida.

A história contrapõe a figura disforme, selvagem e pesada dos instintos animais que habitam o homem à figura etérea, incorpórea, espiritualizada de altas aspirações humanas.

O enredo: Uma ilha é habitada por Próspero, Duque de Milão, mago de amplos poderes, e sua filha Miranda, após serem abandonados à deriva no mar, num ato de traição e usurpação política. Próspero tem a seu serviço Caliban, um escravo em terra, homem adulto e disforme, e Ariel, o espírito servil e assexuado que pode se metamorfosear em ar, água ou fogo. Os poderes eruditos e mágicos de Próspero e Ariel combinam-se e, depois de criar um naufrágio, Próspero coloca na Ilha seus desafetos (no intuito de levá-los à insanidade mental) e um príncipe, noivo em potencial para a filha. O amor acontece entre os dois jovens, a vingança de Próspero é transformada em perdão, Caliban modifica-se quando conhece os poderes inebriantes do vinho numa cena cômica com outros dois bêbados.

O significado da história: O Fato fundador da história é a usurpação do poder espiritual pelo poder terrestre. Essa usurpação é simbolizada pela rebelião de Antonio contra seu irmão Próspero. Antonio quer governar soberanamente, quer ser o senhor absoluto sobre os dois poderes (Temporal e Espiritual). Trata-se, portanto, da transgressão da lei natural das coisas; é a ruptura da ordem cósmica. Ruptura porque há uma hierarquia entre os dois poderes; o poder temporal não tem agenda própria; ele necessita buscar a agenda no poder espiritual.

No desfecho da história, Miranda e Fernanda retomam o governo de Milão e Nápoles dos quais são herdeiros legítimos.

O casamento da Miranda com o Fernando é o casamento da pureza humana (poder espiritual) com o melhor modelo humano de poder terrestre rejuvenescido e simbolizado por Fernando. Assim Próspero reata a normalidade das coisas reconstituindo a ordem no sentido de propiciar a continuidade da sociedade humana dentro da ordem cósmica recuperada.

O mal não está no exercício do poder em si mesmo; o mal está no exercício absoluto dos poderes e na inversão da hierarquia desses poderes, ou seja, colocar o poder temporal como superior ao poder espiritual. A lei dos homens, embora necessária, jamais poderá ser superior a lei Divina. É necessário haver uma hierarquia na ordem estabelecida.

É preciso, primeiro, fazer a conversão para o individual para depois pensar no social. É exatamente isso que Próspero faz ao se estabelecer numa ilha isolada. Ele escolhe uma ilha (individual) para restabelecer a ordem corrompida. Só o homem tem essa capacidade de encerrar-se em si mesmo que permite a consciência sobre o mundo. A sociedade é uma espécie de trama de relações formais que não sabemos por que fazemos.

Conclusão: A obra representa a Denúncia contra a desordem cósmica e sua reconstituição. Uma espécie de última mensagem de Shakespeare para a humanidade, pois este foi seu último livro. Ele se despede do palco e volta para sua terra natal para encerrar-se em si mesmo dando-nos uma das maiores lições sobre comportamento da humanidade ao se despedir da própria vida.
Shakespeare não foi um poeta de sua época. Tudo que ele escreveu e encenou foi para orientar o futuro da humanidade.


Sobre o autor: William Shakespeare (1564-1616) nasceu e morreu em Stradford, Inglaterra. Poeta e dramaturgo é considerado um dos mais importantes autores de todos os tempos. Filho de um rico comerciante, desde cedo Shakespeare escrevia poemas. Mais tarde associou-se ao Globe Theatre, onde conheceu a plenitude da glória e do sucesso financeiro. Depois de alcançar o triunfo e a fama, retirou-se para uma luxuosa propriedade em sua cidade natal, onde morreu. Deixou um acervo impressionante, do qual se destacam clássicos como Romeu e Julieta, Hamlet. A megera domada, O rei Lear, Macbeth, Otelo, Sonho de uma noite de verão, A tempestade, Ricardo III Júlio César, Muito barulho por nada, entre outros.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

ODISSÉIA

Autor: Homero
Tradução: Carlos Alberto Nunes
Editora: Ediouro
Assunto: Romance – Poesia Épica (Literatura estrangeira)
Edição: 6ª
Ano: 2004
Páginas: 432

Sinopse: A obra narra a viagem de regresso de Odisseu a sua pátria, Ítaca, após o término da guerra de Tróia. Entretanto, a viagem de regresso é marcada por sucessivas tramas produzidas pelo deus Poseidon[1] (mitologia grega) ou Netuno (mitologia romana) para impedí-lo, mas Odisseu, sem saber, passa a receber ajuda de Atena, filha de Zeus, a deusa grega da sabedoria, do ofício, da inteligência e da guerra justa. Dez anos se passaram até que Odisseu pudesse realizar o seu desiderato.

Comentários da obra:
A Odisséia data provavelmente do século VIII a.C., quando os gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o alfabeto fenício. Na Odisséia ressoa ainda o eco da guerra de Tróia, narrada parcialmente na Ilíada. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego Odisseu. Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope. Odisseu é um dos heróis favoritos de Homero e já aparece na Ilíada como Aquiles, um homem manhoso, perspicaz, vaidoso, porém bom conselheiro e bravo guerreiro.

A obra compõe-se de 24 cantos em verso hexâmetro (seis sílabas), e a ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara ao lado dos gregos. A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Odisseu ao lar. O relato é feito, de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces - povo mítico grego que habitava a ilha de Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que conduzem Odisseu a Ítaca.

O enredo:
As viagens e aventuras de Odisseu são narradas em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Poseidon. A segunda consta de mais nove episódios, que descrevem sua volta ao lar sob a proteção da deusa Atena. É também desenvolvido um tema secundário, o da vida na casa de Odisseu durante sua ausência, e o esforço Telêmaco, filho de Odisseu, que empreende uma viagem exploratória em busca de seu pai. A esse tema secundário dentro do tema principal dá-se o nome de Telemaquia.

Odisseu atravessa um mundo fantástico, repleto de perigos e tentações, onde os monstros marinhos, os encantos de Circe e de seus elixires, as sedutoras sereias, e as ameaças do ciclope Polifemo procuram desviá-lo de seu rumo - ora tentando devorá-lo, ora afastando-o de seu retorno, de suas memórias.

O poema estrutura-se em quatro partes: na primeira (cantos I a IV), intitulada "Assembléia dos deuses", Atena vai a Ítaca animar Telêmaco, filho de Odisseu, na luta contra os pretendentes à mão de Penélope, sua mãe. Telêmaco decide, sem conhecimento da mãe, ir a Pilos e a Esparta em busca do pai. O herói, porém encontra-se na ilha de Ogígia, prisioneiro da deusa Calipso. Na segunda parte, "Nova assembléia dos deuses", Calipso liberta Odisseu, por ordem de Zeus, que atendeu aos pedidos de Atena e enviou Hermes com a missão de comunicar a ordem. Livre do jugo de Calipso, que durou sete anos, Odisseu constrói uma jangada e parte, mas uma tempestade desencadeada por Poseidon lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é descoberto por Nausícaa, filha do rei Alcínoo. Bem recebido pelo rei (cantos VI a VIII), Odisseu mostra sua força e destreza em competições esportivas que se seguem a um banquete. Na terceira parte, "Narração de Odisseu" (cantos IX a XII), o herói passa a contar a Alcínoo as aventuras que viveu desde a saída de Tróia: sua estada no país dos Cícones, dos Lotófagos e dos Ciclopes; a luta com o ciclope Polifemo; o episódio na ilha de Éolo, rei dos ventos, onde seus companheiros provocam uma violenta tempestade, que os arroja ao país dos canibais, ao abrirem os odres em que estão presos todos os ventos; o encontro com a feiticeira Circe, que transforma os companheiros em porcos; sua passagem pelo país dos mortos, onde reencontra a mãe e personagens da guerra de Tróia. Na quarta parte, "Viagem de retorno", o herói volta à Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII). Apesar do disfarce de mendigo, dado por Atena, Odisseu é reconhecido pelo filho, Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que, ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma cicatriz. Assediada por inúmeros pretendentes, Penélope promete desposar aquele que conseguir retesar o arco de Odisseu, de maneira que a flecha atravesse 12 machados. Só Odisseu o consegue. O herói despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a vingança de Odisseu (cantos XIV a XXIV): as almas dos pretendentes são arrastadas aos infernos por Hermes e a história termina quando Atena impõe uma plena reconciliação durante o combate entre Odisseu e os familiares dos mortos. A concepção do poema é predominantemente dramática e o caráter de Odisseu, marcado por obstinação, lealdade e perseverança em seus propósitos, funciona como elemento de unificação que permeia toda a obra. Aparecem aí fundidas ou combinadas uma série de lendas pertencentes a uma antiqüíssima tradição oral com fundo histórico. Há forte crença de que a Odisséia reúna temas oriundos da época em que os gregos exploravam e colonizavam o Mediterrâneo ocidental, daí a presença de mitos com seres monstruosos no Ocidente, para eles ainda misterioso. Pela extrema perfeição de seu todo, esse poema tem encantado o homem de todas as épocas e lugares. É consenso na era moderna que a Odisséia completa a Ilíada como retrato da civilização grega, e as duas juntas testemunham o gênio de Homero e estão entre os pontos mais altos atingidos pela poesia universal.

Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra iniciadora da literatura grega escrita, a Odisséia, de Homero, expressa com força e beleza a grandiosidade da remota civilização grega. Na verdade, Odisséia foi uma obra voltada para a educação da criança grega. Trata-se de uma espécie de livro didático na época. Esta obra inspirou Werner Jaeger ao mais profundo e completo estudo sobre os ideais de educação na Grécia antiga que resultou no livro “Paidéia: a formação do homem grego”, a fantástica obra com 1413 páginas.

Para compreender o sentido da obra:
A Guerra de Tróia significa a luta entre a ordem e a desordem. Com o rapto de Helena, esposa de Menelau, por Páris de Tróia, a instituição do casamento foi destruída. O casamento simboliza a ordem estabelecida. Era preciso, portanto, recuperar a ordem. Assim, a ida para Tróia e a guerra, significam a luta para recuperação do que foi perdido e assim restabelecer o status quo ante.

Os elementos subversores da ordem em Ilíada eram Páris e Helena. Na Odisséia são os pretendentes de Penélope. Logo, tanto na Ilíada, quanto na Odisséia os subversores foram destruídos para que a ordem fosse restabelecida.

Na Odisséia, a Penélope, esposa de Odisseu, representa um ideal humano, um modelo de ordem simbolizado pela honestidade.

Odisseu é leal, humilde, corajoso, astuto, desconfiado, matreiro, esperto, inteligente e reflexivo. É também, manhoso e vaidoso. Entretanto, na Ilíada (onde assume o nome de Ulisses) ele não é nada disso.

Assim, Odisseu quer recuperar a Penélope, pois esta representa um modelo de ordem. Todavia, antes de recuperar a ordem, Odisseu precisava recuperar a si próprio, ou seja, sua própria ordem interna. Para isso ele se fez humilde e quando mais humilde se tornava, mais sábio ficava.

O sentido da obra:
A "Odisséia" é a história do retorno ao ideal humano, mas que, para ser compreendida em toda sua plenitude, necessita do concurso e compreensão da história relatada em “Ilíada” e que antecede aquela.

Enquanto a Ilíada representa a destruição da Ordem estabelecida, a Odisséia representa a recuperação da Ordem. Portanto, as obras representam a contraposição da Ordem com a Desordem (Cosmos x Caos).

A recuperação da ordem significa a recuperação de valores humanos como: honestidade, lealdade, honra, coragem, inteligência, sabedoria, humildade e amor – substanciais para a existência humana e que devem inspirar profunda meditação sobre a condição humana.


Conclusão:
Odisseu só foi capaz de recuperar a ordem perdida quando ele conseguiu recuperar a sua própria ordem interna. A sua viagem de retorno é uma metáfora da realização humana.

Eis aí uma grande lição para todos nós que vivemos o processo mais subversivo da história da humanidade. Jogamos no lixo todos os valores humanos verdadeiros e perenes, seguindo falsos valores construídos por uma ideologia psicopata e suicida que nos levará diretamente ao tártaro do Hades.

[1] Deus do mar, dos rios e das fontes.