terça-feira, 26 de maio de 2009

Vol I – A IGREJA DOS APÓSTOLOS E DOS MÁRTIRES

Título original: L´Église des Apôtres et des Martyrs
Autor: Daniel-Rops (Henri Petiot)
Tradução: Emérico da Gama
Editora: Quadrante
Assunto: Religiões-Cristianismo
Edição: 1ª
Ano: 1998
Páginas: 600

Com A IGREJA DOS APÓSTOLOS E DOS MÁRTIRES, a Editora Quadrante dá início à publicação da HISTÓRIA DA IGREJA DE CRISTO, de Daniel-Rops, em dez volumes.

Sinopse: Este volume debruça-se sobre os primórdios do cristianismo. Observam-se a constituição da Igreja desde os seus ímpetos iniciais até os dilemas que teve de resolver desde a primeira hora.

Este primeiro tomo tem o fascínio de debruçar-se sobre os primórdios do cristianismo, quando quase se sente ainda o alento da presença física do Mestre. Observamos a constituição da Igreja, os seus ímpetos iniciais e os dilemas que teve de resolver desde a primeira hora, o seu assombroso crescimento e desenvolvimento sob a ação do Espírito vivificador.

Uma terceira raça, que se desprenderia do judaísmo e se oporia ao paganismo, insere-se agora nos rumos da História, não sem embates dolorosos que se estendem, sangrentos, até o advento de Constantino. Ao longo dos primeiros quatro séculos, o período abrangido por este volume, vamos acompanhando a ação dos Apóstolos, principalmente dessas colunas da Igreja que foram São Pedro e São Paulo; a gesta de sangue dos mártires; o perfil dos grandes santos e dos primeiros forjadores das letras e das artes cristãs; o desenrolar do culto, da liturgia da Missa e da piedade; a formação dos quadros – sempre dentro do marco de uma sociedade que vemos desagregar-se numa lenta agonia, numa exaustão que talvez se esteja repetindo nos tempos atuais, mas que, também como hoje, se abre em última análise à esperança da “revolução da Cruz”.

É todo um processo de revezamento, a que não faltam as sombras dos conflitos internos e o claro-escuro dos erros que se prenunciam. Num retrato vivo da natureza humana, afloram os lapsi e todo o painel desconcertante das heresias e dos sectarismos, que no entanto conduziram à formulação da teologia cristã e aos grandes Concílios da primeira era, e de que a Igreja saiu robustecida na sua autoridade e unidade.

Desta encruzilhada decisiva para os destinos da humanidade, Daniel-Rops oferece-nos, com inusitada perfeição de estilo, uma análise que prende pela sua exatidão e leveza, mas, sobretudo pelas linhas de reconstituição, que permitem apreciar objetivamente o poder prodigioso da fé na renovação das instituições por dentro, quando individual e coletivamente se têm os olhos postos no Senhor que ultrapassa a História e se vive com a esperança fincada nas promessas da vida eterna.

terça-feira, 19 de maio de 2009

COMO A IGREJA CATÓLICA CONSTRUIU A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

Título original: How the Catholic Church Built Western CivilizationAutor: Thomas E. Woods Jr.
Tradução: Élcio Carillo
Editora: Quadrante
Assunto: História geral
Edição: 1ª
Ano: 2008
Páginas: 222

Se perguntarmos a um estudante universitário o que sabe do contributo da Igreja Católica para a sociedade, a sua resposta talvez se resuma a uma palavra: “opressão”, por exemplo, ou “obscurantismo”. No entanto, essa palavra deveria ser “civilização”.

Sinopse: Neste livro, Thomas Woods mostra como toda a civilização ocidental nasceu e se desenvolveu apoiada nos valores e ensinamentos da Igreja Católica. Em concreto explica, entre outras coisas - por que o milagre da ciência moderna e de uma filosofia que levou a razão à sua plenitude só puderam nascer sobre o solo da mentalidade católica; como a Igreja criou uma instituição que mudou o mundo - a Universidade; como ela deu uma arquitetura e umas artes plásticas de beleza incomparável; como os filósofos escolásticos desenvolveram os conceitos básicos da economia moderna, que trouxe para o Ocidente uma riqueza sem precedentes; como o nosso Direito, garantia da liberdade e da justiça, nasceu em ampla medida do Direito canônico; como a Igreja criou praticamente todas as instituições de assistência conhecidas, dos hospitais à previdência; como humanizou a vida, ao insistir durante séculos nos direitos universais do ser humano - tanto dos cristãos como dos pagãos - e na sacralidade de cada pessoa.

Num momento em que se propaga uma imagem da Igreja como inimiga dos progressos da ciência e da técnica, e da liberdade de pensamento, este é um livro que desfaz preconceitos, corrige clichês e ensina inúmeras verdades teimosamente omitidas no ensino colegial e universitário.


ASSISTA O VÍDEO

sábado, 16 de maio de 2009

ESPERANDO GODOT

Assista ao filme (completo) no final da sinopse!

Título original: En attendant Godot
Autor: Samuel Beckett (1906-1989)
Tradução: Fábio de Souza Andrade
Assunto: Drama
Editora: Cosac Naify
Edição: 1ª
Ano: 2005
Páginas: 237

Sinopse: Na história, dois vagabundos aguardam infinitamente, num descampado, a vinda do senhor Godot, que nunca aparece.

Dado este nó dramático, tão estrito que não permite peripécia, desfecho ou catarse, a espera e a angústia de Vladimir (Didi) e Estragon (Gogô), repetem-se ao infinito, ora como tragédia, ora como farsa.

Obs.: A expressão "Esperando Godot" era bastante utilizada em tempos passados para indicar algo impossível, ou uma espera infrutífera.

A obra: Trata-se de uma peça de teatro, escrita originalmente em francês, em 1949, e publicada em 1952. Em 1955 Samuel Beckett publicou a versão escrita em inglês.

O enredo: O enredo baseia-se na falta de comunicação entre os personagens e na pausa do silêncio da espera de algo que não se resolve.

A peça é dividida em dois atos. Nos dois atos, contracenam dois personagens: Vladimir e Estragon. Durante cada um dos atos, que são semelhantes na estrutura, surgem dois novos personagens: Pozzo e Lucky. Além destes, entra em cena no final de cada ato um garoto.

Em um lugar indefinido dois amigos se encontram: Estragon e Vladimir. A primeira frase dita na peça, por Estragon, já indica a inutilidade da presença deles naquele lugar:"nada a fazer". Eles lá se encontram para esperar um sujeito de nome Godot. Nada é esclarecido a respeito de quem é Godot ou o que eles desejam dele. Os dois iniciam um diálogo trivial que só será interrompido quando da entrada de Pozzo e Lucky. O aparecimento destes assusta os amigos, ainda mais pelo modo como os dois vêm: Pozzo puxa uma corda que na outra ponta está amarrada ao pescoço de Lucky. Lucky por sua vez carrega uma pesada mala que não larga um só instante. Entende-se pela situação que Pozzo é o patrão e Lucky seu criado. Os quatros trocam palavras, cada um com seu drama pessoal, até que Pozzo e Lucky saem. Em seguida, entra um garoto para anunciar que quem eles estão esperando - Godot - não viria hoje, talvez amanhã. Fim do primeiro ato.

O segundo ato é a cópia fiel do primeiro. O cenário é o mesmo, a menos da árvore que está um pouco diferente, com algumas folhas. Estragon e Vladimir voltam para esperar Godot, que talvez apareça nesse dia. Iniciam outro diálogo trivial, interrompido outra vez pela chegada de Pozzo e Lucky. Só que, inexplicavelmente, Pozzo está cego e Lucky está surdo. Dialogam. Após a partida destes, aparece um garoto (diferente do garoto do primeiro ato) anunciando que Godot não viria hoje, talvez amanhã. Pensam em se enforcar na árvore, mas desistem, ante a impossibilidade do ato ser simultâneo. O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte:

Vladimir: - Então, devemos partir?Estragon: - Sim, vamos.Eles não se movem.

Análise da Obra: O que a peça significa? O prof. José Monir Nasser diz que a peça se cerca de grande mistério e poucas informações. Nós não sabemos quem é Godot, quem são os dois vagabundos Vladimir e Estragon, onde eles efetivamente estão, salvo que ao lado de uma árvore, sobre o que falam e porque esperam Godot que eles próprios não sabem. Tampouco sabemos muita coisa sobre Bozzo e Lucky ou sobre o menino. Enfim, tudo está envolvo num enorme mistério e muita desinformação.

Por essa razão, a peça apresenta inúmeras interpretações. Algumas sem sentido algum, outras equivocadas e outras com algum sentido, mas parcial.

Quem é Godot? Algumas especulações atribuem a God (Deus). Entretanto, o próprio Beckett proibiu, expressamente, essa interpretação alegórica, embora ele mesmo não tenha dado muita ajuda para interpretação da sua obra. A exemplo de Camus, Beckett não tinha muito interesse de ajudar os seus interlocutores sobre o que estava acontecendo ali.

Temos quatro personagens centrais – Vladimir (Didi), Estragon (Gogô), Pozzo e Lucky – e uma personagem secundária – o menino que aparece apenas como uma intervenção de que Godot existe.

As duplas Vladimir/Estragon são mais importantes, porque estão o tempo todo esperando Godot. A dupla Pozzo/Lucky, nunca espera Godot.

As duas duplas, Vladimir/Estragon e Pozzo/Lucky são diferentes. A primeira dupla é horizontal, ou seja, não há hierarquia entre seus elementos, enquanto a segunda é vertical, pois existe hierarquia entre Pozzo e Lucky.

O mais contrastante entre as duas duplas é a consciência. Não que a primeira dupla – Gogô/Didi – tenha a compreensão do que esteja acontecendo, mas eles têm uma preocupação maior. Por outro lado, Pozzo/Lucky não tem a mesma preocupação da primeira dupla.

Falando simbolicamente, na verdade, eles são quatro personagens centrais. A análise simbólica do “quatro” representa o resumo das possibilidades existenciais de qualquer coisa que seja.

O quatro representa:

- Os quatro Pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste);
- As quatro Estações do ano (Primavera, Verão, Outono e Inverno);
- Os quatro Elementos da matéria (Água, Terra, Fogo e Ar);
- Os quatro Estados da matéria (Sólido, Liquido, Gasoso e Plasma);
- Os quatro Cavaleiros do apocalipse (Violência, Guerra, Fome e Morte);
- Os quatro Evangelistas (Marcos, Mateus, João e Lucas);
- Os quatro Temperamentos (Sanguíneo, Colérico, Melancólico e Fleumático)

Portanto, o quatro na peça não é mera coincidência, porque quando você olha para as possibilidades existenciais de alguma coisa, você olha para quatro direções, sempre.

Quando se olha para os quatro elementos, o Vladimir parece mais correlacionado ao elemento “Ar”. O Estragon parece correlacionado ao elemento “Água”. O Pozzo parece mais correlacionado com o elemento “Fogo” e o Lucky parece mais com o elemento relacionado a “Terra”.

Quando se olha para os quatro temperamentos, o Vladimir parece de temperamento “melancólico”, o Estragon parece o “fleumático”, o Bozzo parece “colérico” e o Lucky parece “sangüíneo”. De alguma maneira eles se encaixam, razoavelmente bem, nessa classificação dos quatro temperamentos.

Isso apenas para dar um exemplo de que essas quatro personagens podem ter aí um sentido simbólico por serem quatro e por serem quem são.

A simbologia da personagem ajuda mas não resolve o problema, porque no fundo continuamos não entendendo nada da história, mesmo que tenhamos sido capazes de perceber a simbologia dos quatro elementos e dos quatro temperamentos muito claramente nas quatro personagens existentes na peça.

Mas, se não esclarece tudo, pelo menos ajuda a concluir que esses quatro, de alguma maneira, representam como potência e como modelo a humanidade inteira. Esses quatro são uma descrição dos quatro tipos humanos possíveis, aqueles tipos básicos dos quais serão construídas as misturas hibridas. É como se essas quatro pessoas representassem um resumo, uma síntese da humanidade inteira.

Qual o problema que essas quatro personagens têm? Os problemas que eles têm são diferentes, mas de alguma maneira eles compartilham de um conjunto de problemas. Comecemos primeiro com a dupla Vladimir/Estragon, que são as personagens centrais da história.

Os dois estão num impasse o tempo todo: “Vamos embora?” – “Não, porque estamos esperando Godot”. Em nenhum momento acontece alguma coisa. Nunca nada dá certo. O resultado dessa vida humana que está aí, é a IMOBILIDADE, a INAÇÃO (falta de ação, indecisão, inércia).

INAÇÃO é o sinônimo de morte. Os gregos costumavam dizer que o inferno é um lugar frio e não um lugar quente. Porque é a frieza, a falta de calor e o gelo que são correspondentes a INAÇÃO e não o calor. O calor é o contrário, é extremamente produtivo, faz um automóvel andar, uma caldeira funcionar, as plantas crescerem. O frio, por sua vez, está associado com a pausa, silêncio, a perda de ação. Por isso que os antigos diziam que a morte está associada ao frio e não ao calor.

O resultado prático dos acontecimentos da peça é a PERDA DA AÇÃO, pois tudo que acontece é completamente inútil. Todos os acontecimentos geram NADA. Tudo fica na mesma, fica tido igual. Portanto, o resultado prático é a perda da capacidade de ação representada na última frase da peça: “Então, vamos embora.”“Vamos lá”. E eles não se mexem.

As personagens não são capazes de se mexer, de produzir algum ato que seja de fato capaz de gerar uma conseqüência qualquer. Eles gastam suas energias todas em: tirar o sapato e botar o sapato, bater no Lucky, tentar, inutilmente, levantar o Pozzo do chão. Essas atividades que eles fazem o tempo todo e não parece ser alguma atividade produtiva que tenha geração alguma concepção, a renovação de alguma coisa.

A concepção que temos é que tudo é mais ou menos inútil. Há uma sensação de desânimo permanente e sistêmico que passa por toda a peça.

O objetivo de Beckett foi transmitir à platéia a sensação de angústia que toda pessoa normal deveria sentir.

Eles esperam Godot, mas ele não vem. Eles continuam esperando sem saber quem é ele e sem saber para que o esperam. Há uma desesperança absoluta, uma sensação de que não há o que fazer, de que não se pode fazer nada de verdade. Eles transmitem à platéia a sensação de que tudo é inútil e nada tem sentido.

Portanto, a peça mostra um clima muito claro de desesperança, falta de sentido daquilo que eles estão fazendo.

Aristóteles, na “Poética” faz uma maravilhosa descrição que depois foi sistematizada por um grande crítico literário chamado Northrop Frye, no seu livro “Anatomia da Crítica”. Aristóteles dizia que, quando se estuda a personagem do herói (no conceito grego), pode-se classificá-lo em cinco graus de poder. Cada grau de poder é chamado de modo (expressão aristotélica).

Cinco Graus de Poder das Personagens:

1) Modo Mítico: é o poder da personagem divina. Só se aplica a alguém que não está no mundo humano. Ela pode fazer o que bem entender.

2) Modo Lendário: tem diferença de natureza em relação a personagem mítica, porque ela não é Deus, é um ser humano. Portanto, é um ser humano que é capaz de fazer coisas sobre-humanas, ou seja, muito acima da média do ser humano. Ex.: o profeta.

3) Modo Imitativo-alto: é aquele ser humano que tem como diferença com o anterior, menor intensidade de poder. Redução da intensidade do poder. Não fala com Deus, com pássaros, não faz clarividência. Não é tão poderoso quanto um profeta, mas é capaz de fazer coisas muito acima dos seres humanos normais.

4) Modo Imitativo-baixo: é o ser humano comum que é capaz de fazer coisas normais. Uma pessoa comum que é capaz de uma certa quantidade de ação. Somos nós.

5) Modo Irônico: está abaixo da média. Não consegue ter ação alguma sobre o mundo. Não consegue ter a mesma capacidade de se relacionar com o mundo como uma pessoa normal poderia. Ex.: Vítimas de uma situação, tramóia, conspiração etc. Prometeu é um exemplo típico de um sujeito Irônico. Raskolnikov começa como Imitativo-alto e termina como Irônico.
Nota: Não se trata da capacidade mental do indivíduo, mas sua capacidade de promover uma ação que possa mudar alguma coisa no mundo.

Didi e o Gogô são personagens tipicamente irônicos, o que significa que eles são incapazes de qualquer tipo de ação. Eles não conseguem nem saber qual é o dia da semana. Não são capazes nem de tirar um bota. Um deles está sempre querendo ir embora, mas ele esquece que estão esperando Godot. Ele não consegue lembrar nem a razão pela qual eles estão ali.

Por outro lado, o Pozzo é imitativo-baixo, enquanto o Lucky é irônico.

Vladimir e Estragon são personagens irônicas, porque o modo irônico é a base da literatura moderna, ou seja, esse lixo que está aí pululando nas prateleiras das livrarias e bancas de revistas.

Beckett quer nos mostrar com a peça “Esperando Godot”, o quanto o homem moderno está se tornando IRÔNICO.

É o sujeito que não consegue fazer nada mais. É como se houvesse um congelamento total do poder de ação humana, que está representado por essa idéia de,

- Vamos !
- Sim, vamos.

E ninguém sai do lugar.


GODOT NÃO É DEUS ! MAS É UMA POSSIBILIDADE DE SENTIDO EXISTENCIAL E “ESPERANDO GODOT” É UMA HISTÓRIA EXISTENCIALISTA.



Sobre o autor:
Dramaturgo, romancista e poeta irlandês, Samuel Beckett nasce em Dublin, Irlanda, no dia 13 de abril de 1906. Estuda na Portora Royal School, em Einiskillen, e depois no Trinity College, em Dublin. Em 1928 é nomeado lecteur de inglês na École Normale Supérieure de Paris e conhece James Joyce. A partir de 1945, começa a traduzir suas primeiras obras para o francês e a escrever poemas e novelas nessa língua. Samuel Beckett morre em 22 de dezembro de 1989, em Paris.
Samuel Beckett (Foto: 1932).



O FILME (COMPLETO E LEGENDADO)
 
 

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O SABER DOS ANTIGOS - Terapia para os tempos atuais

Título original: Saggezza ântica – terapia per i mali dell´uomo d´aggi
Autor: Giovanni Reale
Tradução: Silvana Cobucci Leite
Assunto: Filosofia – ensaio estrangeiro
Editora: Edições Loyola
Edição: 2ª
Ano: 2002
Páginas: 264

Sinopse: O livro “Saber dos Antigos” traça uma espécie de itinerário dos males que nos afligem hoje, mostrando como a sabedoria antiga da filosofia clássica grega revela as formas de “cura” do mal estar contemporâneo. Estas “terapias” podem aliviar a dor e o sofrimento pela reflexão das verdades eternas que o niilismo de nosso tempo ajudou a esquecer.

Giovanni Reale demonstra que na sabedoria clássica grega estão as verdades eternas que o mundo esqueceu.


Reale resume em dez itens os males atuais:

1. o cientificismo e o redimensionamento da razão do homem em sentido tecnológico;

2. o ideologismo absolutizado e o esquecimento do ideal do verdadeiro;

3. o praxismo, com sua exaltação da ação e o esquecimento do ideal da contemplação;

4. a proclamação do bem-estar material com sucedâneo da felicidade;

5. a difusão da violência;

6. a perda do sentido da forma;

7. a redução do Eros à dimensão do físico e o esquecimento da "escala de amor" platônica (e do verdadeiro amor);

8. a redução do homem a uma única dimensão e o individualismo levado ao extremo;

9. a perda do sentido do cosmos e da finalidade de todas as coisas;

10. o materialismo em todas as formas e o esquecimento do ser, a ele vinculado.
A cada capítulo, Reale apresenta um destes males e uma terapia correspondente baseada nos ensinamentos dos antigos. É uma viagem às várias dimensões da vida humana e como os gregos tratavam estes temas. Lições valiosas para aqueles que quiserem escutá-las.
Com o niilismo descrito por Nietzsche e redefinido por Heidegger, a sociedade atual tem mergulhado numa desintegração valorativa em direção a horizontes desconhecidos da prática, do produzir e do agir. Para onde estamos caminhando? Não sabemos. Somente que tudo aponta para uma destinação de desintegração social. A solução está na terapêutica administrada pelo antigo pensar: a sabedoria antiga.
Em suma: Trata-se de um livro excepcional, de leitura simples e conteúdo didático, para ser transformado em "livro de cabeceira". Vivendo em uma sociedade dominada pelo tecnicismo, temos esquecido, a cada dia, as bases históricas que nos asseguraram a viabilidade da nossa sociedade fundamentada em alguns domínios do nosso universo simbólico, onde estão situadas as idéias que são as bases de nossa tradição ética, política, estética e religiosa.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A REBELIÃO DAS MASSAS

Autor: Jose Ortega y Gasset (1883-1955)
Tradução: Marylene Pinto Michael
Assunto: Filosofia
Editora: Martins Fontes
Edição: 2ª
Ano: 2002
Páginas: 300

"A Rebelião das Massas", obra prima de José Ortega y Gasset, começou a ser publicado em 1926 num jornal madrilenho ("El Sol").
José Ortega Y Gasset avalia o homem médio quanto a sua capacidade para continuar a civilização moderna e quanto à sua adesão à cultura. Tentando responder a questões como 'quem manda no mundo', ele discute a atitude do homem médio ante a civilização e a cultura.
Explica por quê o homem contemporâneo enxerga cultura como bem de consumo e não como bem cultural.


A obra retrata as grandes transformações do século XX, especialmente na Europa, com ênfase no processo histórico de crescimento das massas urbanas. Não se refere às classes sociais, mas às multidões e aglomerações. Tendo esse contexto como pano de fundo, Ortega discute temas, aparentemente contrários entre si, mas que se fundem (ou devem fundir-se) numa unidade de sentido. É assim que contrapõe individualismo e submissão ao coletivo; comunidade, nação e estado; história, presente e porvir; homens cultos e especialistas; poder arbitrário e respeito à opinião pública; juventude e velhice; guerra e pacifismo; masculino e feminino.
O autor afirma que nossa época é, antropologicamente, dominada pelo homem-massa: criatura encolhida em sua própria cápsula vivencial. Este menospreza e detesta tudo o que não se lhe assemelha, ou seja, todos os homens que buscam a própria superação. O homem-massa é herdeiro de todas as consecuções da Tradição, mas, desdenha do passado, pois, toma a civilização como a um fato da vida, auto-suficiente e inexorável. Assim, desconhece o que é a civilização, não faz idéia do que ela provém e nem do que se mantém. Ignora as noções mais elementares da Democracia, imaginando-a como um regime plebiscitário. O homem-massa quer fazer crer que é merecedor de todas as benesses, e, que suas elucubrações e palpites valem por verdade, a despeito de qualquer razão. Se imagina em condições de colher os frutos da civilização, ao mesmo tempo em que, dissolve seus elementos constitutivos e elimina suas condições objetivas de existência — em suma, precipita a sociedade na barbárie do pensamento teúrgico e dos laços tribais.

São tópicos que, inevitavelmente, nos induzem à reflexão crítica. Em alguns casos são apresentados de forma extremamente provocativa.

Referindo-se ao poder do dinheiro, minimiza seu significado e afirma:

"É, talvez, o único poder social que ao ser reconhecido nos repugna. A própria força bruta que habitualmente nos indigna acha em nós um eco último de simpatia e estima. Incita-nos a rechaçá-la criando uma força paralela, mas não nos inspira asco. Dir-se-ia que nos sublevam estes ou os outros efeitos da violência; porém ela mesma nos parece um sintoma de saúde, um magnífico atributo do ser vivente, e compreendemos que o grego a divinizasse em Hércules."

Discutindo o fato de que os antigos gregos expressavam certo desprezo pelas mulheres, acaba por concluir que estas acabaram se masculinizando:

"A Vênus de Milo é uma figura másculo-feminil, uma espécie de atleta com seios. E é um exemplo de cômica insinceridade que tenha sido proposta tal imagem ao entusiasmo dos europeus durante o século XIX, quando mais ébrios viviam de romanticismo e de fervor pela pura, extrema feminilidade. O cânone da arte grega ficou inscrito nas formas do moço desportista, e quando isto não lhe bastou preferiu sonhar com o hermafrodita."

Sobre a guerra, chega a afirmar:

"O pacifismo está perdido e converte-se em nula beateria se não tem presente que a guerra é uma genial e formidável técnica de vida e para a vida."

Sua interpretação do modelo escravista é bastante sugestiva:

"Do mesmo modo, costumamos, sem mais reflexão, maldizer da escravidão, não advertindo o maravilhoso progresso que representou quando foi inventada. Porque antes o que se fazia era matar os vencidos. Foi um gênio benfeitor da humanidade o primeiro que ideou, em vez de matar os prisioneiros, conservar-lhes a vida e aproveitar seu labor."

São essas aparentes contradições que estimulam nosso espírito crítico. Ortega defendeu suas concepções com vigor, fundamentos sólidos e uma lógica irrepreensível. Em poucos momentos foi totalmente conclusivo, mas deixou uma enorme abertura para que possamos repensar as idéias que legou sobre o futuro da humanidade.